Moedas deixa cair projeto para feira popular. “Parque como a Disney não vai acontecer”

O autarca de Lisboa deitou por terra promessa de Medina em 2015. Presidente da Junta acusa abandono dos terrenos.

É oficial: não vai haver Feira Popular em Carnide e o anúncio de Carlos Moedas caiu mal em diferentes setores. O presidente da Câmara Municipal de Lisboa anunciou que vai abandonar o projeto, inicialmente proposto pelo Executivo de Fernando Medina, em 2015, quando o socialista anunciou a mudança da Feira Popular de Lisboa para um conjunto de terrenos junto ao Bairro Padre Cruz, em Carnide.

“Esse projeto de um parque de diversões, a realidade é que nunca foi conseguido. Deve haver uma razão para isso, e a razão é que esse tipo de parques de diversão no centro de cidade não fazem o mesmo sentido que faziam no passado”, explicou o autarca de Lisboa, em declarações à Renascença, continuando: “Podemos ter diversão, podemos ter uma parte do parque com alguns equipamentos para esse tipo de diversão, mas não podemos ter um parque, como foi pensado de forma errada, como a Eurodisney. Isso não vai acontecer”.

O anúncio não foi, no entanto, surpresa, estando já previsto no programa eleitoral de Carlos Moedas, que foi eleito presidente da CM de Lisboa em 2021. Em vez disso, o Executivo camarário tem planos para avançar com o parque verde nos terrenos previstos para a Feira Popular agora ‘cancelada’. Aliás, o mesmo prevê “transformar o atual projeto da Feira Popular, para prever um novo Parque Urbano, com equipamentos de lazer e desporto, incluindo uma nova piscina exterior natural em Carnide, de grande dimensão, ambientalmente inovadora”, conforme se pode ler no programa. O projeto inicial, que estevem em consulta pública em 2019, já previa o parque verde em construção, com 16,9 hectares, com uma área a concessionar à instalação de diversões.

Abandono Fábio Sousa, presidente da Junta de Freguesia de Carnide, em declarações a diferentes meios de comunicação, queixou-se principalmente do mau estado em que se encontram os terrenos inicialmente indicados para acolher a Feira Popular, onde as obras estão paradas há cerca de um ano.

Ainda assim, o líder desta freguesia lisboeta disse não discordar dos planos de construção de um parque verde. “Eu não me oponho, obviamente, à construção do parque verde, e então se vier acompanhado de equipamentos para usufruto da população, sejam eles desportivos, como uma piscina, equipamentos desportivos e equipamentos sociais, obviamente que não me oponho a nada disso”, disse, citado pela Lusa, contrapondo estar preocupado sim com uma correta utilização dos 10 hectares de terreno em prol do bem estar da população. “Foi essa, inclusive, a posição que eu transmiti ao presidente da Câmara. Disse que não estávamos cá para complicar, obviamente, e que o que queríamos era que, de facto, aquilo fosse uma grande oportunidade. (…) Ou seja, o que nós queremos é que o projeto [qualquer] que seja para aquele território seja uma grande oportunidade de desenvolvimento local”.

BE e PS não gostaram O anúncio de Carlos Moedas gerou reações várias, entre elas as do Bloco de Esquerda. “As declarações de Carlos Moedas sobre o abandono do projeto da Feira Popular em Carnide são inaceitáveis”, acusa o partido, lembrando que a antiga Feira Popular de Lisboa, em Entrecampos, nas Avenidas Novas, “foi durante seis décadas uma referência para várias gerações de lisboetas que ali encontravam um espaço de diversão, lazer e festa”.
Os bloquistas recordam que, em 2003, “fruto da enorme pressão imobiliária sobre os terrenos de Entrecampos”, essa mesma Feira Popular acabou por fechar, e lamenta que o projeto apresentado em 2015 caia por terra, já que “este equipamento, pelas suas características, serviria a população de Lisboa e não apenas os turistas”.

“Se a ideia de Carlos Moedas avançar, as famílias e as crianças de Lisboa ficam com menos equipamentos e perdem-se os milhões que se previam de investimento”, aponta o Bloco, recordando que estava previsto inicialmente um investimento de 70 milhões de euros.

Também o PS se mostrou contra a decisão de Carlos Moedas, acusando o autarca de não ter “uma visão de cidade e, muito menos, uma ambição para Lisboa”, razão pela qual “já pouco resta do seu programa eleitoral, sendo rara a semana que não deixar cair uma das bandeiras”.

“Desistir da Feira Popular, mais a mais sem qualquer sustentação como fez hoje Carlos Moedas, representa uma quebra com o imaginário afetivo da cidade, a história de Lisboa e as pretensões dos lisboetas”, considerou o PS. 
Nos últimos, a despesa da câmara relacionada com a construção do Parque Verde da Nova Feira Popular ascende já a várias dezenas de milhares de euros.