Marcelo Rebelo de Sousa é um dos nove chefes de Estado do Grupo de Arraiolos que ainda não se deslocaram em visita oficial a Kiev, capital da Ucrânia, desde que eclodiu uma guerra naquele país, na sequência da invasão russa, a 24 de fevereiro deste ano.
Fonte de Belém adiantou ao Nascer do SOL que o Presidente da República mantém em aberto a possibilidade de realizar uma visita à Ucrânia, admitindo que possa até acontecer «na primeira metade do próximo ano», apesar de ainda não ter uma data fechada para uma eventual visita ao seu homólogo Volodymyr Zelensky.
A mesma fonte rejeita que o facto de a viagem não estar programada possa ter qualquer leitura política, até porque Marcelo terá abordado a hipótese de visitar Kiev aquando da visita da primeira-dama ucraniana emPortugal. O Presidente recebeu, no início de novembro, em audiência no Palácio de Belém Olena Zelenska, que esteve em Lisboa no primeiro dia da Web Summit, onde discursou.
Acrescentando ainda que a visita «terá que ser numa ocasião que se justifique», a mesma fonte da Presidência alega que Marcelo Rebelo de Sousa está a agurdar ainda o acerto de calendários com o gabinete do presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, uma vez que foi convidado em primeiro lugar: «Depois, logo se vê».
Na verdade, esta já tinha sido a principal justificação apontada pelo chefe de Estado português, em maio, quando o primeiro-ministro, a partir de Kiev, comunicou aos jornalistas que o chefe de Estado ucraniano, Volodymyr Zelensky, tinha convidado Marcelo a realizar uma visita à Ucrânia.
Na altura, o Presidente admitiu a possibilidade de ir a Kiev se e quando o Governo entendesse adequado, realçando que o presidente do Parlamento já tinha sido convidado.
«Se eu vier a ser convidado, terei de ajustar com o Governo, porque o Governo conduz a política externa. Terei de ajustar com o senhor presidente da Assembleia da República, que já tinha dito que tinha sido convidado», declarou, sublinhando que no caso do presidente da Assembleia da República havia «uma questão de retribuição».
«O Presidente Zelensky falou para o Parlamento, foi convidado pelo Parlamento. Compreende-se que haja um convite ao presidente do Parlamento», reiterou.
O Presidente ucraniano discursou em abril na Assembleia da República, numa mensagem curta, onde destacou a violência das forças russas contra a população ucraniana, agradeceu o apoio português à Ucrânia e reforçou o apelo para travar a Rússia de destruir a democracia dos países do leste da Europa. Esta foi a primeira vez que um chefe de Estado interveio por vídeoconferência no Parlamento português.
Já em maio, no final de uma reunião realizada por videoconferência com o presidente do parlamento da Ucrânia, a pedido de Ruslan Stefanchuk, Santos Silva revelou que tinha aceitado o convite do seu homólogo ucraniano para se deslocar «proximamente» a Kiev, numa viagem em que deverá ser acompanhado por uma delegação parlamentar.
«Em primeiro lugar, o presidente do Parlamento da Ucrânia reiterou o convite para minha deslocação a Kiev, e eu mais uma vez aceitei esse convite», afirmou Augusto Santos Silva, adiantando que essa visita iria acontecer logo que fosse «oportuno» e as condições assim o permitissem.
Até agora, apenas o primeiro-ministro, António Costa, e o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, se deslocaram em visitas oficiais ao país em guerra há quase dez meses.
Durante a sua presença na capital ucraniana, em maio, no plano institucional, António Costa teve a oportunidade de reunir com o Presidente Zelensky, com quem deu uma conferência de imprensa conjunta, antes de visitar a embaixada de Portugal em Kiev, mas também se encontrou com o seu homólogo, Denys Shmygal, de quem partiu o convite formal para que visitasse a Ucrânia.
O líder do Executivo português foi acompanhado pelo secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, Francisco André, e pelo embaixador de Portugal na Ucrânia, António Alves Machado. Nessa ocasião, assinou, no final da reunião com o primeiro-ministro ucraniano, um acordo para a concessão de um apoio financeiro de 250 milhões euros à Ucrânia, dos quais 100 milhões foram transferidos ao longo deste ano através de uma conta da Ucrânia no Fundo Monetário Internacional. Os restantes 150 milhões de euros serão transferidos para o Estado ucranianos ao longo dos três próximos anos.
Já em agosto, foi a vez de o ministro dos Negócios Estrangeiros português visitar a capital ucraniana para reunir com o seu homólogo ucraniano, Dmytro Kuleba. Na altura, João Gomes Cravinho disse sentir-se «honrado» por ter estado em Kiev no Dia da Independência da Ucrânia, data que marcou também os seis meses da invasão russa, em curso desde fevereiro.
Agenda preenchida
Não é novidade que o Presidente da República é conhecido por ter uma agenda muito preenchida, tendo nos últimos meses dado prioridade a visitas oficiais aos Estados Unidos, Brasil, Qatar (para assistir a um jogo da seleção nacional no Mundial) ou mais recentemente a Cabo Verde. Ainda sem programar a ida à Ucrânia, Marcelo está entre os poucos chefes de Estado europeus que ainda não se deslocaram ao país desde que as tropas do Presidente Vladimir Putin atacaram o território ucraniano.
Do Grupo de Arraiolos, que reúne vários chefes de Estado de países da União Europeia, além de Marcelo Rebelo de Sousa, outros oito presidentes ainda não puseram pé na Ucrânia, uns por questões de idade ou falta de oportunidade, outros pelas suas posições ambíguas em relação à Rússia.
Nesta lista constam o Presidente de Itália, Sergio Mattarella, o Presidente da Bulgária, Rumen Radev, o Presidente da Irlanda, Michael Higgins, o Presidente da Croácia, Zoran Milanovic, o Presidente de Malta, George Vella, o Presidente da Áustria, Alexander van der Bellen, o Presidente da Eslovénia, Borut Pahor, e ainda o Presidente da Finlândia, Sauli Niinistö.
Entre os chefes de Estado que já visitaram Kiev (são sete no total) contam-se o Presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, que se deslocou à Ucrânia em outubro; o Presidente da Estónia, Alar Karis, que foi em abril, poucas semanas depois de o país ter sido invadido; a Presidente da Eslováquia, Zuzana Caputová, já em maio; a Presidente da Grécia, Katerina Sakellaropoulou, no início de novembro; o Presidente da Letónia, Egils Levits, em setembro; a Presidente da Hungria, Katalin Novak, no final de novembro; e o Presidente da Polónia, Andrzej Duda, que já esteve na Ucrânia em cinco visitas oficiais este ano, uma delas por ocasião do Dia da Independência, na mesma altura da deslocação de Gomes Cravinho àquele país.