Crise apanha Montenegro de férias

Miguel Pinto Luz e Paulo Rangel foram chamados para colmatar a ausência do líder do PSD, apanhado pela crise em plenas férias com a família no México. Comissão Política reúne na segunda.

Após as eleições legislativas de janeiro já se contam três  alterações nas lideranças partidárias. Outro partido vai mudar de líder em breve. E as mudanças podem não ficar por aqui: no calendário do próximo ano estão as convenções eletivas de Bloco de Esquerda e do PAN, sem que para já haja certezas quanto à continuidade de Catarina Martins, que sofreu uma derrota pesada nas últimas eleições, ou de Inês Sousa Real, cuja oposição interna tem vindo a exigir uma mudança de política.

 

PSD
Luís Montenegro

Com uma derrota clara do PSD nas legislativas de janeiro, o então líder dos sociais-democratas, Rui Rio, colocou o lugar à disposição. Na corrida à sua sucessão apareceram Luís Montenegro e Jorge Moreira da Silva. O antigo líder parlamentar do PSD saiu vitorioso nas diretas, prometendo afirmar uma «alternativa» ao partido do Governo e um partido «unido».

Certo é que seis meses passados desde a sua entronização, há quem ainda faça a pergunta: «Onde anda o líder do maior partido da oposição?».

A ausência de intervenções de Luís Montenegro tem vindo a ser notada  pelos comentadores que acompanham as dinâmicas internas dos sociais-democratas. O facto de estar de fora da Assembleia da República também não joga a seu favor. E para agravar a situação, a escolha de Joaquim Miranda Sarmento para líder da bancada social-democrata no Parlamento também não convence os deputados. A primeira falha foi na sua estreia perante o debate com o primeiro-ministro, mas a insatisfação dos parlamentares do PSD com Miranda Sarmento subiu de nível após a sua indicação por email para que a bancada votasse favoravelmente no nome de  Rui Paulo Sousa indicado pelo Chega para vice-presidente da Assembleia da República.

O tema da eutanásia também pareceu reabrir feridas nas hostes ‘laranjas’ que pareciam saradas com a saída de Rio. Entre recursos para tentar impor um referendo à despenalização da morte medicamente assistida, o artigo do antigo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho a contestar a ideia de referendo avançada por Luís Montenegro e a pressionar o PSD a comprometer-se, desde já, a reverter a lei assim que chegar ao poder,  incomodou manifestamente a liderança social-democrata. Foi a primeira querela pública entre os dois.

De férias na Riviera Maya (México) em plena crise no Governo, o presidente do PSD deixou os seus vices Paulo Rangel e Miguel Pinto Luz a postos para o que desse e viesse. Mas foi surpreendido com a queda de Pedro Nuno Santos – visto como o seu adversário ideal numas próximas legislativas–, sendo obrigado a antecipar o seu regresso a Portugal para reunir a Comissão Permanente Nacional do PSD na próxima segunda-feira, dia 2 de janeiro, na sede nacional do partido.

Marcadas para 2023, as eleições regionais na Madeira podem ser o primeiro teste de Luís Montenegro.

 

CDS
Nuno Melo

O CDS, que perdeu a representação parlamentar nas últimas legislativas, viu Francisco Rodrigues dos Santos a abandonar a liderança e Nuno Melo a consagrar-se como novo presidente do partido, conseguindo dois terços do Conselho Nacional e uma maioria em todos os órgãos do partido, aos quais trouxe, nas suas listas, um regresso do portismo há quase três anos afastado da linha da frente dos centristas.

Apesar das circunstâncias pouco favoráveis, o CDS tem-se mantido ativo e quer mostrar trabalho para poder estar em condições de disputar sozinho qualquer processo eleitoral.

Tendo isso em mente, a direção de Nuno Melo tem promovido eleições internas para manter estruturas com dinamismo no plano nacional e local e está a abrir portas a altos quadros e independentes para os grupos programáticos criados no congresso estatutário de julho, em Aveiro.

 

PCP
Paulo Raimundo

O PCP surpreendeu tudo e todos quando Jerónimo de Sousa anunciou que estava de saída, pedindo ao Comité Central para ser substituído nas funções de secretário-geral do partido que ocupava há 18 anos. O nome escolhido foi Paulo Raimundo, de 46 anos, membro do Comité Central, e um desconhecido do grande público e da maioria dos analistas políticos.

Há um mês na liderança, Paulo Raimundo tem intensificado a sua presença mediática, num registo muito pouco habitual para o ortodoxo PCP. Desvinculado das posições do seu antecessor no que se refere à guerra na Ucrânia, o novo secretário-geral tem dado a conhecer quem é o ‘proletário’ à frente da máquina comunista.

Apesar das diferenças na comunicação, espera-se uma continuidade na política que poderá não representar uma alteração significativa em termos eleitorais.

 

Iniciativa Liberal
Carla Castro v. Rui Rocha

Apesar do crescimento nas urnas da Iniciativa Liberal, João Cotrim de Figueiredo – tido como o líder partidário mais popular na política portuguesa – optou por abandonar a liderança, abrindo caminho às  eleições marcadas para janeiro, que vão encontrar o quarto líder da curta história de seis anos dos liberais. O duelo opõe Rui Rocha, que tem como trunfo os apoios da ala Cotrim, e Carla Castro, que aposta no apoio das bases do partido. A campanha, em pausa durante a época natalícia, ia arrancar de novo em janeiro, esperando-se a apresentação das moções estratégicas dos dois candidatos. Contudo, o partido parece mais ocupado com a polémica na TAP, tendo anunciado uma moção de censura ao Governo.