Líder da bancada da IL contrata mulher para o partido

A Iniciativa Liberal também está a braços com situações de nepotismo e compadrio. Mónica Coelho, mulher de Rodrigo Saraiva, passou a ser remunerada pelo partido a partir de outubro de 2019, por uma prestação de serviços.

A Iniciativa Liberal teceu duras críticas aos casos de familiares no Governo mas, agora, está também a braços com acusações internas de nepotismo, compadrio e clientelismo nos órgãos de direção do partido. Ao que o Nascer do SOL apurou, o dilema eleitoral entre as listas de Carla Castro e Rui Rocha está também na gestão destes casos. Aliás, parte da motivação da saída de João Cotrim de Figueiredo prende-se com a forma como deixou de ter controlo sobre o partido. O Nascer do SOL sabe que o ainda presidente do IL – tal como Carlos Guimarães Pinto, em 2019 – gostava do cargo de líder mas não da gestão interna do partido. Sendo que ambos delegaram esse controlo do aparelho e da atividade partidária a Rodrigo Saraiva, entretanto promovido a líder parlamentar após as legislativas de 2022, que já fora secretário-geral da JSD e pertencera ao MPT. Miguel Rangel, atual vice-presidente, e Ricardo Pais de Oliveira completam o controlo da máquina partidária – o primeiro como secretário-geral e o segundo como vice-presidente mais responsável pela redes e pela ‘estética’ liberal.

Ao que o Nascer do SOL apurou, do ponto de vista interno, o desafio de João Cotrim de Figueiredo era saber como manter o controlo do partido. E, tal como o Nascer do SOL avançou em dezembro, o descontentamento nas estruturas partidárias levou ao aparecimento de cinco listas para o Conselho Nacional. 

Também as contas do partido têm sido uma dor de cabeça. Aliás, na apresentação de contas em 2021, o líder do partido disse aos conselheiros que a sua não aprovação era uma questão de ‘deslealdade’. Numa primeira versão, apresentou perdas de 114 mil euros, tendo depois publicado lucros de quase 28 mil euros.
Os desafios colocam-se também do lado do Conselho Nacional, em que era necessário ‘eliminar’ as listas de oposição que exigiam maior transparência. Isto porque este órgão controla o orçamento, as listas e a mensagem política dos liberais. A lista B (liderada por Nuno Simões de Melo) e a lista D (anteriormente liderada por José Cardoso) afirmavam-se como oposição direta à Comissão Executiva. As listas T e S, lideradas respetivamente por Miguel Ferreira da Silva e Cristiano Santos, pugnavam por uma mudança mais suave e sem ruturas.

As dores de cabeça colocam-se também ao nível da Comissão Executiva. O Nascer do SOL sabe que os atuais dirigentesconsideravam necessário afastar Carla Castro, Catarina Maia, Vicente Ferreira da Silva, Rafael Corte-Real e Paulo Carmona, uma vez que são vistos como defensores de mudanças. Já  Rui Rocha é apontado como de continuidade e conta com o apoio público de Cotrim Figueiredo – comentando-se entre as listas da oposição que esse apoio resulta da troca por cargos chave no controlo do partido. 

O mais relevante será o caso de Rodrigo Saraiva e da sua mulher Mónica Coelho. Aliás, o Observador deu a entender em recente entrevista com o líder parlamentar liberal que Saraiva é uma ‘espécie de candidato sombra’.

O membro da Comissão Executiva e atual líder parlamentar da Iniciativa Liberal contratou Mónica Coelho através de uma empresa que terá sido criada para este efeito. Em causa está a empresa Proposta Emergente Unipessoal Lda. e, apesar de não ser detentor de capital, Rodrigo Saraiva declarou à Assembleia da República ter interesse nesta sociedade. A Proposta Emergente Unipessoal Lda. foi fundada assim que o partido teve financiamento público, a partir de 6 de janeiro de 2020, e tem prestado serviços ao partido desde essa data até 2022, altura em que foi liquidada.
A empresa foi criada para prestar serviços de consultoria e de assessoria de comunicação, relações públicas e gestão e formação. Este pelouro de imagem e comunicação foi da responsabilidade de Mónica Coelho na vice-presidência da comissão executiva de João Cotrim para o mandato de 2019 a 2021. 

Confrontada com estes factos, a direção do partido esclareceu que «Mónica Coelho trabalhou desde 2017 a 2019 na Iniciativa Liberal como voluntária, a custo zero, passou a ser remunerada em outubro de 2019, através de prestação de serviços, tendo passado a trabalhar a tempo inteiro na Iniciativa Liberal em 2022, após a eleição dos 8 deputados». Na altura destes factos, Rodrigo Saraiva era o chefe de gabinete do então deputado único. 

Para o período de 2021 a 2022, Mónica Coelho já não se encontrava na vice-presidência do partido, mas Rodrigo Saraiva era vogal não executivo da comissão de João Cotrim Figueiredo. 

Ao Nascer do SOL, o gabinete do líder parlamentar da IL disse que, «no que respeita à Comissão Executiva, Rodrigo Saraiva foi eleito no final de 2021, como vogal». E acrescentou que não tinha «qualquer pelouro atribuído, tal como todas as pessoas da Comissão Executiva que exerciam ou exercem funções na Assembleia da República, nomeadamente como deputados, pelo que nunca contratou a cônjuge». 

Já a direção do partido refere que «este percurso de crescimento fulgurante da Iniciativa Liberal teve um contributo determinante do trabalho, empenho e profissionalismo de Mónica Coelho».

Mas os casos de relações familiares entre quadros da IL não ficam por aqui. Também Francisco Simões (coordenador do núcleo territorial de Almada e membro do conselho nacional ) conta com uma ligação com Joana Cordeiro (atual deputada e candidata vogal da comissão executiva), assim como Maria Malhão (membro do núcleo de Lisboa) e Bruno Mourão (tesoureiro do conselho executivo e candidato vogal do conselho executivo) e de Pedro Almeida (vogal do conselho executivo e também candidato ao mesmo cargo) com Eunice Quintas (coordenador do do núcleo territorial de Loures e membro do conselho nacional). O mesmo acontece com Ana Martins (vogal do conselho executivo e Jorge Teixeira (assessor na Assembleia da República) e com Patrícia Gilvaz (deputada da Assembleia da República e coordenadora territorial de Matosinhos) e João Figueiredo (membro do conselho nacional e coordenador do núcleo territorial de Gondomar). 

Na lista de Carla Castro é também conhecida a sua ligação com Filipe Charters de Azevedo, autor do livro «Uma nova Lei de Bases da Saúde: uma proposta liberal».