PSD. Cara ou coroa após as Europeias?

Sem conseguir afirmar-se ainda como alternativa ao Governo do PS, o PSD de Luís Montenegro começa a ver surgir os primeiros movimentos de insatisfação. Com Carlos Moedas a polarizar descontentamentos. Mas o presidente da Câmara também soma reparos à forma como tem alinhado à esquerda em Lisboa.

Há pouco mais de meio ano na liderança do PSD, o caminho de Luís Montenegro não tem sido livre de percalços. Primeiro, foi um processo de revisão constitucional que deixou deputados  de fora. Depois, foi o confronto público com Pedro Passos Coelho a propósito da morte medicamente assistida. A abstenção na moção de censura ao Governo também não ajudou. E, por fim, o envolvimento de Joaquim Pinto Moreira, ex-presidente da Câmara de Espinho e vice-presidente da bancada do PSD, na Operação Vórtex colocou as escolhas da sua direção em cheque.

O momento de desgaste vivido pelo Governo de António Costa deveria ser música para os ouvidos da nova liderança social-democrata. Mas nem nas sondagens Luís Montenegro deslumbra. Aliás, segundo o estudo da Aximage divulgado na última semana, é até atropelado pelo presidente do Chega, André Ventura, na liderança da oposição e da direita.

Apesar de ter uma direção blindada e a funcionar a uma só voz, um coro de críticos internos vai ganhando forma sobretudo no grupo parlamentar do PSD. E não faltam desabafos de sociais-democratas que acreditam que Montenegro “ainda não conseguiu pôr o partido a liderar a oposição” e “não está preparado para assumir funções governativas”. Portanto, “o melhor é começar a pensar numa alternativa capaz de levar o partido de novo ao poder”.

Improvável Ainda falta muito tempo para o primeiro teste de Montenegro – as eleições europeias de 2024. Mas os avisos vão sendo deixados aqui e ali. 

Com a capacidade de analista da vida política que lhe é há muito reconhecida, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa foi certeiro nas palavras quando justificou o porquê de não querer agora eleições antecipadas: “Não é claro que surgisse uma alternativa evidente, forte e imediata.”

Luís Marques Mendes, comentador político dominical na SIC, também não usou meias palavras e reconheceu que “o PSD ainda não é visto como alternativa no país”. “É bom que acelere a construção de uma alternativa, até porque 2023 é um ano muito decisivo para o PSD”, referiu há duas semanas no seu habitual espaço de comentário. Ao i, reforça agora o aviso: “Se o PSD não ganhar força em 2023, pode enfrentar em situação de fragilidade as eleições europeias”.
É com esta meta temporal em mente que no partido se vai começando a fazer planos para encontrar uma figura de futuro. Num cenário em que não haja eleições antecipadas e em que o PSD saia derrotado das eleições para o Parlamento Europeu, ou até mesmo que “ganhe por poucochinho”, Carlos Moedas posiciona-se como principal challenger de Luís Montenegro. 

A seu favor tem o facto de ter conseguido de forma surpreendente aquilo que muitos diziam ser impossível: derrotar Fernando Medina e o PS na autarquia de Lisboa, sendo aqui uma peça chave para a reabilitação da imagem da governação social-democrata na era pós passismo.

A única complicação que se colocaria à partida seria uma questão de gestão de calendário. Se se quisesse candidatar à liderança do PSD teria de o fazer no segundo semestre de 2024, mas as próximas autárquicas são em 2025.
Contudo, o presidente da Câmara de Lisboa nunca se comprometeu com uma recandidatura à autarquia e também nunca abriu o jogo sobre as ambições que tem ou não para a liderança do partido. Certo é que nos bastidores sociais-democratas há quem defenda que Moedas deve seguir as mesmas pisadas de António Costa, que abdicou de Lisboa após disputar com António José Seguro a liderança do PS, depois de o seu partido ter tido uma vitória muito tímida, nas europeias de 2014. 

Ainda assim, se para muitos Luís Montenegro ainda não deu cartas como líder do PSD, também não é líquido que Carlos Moedas seja a figura de que o partido e o país precisam. Até porque ao fim de pouco mais de um ano de mandato na Câmara de Lisboa já conta vários episódios que causaram polémica. 

Sejam as isenções de impostos de quase cinco milhões de euros aos festivais Kalorama e Rock in Rio, a estátua de homenagem ao general Vasco Gonçalves, a retirada dos outdoors de todos os partidos políticos do Marquês de Pombal, o recuo numa das suas promesas eleitorais – apagar as faixas para ciclistas na Avenida Almirante Reis -, ou ainda a troca de bitaites com o primeiro-ministro a propósito das cheias de Lisboa. A esta extensa lista junta-se ainda a recente participação do autarca lisboeta nas ‘Cristina Talks’, a polémica palestra motivacional de Cristina Ferreira, cujas críticas também atingiram Moedas por arrasto. 

Para não bastar, sabe-se agora que a SRU – Sociedade de Reabilitação Urbana, empresa da autarquia lisboeta que está a requalificar o Parque Tejo, adjudicou o altar-palco onde o Papa Francisco vai celebrar a missa final da Jornada Mundial da Juventude à construtora Mota Engil (por mera coincidência a empresa cujo conselho de administração passou a contar recentemente com o antigo líder do CDS, Paulo Portas) por 4,2 milhões de euros, sendo que a obra foi adjudicada por ajuste direto, apesar do elevado valor.

Moreira da Silva na sombra Enquanto não se vislumbra uma alternativa no PSD de Montenegro, há mais uma figura que vai marcando terreno. Jorge Moreira da Silva, a única figura que não se juntou à atual direção social-democrata após as últimas diretas, aproveitou o clima de instabilidade na governação para criticar o “imobilismo” na oposição. “Os partidos da oposição não arriscam a apresentação de alternativas e limitam-se a um registo de combate”, escreveu num artigo de opinião publicado no Expresso, sem mencionar o PSD, mas no qual apresentou um novo projeto para promover uma discussão pública sobre novas políticas e reformas para Portugal. A crítica ao  adversário que o derrotou nas últimas diretas do partido não podia ser mais… direta.