PS. Costa mais isolado

‘A jogada foi de mestre’ sejam quais forem as consequências futuras. A opinião é consensual entre todas as tendências do PS. E se Pedro Nuno Santos teme pelo futuro. Sérgio Sousa Pinto e Francisco Assis são nomes de peso para dar corpo a uma alternativa a Costa. A estratégia está em marcha.

O grupo que representa a ala mais moderada dos socialistas tem-se reunido frequentemente com o objetivo de garantir um espaço dentro do partido. Este grupo aposta no regresso do Partido Socialista à sua matriz de origem. É com esse horizonte que António José Seguro, Álvaro Beleza, Francisco Assis e Sérgio Sousa Pinto se têm encontrado, tentando dar corpo a uma alternativa dentro do partido. Para estes socialistas, a opção de António Costa, ao assumir o confronto com Marcelo, foi uma estratégia para o primeiro-ministro ‘ganhar tempo’.  «A partir de agora vamos ter um segundo round da coabitação Cavaco/Soares», garantem.  E, se apostam num agravamento da conflitualidade entre Belém e São Bento, também afastam por completo a hipótese de uma crise política na sequência do caso Galamba.

O grupo dos moderados acredita que António Costa vai aproveitar o reforço da sua posição para apostar em dois cenários. Ganhar o fôlego necessário para gerir um bom resultado nas europeias e conquistar o desejado lugar de presidente do Conselho Europeu. Caso o objetivo de Bruxelas não seja conseguido, acreditam estes socialistas, Costa fica até 2026 e, se chegar lá, recandidata-se nas eleições seguintes para mais um mandato em S. Bento.

Aconteça o que acontecer, o grupo de que fazem parte os presidentes do CES e da SEDES já decidiu que vai a jogo nas próximas eleições a secretário-geral, para se posicionar no partido como alternativa a António Costa e à ala esquerda do partido. Em cima da mesa, sabe o Nascer do SOL, estão os nomes de Sérgio Sousa Pinto, à cabeça, e de Francisco Assis – um dos dois irá candidatar-se contra Costa ou contra um candidato que surja da ala liderada por Pedro Nuno Santos / Duarte Cordeiro.

Na linha de garantir um espaço que volte a recentrar o Partido Socialista, foi-nos também assegurado que este grupo procura um candidato à Presidência da República alternativo a Augusto Santos Silva. Caso não encontre nenhum nome bem posicionado, estes socialistas insatisfeitos com o rumo que o partido tem vindo a seguir encaram mesmo a hipótese de poder apoiar um candidato mais à direita, como Passos Coelho ou Marques Mendes.

Duarte Cordeiro é o senhor que se segue à esquerda?

O grupo que está ao lado de Pedro Nuno Santos olhou para o passo em frente de António Costa com apreensão.

Também entre estes socialistas da ala mais à esquerda do partido, grande parte deles com assento parlamentar, ninguém acredita que o braço de ferro entre Belém e São Bento vá acabar numa crise política mais imediata.

Os indefetíveis do antigo ministro – que está em silêncio desde que saiu do Governo – e foi substituído por João Galamba e Marina Gonçalves –, acreditam que a oposição e o Presidente vão apostar tudo nos estilhaços da Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP. E essa aposta tem uma vítima que pode ficar ferida de morte: Pedro Nuno Santos. É por isso que esta ala começa já a olhar para Duarte Cordeiro como o nome mais bem posicionado para uma candidatura à liderança dos socialistas no pós-António Costa.

O cenário criado na sequência da reação do chefe do Governo à crise Galamba deixa muitas dúvidas aos ‘pedro nunistas’.

A reentrada em jogo de António Costa pode deixar o cenário da sucessão com um horizonte mais longínquo, porque demonstra que o secretário-geral do PS está ainda longe de programar a sua reforma.

Estes socialistas consideram que, apesar do efeito negativo dos trabalhos da Comissão de Inquérito à TAP, António Costa pode beneficiar, nos próximos meses, dos efeitos de resultados económicos mais positivos do que seria de esperar. Se assim for, e a economia fizer mesmo a diferença, o PS pode ter um bom resultado nas europeias – e aí ninguém se arrisca a prever o que quererá fazer o líder socialista.

 

Costa está para dar e durar

Entre os indefetíveis de António Costa, embora cada vez menos, ninguém esconde a surpresa com a resposta que o primeiro-ministro deu à crise que agitou o país nos últimos dias.

«Quando muitos temiam que isto fosse o início do fim, ele virou o jogo»”, diz-nos um socialista que sublinha a forma como, com este gesto, o líder socialista voltou a ganhar autoridade para dentro e para fora do partido e do Governo, pelo menos no curto prazo.

Os apoiantes do secretário-geral ficaram satisfeitos por não ter havido uma remodelação governamental fazendo mais uma vez a vontade ao Presidente da República, que não se tem poupado a críticas ao Governo e reiterado as ameaças de uma dissolução da Assembleia da República com consequente convocação de eleições antecipadas.

O risco, acreditam, foi ter optado por manter João Galamba em funções.

Os apoiantes de António Costa temem que, ao ter ligado a avaliação da sua decisão ao desempenho futuro de João Galamba, o primeiro-ministro está a arriscar demais, tendo em conta as fragilidades do ministro das Infraestruturas.

Agora, aguarda-se com tensão os desenvolvimentos dos trabalhos na Comissão de Inquérito à TAP, esperando que o ministro das Infraestruturas não junte novas trapalhadas às que já ocorreram.

Seja como for, garantiram-nos ao longo da semana, não havendo crise política na sequência dos acontecimentos desta semana, a tendência é para esvaziar o balão, porque o Presidente da República vai deixar de contribuir para o ambiente de instabilidade.