As máquinas dos Antónios

Até Setembro, António José Seguro e António Costa vão andar em campanha por todo o país a tentar convencer os socialistas que são o melhor candidato a primeiro-ministro e a líder do PS. No terreno, as máquinas começam a carburar.

As máquinas dos Antónios

António Costa congrega os críticos da actual direcção e vários nomes próximos de José Sócrates. Numa bancada parlamentar traçada pelo ex-primeiro-ministro, Seguro sempre teve dificuldades em domar os mais críticos, nomeadamente em questões como o Código do Trabalho, o Tratado Orçamental ou a forma como ignorava a herança do anterior governo.

Enquanto secretário-geral do PS, Seguro chamou a si nomes até então pouco conhecidos no partido e que tentam agora rivalizar com os pesos-pesados que apoiam o presidente da Câmara de Lisboa. 

O núcleo-duro de Costa…

No núcleo-duro de Costa está uma nova geração de políticos, entre os 30 e os 40 e poucos anos, que inclui alguns ex-líderes da JS: Pedro Nuno Santos, Duarte Cordeiro e Sérgio Sousa Pinto.

Pedro Nuno Santos, que dirigiu a JS entre 2004 e 2008, é o actual líder da Federação de Aveiro e um elemento do círculo político de Costa. Em 2011, as polémicas declarações sobre o não pagamento da dívida pública levaram-no a chocar com o então líder parlamentar, Carlos Zorrinho, e a sair da vice-presidência da bancada. Voltou depois com Alberto Martins. Licenciado em Economia, é de uma ala no PS que defende alianças à esquerda, nomeadamente nas legislativas. 

O sucessor de Pedro Nuno Santos na liderança da JS foi Duarte Cordeiro, também economista. É o actual líder da concelhia de Lisboa, vereador na Câmara da capital e um homem do terreno que conhece bem o aparelho socialista. 
Já Sérgio Sousa Pinto pertence ao núcleo político de Costa. Foi considerado um enfant terrible durante o guterrismo e liderou a JS durante seis anos (1994-2000). Foi o único a estragar o unanimismo do último Congresso do PS – que uniu Seguro e Costa depois da candidatura gorada deste – e a tecer duras críticas internas. 

Marcos Perestrello, que foi braço-direito de Costa na Câmara de Lisboa,  é outro nome que consta do inner circle costista. É o presidente da Federação de Lisboa, uma das maiores, e foi secretário de Estado no governo de Sócrates. 

É este grupo – juntamente com o deputado João Galamba, também apoiante do autarca, e Pedro Silva Pereira, que tem sido discreto e ainda só se manifestou a favor do Congresso – que se costuma sentar na última fila da bancada do PS, no Parlamento, e tem causado algumas dores de cabeça a Seguro. 

Já Ana Catarina Mendes, da mesma geração, será a pessoa mais operacional e responsável pela agenda de António Costa. Tem sido deputada em várias legislaturas e defendido temas considerados fracturantes, como o aborto, o casamento gay e a adopção por casais homossexuais. 

Já Jorge Lacão, ex-ministro de Sócrates que era para ser director de campanha na 'quase candidatura', em 2013, e Carlos César, ex-presidente do Governo Regional dos Açores, são nomes de peso próximos de Costa. Lacão demitiu-se do Secretariado Nacional para fazer pressão para a marcação de um Congresso, enquanto César foi dos primeiros a criticar os resultados do PS nas europeias, antes mesmo do lançamento de Costa para a liderança. 
Costa conta ainda com apoios importantes, como os ex-ministros Vieira da Silva, Augusto Santos Silva e João Cravinho. 

… e o de Seguro

Desde os tempos da JS que os apoiantes de Costa são adversários dos de Seguro. Um braço-direito de Seguro desde essa altura é António Galamba, ex-governador civil de Lisboa, que ficou de fora nas últimas listas de deputados. No final do mês passado, trocou acusações com o outro Galamba (João, apoiante de Costa), sobre um Congresso. “É preciso desplante chegar há pouco tempo ao PS e querer acusar de falta de coragem quem tem anos de combate político pelo PS”, afirmou António Galamba.  

Já o deputado Miguel Laranjeiro, que foi assessor de imprensa de António Guterres, tem no actual Secretariado as funções de Organização, Administração e Finanças. Conhece como ninguém o pulsar do 'aparelho'.
Óscar Gaspar e Eurico Brilhante Dias são a dupla económica. O primeiro tem as pastas das Finanças Públicas e Economia e foi o único assessor permanente remunerado com que Seguro contou nos dois primeiros anos. Esteve nos governos de Guterres e Sócrates. Já Brilhante Dias é professor universitário e também aconselha Seguro sobre assuntos económicos, além de ser o porta-voz desta área. Foi administrador da AICEP, entre 2007 e 2011. 

No núcleo político, Seguro conta ainda com Álvaro Beleza, médico, seu amigo de longa data e que o aconselha sobre questões sociais e de saúde pública. Concorreu à liderança do PS, contra Guterres, em 1992. Nos últimos tempos, funciona como porta-voz político, com crescente visibilidade.

Do lado das federações, Seguro tem um apoio precioso: José Luís Carneiro, líder da maior Federação socialista, o Porto. É também o Presidente da Associação Nacional dos Autarcas Socialistas e presidente da Câmara de Baião. 
Em matéria de assessoria política e de imprensa, Seguro conta com uma equipa no Largo do Rato e ainda com o ex-assessor de Sócrates, Luís Bernardo. Costa tem a 'máquina' da Câmara de Lisboa. 

sonia.cerdeira@sol.pt