“António José Seguro tende a ter a ideia que tudo começa com ele e que também depois dele não haverá nada” começou Costa, referindo que das 80 medidas do Contrato de Confiança que Seguro apresentou antes das Europeias, há muitas “banalidades”, “medidas ambíguas” e sobretudo propostas que não são novas. “Pedi comparação das 80 medidas com programa do PS de 2009 e verifiquei com satisfação que a maioria já lá constava”. E rematou: “Só seis medidas, seis medidas e meia, não constavam”.
Costa tentou ao longo do debate assumir a herança do PS, nomeadamente dos governos de José Sócrates, acusando o adversário de rejeitar o passado. “Seguro gosta de excluir o passado”, disse. O secretário-geral, irritado, respondeu, “eu não enjeito nenhum passado do PS. Mas também não trago nenhum passado de volta”. Costa surgiria de novo ao ataque, quando Seguro invocou o seu plano de reindustrialização como algo novo: «Seguro gasta mais energias a combater o anterior governo que o actual. É por isso que aceita que plano de reindustrialização é decorrência do plano tecnológico”. Mais uma defesa de Sócrates, por Costa, algo que se repetiria ao longo do debate.
Quando Seguro disse que do seu programa consta a revisão da lei eleitoral, Costa atalhou, que faz parte do programa do PS desde 1005. “Ate fui eu que apresentei”, disse.
O presidente da câmara de Lisboa fez questão de mostrar que tinha propostas, rebatendo a crítica de ter uma candidatura sem conteúdo programático. Defendeu um “programa de fisioterapia” no combate à pobreza e na recuperação da economia. Seguro, sarcástico, observou: “Afinal já tens propostas!”.
Apesar de o tom dos ataques ter baixado, com o aproximar do fim do debate na SIC, moderado por Clara de Sousa, as farpas sucederam-se. António Costa disse que Seguro “fala muito de acordo com o que dão as agências de comunicação” e que se andou muito pelo país não teve resultados: “fizeste muitos quilómetros mas fizeste pouco”. O adversário retorquiu que Costa se deixou “ficar à janela do município” e que se “julga um predestinado”, mas que ele, Seguro, se preparou para governar.
António Costa aproveitou o minuto final para uma ironia que deixou Seguro, que já tinha falado, e não podia replicar, de cara fechada: “Queria saudar o António José Seguro por hoje não ter despejado ataques pessoais. Pelo primeiro dia deste um bom contributo para o debate”. Como no primeiro frente-a-frente, ontem, os candidatos trataram-se por tu. Mas agora com Costa assumir esse tratamento com mais frequência.
Costa intensificou os ataques aos três anos de liderança de Seguro. Criticou o adversário por não ter assumido como prioritário o dossier dos fundos comunitários (defendo de caminho um reforço dos fundos estruturais) e por ter deixado que o Governo fizesse uma reforma “disparatada” das freguesias, contra a vontade dos municípios. Aqui deixou uma proposta: se for Governo, deixará que os municípios tenham “liberdade” de mudar alterações das freguesias.
Um dos pontos mais controversos versou a questão da dívida pública. Instado a revelar se cumpre as metas do défice, Costa respondeu: “sem crescimento não resolveremos o défice e a dívida”. E voltando-se para Seguro disse que ele “resolveu assumir a tese da direita por razões internas, para se demarcar do interior Governo, tendo ficado refém” da direita. Esta acusação motivou um dos momentos mais tensos do debate: “Não falseies de novo a verdade”, disse Seguro. Costa disse que as pessoas poderiam “ir de novo ver ao YouTube” (uma referência ao debate de ontem, em que o edil de Lisboa pôs em linha imagens suas, para contestar que tivesse tido duas posições sobre o OE de 2012). Perante a interrupção de Seguro, Costa disse que o ouvia com “evangélica paciência”. O episódio terminou com o actual secretário-geral a dizer que era ele que tinha esperado três meses para que Costa aceitasse debates na televisão.
Como ontem, o frente-a-frente terminou com a questão das coligações. Costa disse que recusa cingir os acordos aos partidos “do arco da governação”, expressão que inclusive rejeita. E não excluiu Marinho Pinto de entendimentos.