Primárias: Seguro ainda atrás

Seguro não conseguiu dar a volta. A última vaga de inscrições de simpatizantes foi quase uma avalanche, mas deixou os costistas mais calmos. A ofensiva de Seguro, com entrega de milhares de fichas, terá sido contrabalançada por mais inscrições online e nas sedes de apoiantes de Costa. 

Primárias: Seguro  ainda atrás

Ao SOL, Duarte Cordeiro, operacional da campanha costista, está certo da vantagem do presidente da Câmara de Lisboa.”Estamos muito confortáveis. Não acredito que exista algum distrito em que não tenhamos forte apoio”, diz. 
A confiança na vitória não dispensa um sentido de alerta, que faz Duarte Cordeiro desconfiar da existência de irregularidades nas inscrições em papel, em algumas distritais e concelhias controladas por apoiantes de Seguro.

“Vamos fazer uma mega-operação de fiscalização em alguns concelhos”, avisa, caracterizando como “muito agressiva” a vigilância que será feita. Um dos casos suspeitos apontados é o de Santo Tirso, um concelho do Porto onde entraram cerca de 3 mil fichas de inscrição, um número muito superior às adesões online que não passaram de 450.

Semana final de tensão

Esta fiscalização representará mais um ponto de atrito numa semana final de campanha que se prevê tensa. A apresentação de uma nova lei eleitoral por Seguro, que reduz os deputados de 230 para 180, já veio incendiar a bancada do PS. 

A proposta, assinada por Seguro, pelo líder parlamentar Alberto Martins e pelo vice António Braga, foi sobretudo contestada pelos sectores socrático e costista. “Se eu fosse deputado, teria de me recusar a subscrever uma proposta tão canhestra, contraditória nos seus termos, cujo debate só servirá para humilhar o PS”, diz o ex-ministro Augusto Santos Silva. No Facebook, aconselha: “Caro António José Seguro, veja se consegue parar de ferir o Partido Socialista no que de mais valioso ele tem: a credibilidade”.

Há ainda acusações de “oportunismo” e “deslealdade” do campo costista. O deputado José Lello diz que “a estratégia de Seguro revela um grande nervosismo”. Alberto Martins, que foi um opositor da redução de deputados, ficou em situação delicada nesta crise e pediu ontem a Seguro uma reunião da Comissão Política, para discutir a reforma contestada pela sua bancada. A reunião acontecerá dois dias depois das primárias.

Debate importante

Na barricada costista aposta-se no efeito do último debate, marcado para terça-feira. Seguro, diz um apoiante, “não largará a postura atacante”, tentando repetir a vitória alcançada na TVI. “Não sei se os debates são decisivos, mas têm importância”, concede Duarte Cordeiro.

Mas António Costa parece desvalorizar a sua preparação. Fonte da campanha diz que “a agenda na Câmara de Lisboa é particularmente intensa no início da próxima semana”.

Os dois candidatos continuam a percorrer o país em acções de propaganda. Mas Costa manifesta preferência pelo Norte. O challenger de Seguro já tem preponderância no Centro e Sul do país – e, com a entrada de muitos simpatizantes no Porto, a região ganha uma nova importância. 

“Temos condições de ganhar no Porto e também em Braga”, confia Duarte Cordeiro. Já o director de campanha de Seguro, João Proença, aposta na “vantagem tendencial” na distrital portuense, liderada pelo influente José Luís Carneiro, um dos homens fortes do aparelho segurista.

O peso dos militantes 'inactivos'

Mas no dia 28 não serão apenas os 150 mil simpatizantes a poder votar. Os militantes podem ter uma palavra decisiva. Há três semanas, votaram 30 mil, 65% dos que tinham as quotas em dia. Dividiram-se entre Costa e Seguro, com ligeira vantagem para este último – que teve mais delegados eleitos para os congressos federativos que se realizam este fim-de-semana.

Mas nas primárias serão 90 mil os militantes com capacidade eleitoral para votar em Costa ou Seguro. Há 60 mil socialistas sem as quotas em dia, que estiveram impedidos de votar nas federações e voltam agora ao activo. “Há que convencê-los a participar nas primárias”, diz João Proença. 

O universo eleitoral total, entre militantes e simpatizantes, é de 240 mil eleitores. Com mais inscrições online, Costa terá de transformar o impulso inicial da maioria dos seus apoiantes em votos em urna.

manuel.a.magalhaes@sol.pt