Seguro do “insulto e populismo” vs Costa “do status quo”

O último confronto televisivo entre António José Seguro e António Costa foi inflamado com trocas de acusações e acertos de contas do passado a dominar o debate. 

Seguro do “insulto e populismo” vs Costa “do status quo”

“Se tu tivesses tido um décimo da agressividade que tens comigo com este Governo, o Governo já tinha caído. Não foste capaz de fazer frente ao Governo em nada. O que acabaste de fazer é uma coisa muito feia. Atacas-me por coisas que fazem os meus apoiantes”, respondeu Costa, já na parte final do debatem, depois de Seguro afirmar que uma das pessoas ligadas a interesses e a um “partido invisível” é Nuno Godinho de Matos, referindo que este apoiante de Costa demonstra a “promiscuidade entre o sistema financeiro e a política”. Numa entrevista ao jornal i, Godinho Matos admitiu que “entrava mudo e saía calado” das reuniões do BES, onde era administrador, e que estava lá apenas por “ligações políticas”.  

Costa partiu para o contra-ataque a Seguro. “O que já fizeste de concreto na vida para combater a corrupção?”, referiu o autarca de Lisboa, lembrando que alterou o Código Penal para “apertar a malha” a estes crimes, enquanto Secretário de Estado da Administração Interna. “Não estou aqui para receber lições. Quem recorre ao insulto e cede ao populismo não tem condições para ser secretário-geral e primeiro-ministro”, rematou.

Antes, Seguro tinha acusado Costa de ser “o candidato do status quo” por estar contra a proposta de redução do número de deputados. Uma proposta que tem tido muitas críticas dentro do PS porque, diz o líder dos socialistas, “para parte dos que estão instalados, nunca é boa altura para fazer mudanças”. Já Costa tem uma opinião diferente: afirmou que se trata apenas de uma “peça numa campanha eleitoral” porque Seguro “numa situação de desespero cedeu à tentação populista”.

O duelo ficou marcado pelos ataques pessoais mas também por um regresso ao passado. Em resposta ao jornalista da RTP que moderava o debate, José Adelino Faria, e que questionava quais as diferenças no programa de Costa para o de Seguro, Costa admitiu em tom de brincadeira: “Não temos que nos distinguir, temos a mesma gravata (vermelha), o mesmo clube (Benfica)…” Uma oportunidade que Seguro não deixou escapar, interrompendo o adversário: “Só prova que não se justifica a crise que António Costa criou no PS”.

Mais uma vez, Seguro optou pela vitimização e acusou Costa de não ter avançado no momento mais difícil, enquanto Costa afirmou ter estado “sempre disponível” para o PS. “Coragem para avançar nos momentos difíceis teve o Francisco Assis e eu”, disse Seguro. Costa acusou Seguro de “desde pequeno sonhar ser Secretário-Geral do PS”, enquanto ele encara o cargo como uma “missão e serviço” e justificou o facto de não ter avançado há três anos com a “situação financeira muito difícil” da Câmara de Lisboa, que tinha “uma reforma de freguesias por fazer”. “Agora é fácil fazer oposição, mas foi muito difícil”, desabafou Seguro”. “O difícil começa agora”, contrapôs Costa. Entretanto, José Adelino Faria ia insistindo: “Podemos olhar para o futuro?”. Mas sem sucesso.

Costa admitiu que “o factor personalidade é indiscutível” e que avançou devido ao “mau resultado” nas eleições europeias. O autarca de Lisboa mostrou um gráfico onde disse que os portugueses preferiam Pedro Passos Coelho a António José Seguro: “Não me conformo em oferecer a vitória à direita”. Seguro afirmou que é o líder com maior popularidade, segundo uma sondagem do Expresso e atacou Costa referindo que só veio disputar a liderança do PS porque o Memorando da troika terminou. “Fui um líder que no momento mais difícil avançou, não se refugiou e conseguimos trazer o PS das derrotas para as vitórias”, frisou Seguro. “Construíste uma narrativa que só tu mesmo acreditas”, respondeu Costa.

A primeira parte do debate foi onde se conseguiram ouvir algumas propostas de ambos os lados. Os dois candidatos concordaram que a reposição das pensões e dos rendimentos dos funcionários públicos deve acontecer mas dependerá do crescimento da economia. “não vendo ilusões”, disse Seguro que prometeu “diminuir o brutal aumento de impostos” e afirmou que “não é necessário despedimentos na Função Pública para ter um melhor Estado”. Já António Costa foi mais cauteloso: “Só assumirei compromissos concretos quando apresentar programa o programa de Governo, em Maio ou Junho”. Embora tenha concordado que necessário estabilizar os rendimentos das famílias e ter uma trajectória crescente das pensões e salário mínimo nacional.

 

sonia.cerdeira@sol.pt