Passos Coelho tem duas armas para reagir à eleição de António Costa: uma remodelação do Governo e o anúncio da renovação da coligação com o CDS. Mas as opiniões dividem-se quanto à estratégia e aos timings: no Governo, há quem defenda uma remodelação ainda antes do Orçamento e quem tema que tal possa ser visto como uma mera resposta ao novo líder socialista.
As últimas semanas deixaram marcas profundas em ministérios como a Justiça e a Educação, com Paula Teixeira da Cruz e Nuno Crato a aparecerem mais fragilizados e a darem força à necessidade de refrescar o Executivo. Mas tanto no PSD como no CDS a tese dominante é a de que se deve evitar que uma remodelação pareça uma reacção à vitória de Costa. E os dirigentes mais próximos de Passos acreditam mesmo que a remodelação poderá nunca vir a acontecer.
«António Costa vai obrigar o PSD a trabalhar mais», assume um membro da direcção de Passos Coelho. Mas os sociais-democratas estão apostados em puxá-lo mais para ‘jogo’ e obrigá-lo a falar.
Na campanha interna pela liderança do PS, sublinham, Costa não apresentou propostas nem quaisquer soluções alternativas. «A partir de agora as coisas serão diferentes», garante-se.
«Temos de ver o que Costa traz de novo», afirma outro dirigente social-democrata, que assegura que a nova liderança socialista «não altera rigorosamente nada» no que toca à renovação do acordo com o CDS. «É um assunto que não tem estado a ser discutido. Mas, quando chegar a hora, não hesitarei em defender que a coligação é a solução que mais defende o interesse nacional», acrescenta a mesma fonte.
A verdade é que a ascensão do ainda presidente da Câmara de Lisboa à liderança do PS também vai coincidir com um ponto de viragem para o Governo: se por um lado a maioria está apostada em demonstrar que os actuais sinais económicos positivos só foram possíveis porque o país percorreu o caminho difícil traçado, a partir de agora deverá mostrar como se pode evoluir. Ou seja, virar a página e apontar uma luz ao fundo do túnel, ao fim de três anos de austeridade.
‘Costa não é imbatível'
O Orçamento do Estado para 2015, que está a ser preparado (ver texto ao lado), já poderá ser utilizado pela maioria precisamente para dar alguns sinais positivos ao eleitorado – nomeadamente através do alívio da carga fiscal, como forma de mostrar que os sacrifícios dos últimos anos se justificaram e agora serão recompensados.
Já o CDS também admite que Costa será um bom candidato a primeiro-ministro e um adversário mais temível do que seria António José Seguro – até porque, como sublinha um dirigente centrista, «conseguiu manter-se nos últimos três anos à margem de tudo, sem comprometer com nada». Para o CDS, «António Costa não é imbatível», embora não deva ser subvalorizado.
A maioria PSD/CDS está atenta às movimentações de Costa e na expectativa do momento que o novo secretário-geral do PS escolherá para sair da Câmara de Lisboa – até para poder começar a comprometer o adversário nas próximas legislativas e forçá-lo a apresentar alternativas.
Costa é considerado muito mais bem preparado politicamente do que Seguro, mas sociais-democratas e centristas já preparam argumentário e armas para contra-atacar. Uma delas será o historial do novo líder do PS, que, dizem, é «especialista» em não levar os mandatos até ao fim – o que sucedeu quando saiu do Parlamento Europeu para ir para ministro da Administração Interna, no Governo de José Sócrates, e quando depois deixou esta pasta para candidatar-se às eleições intercalares na Câmara de Lisboa.