Ontem, foi Paulo Portas que garantiu que a sua disposição “para renovar a maioria é inequívoca e empenhada”. Na mensagem de Ano Novo, o líder do CDS dá, porém, a entender que os centristas não ficarão sentados à espera: “Faremos, no CDS, o nosso trabalho de casa” – uma alusão ao programa de Governo em que já trabalham.
De resto, nem os sociais-democratas nem os centristas dão como garantido um acordo. Após meses de avanços e recuos, são notórios o nervosismo e a desconfiança mútua. “Ninguém pode garantir neste momento que vai haver coligação ou não. Tudo depende de como correrem as negociações”, admite um membro da direcção de Passos Coelho.
PSD desconfia de Portas
Entre as bases sociais-democratas tem crescido a ideia de que o PSD devia ir sozinho a eleições. “Começa a haver a ideia de que é possível disputar sozinhos as legislativas e que a maioria absoluta se pode negociar depois”, comenta um deputado do PSD.
“Não se pode confiar em Portas. Quem garante que, se perdermos, mesmo com acordo pré-eleitoral, ele não se coliga com Costa?”, questiona a mesma fonte, lembrando que o CDS “tem tido sempre o discurso de ser o garante da governabilidade” e isso não exclui acordos com o PS.
Já no CDS, a demora em arrancar com o processo negocial leva os centristas a terem cada vez mais dúvidas de que uma nova coligação se venha a concretizar. “Já tive mais convicção de que ia haver coligação do que tenho hoje. Quanto mais tempo passa, menos acredito”, refere um destacado dirigente do CDS, que dá razão a Marcelo Rebelo de Sousa que ainda no domingo criticou a demora no anúncio da renovação do acordo. “Quanto mais tarde avançar, pior”, avisou Marcelo.
Esta semana PSD e CDS ficaram, porém, contentes com a mensagem de Natal do primeiro-ministro e com o apelo que Passos fez aos membros do Governo para que em 2015 se concentrem no país e evitem deslocações ao estrangeiro.
“Cai sempre bem no partido”, admite uma fonte do PSD, que gostou de ver Passos a elencar os feitos do Governo nestes três anos. “Estranho seria que o PM não pedisse aos dois partidos para se empenharem”, acrescenta um vice-presidente do PSD.
PSD e CDS congratulam-se com o tom optimista de Passos, mas rejeitam a ideia de eleitoralismo. Um dirigente do CDS diz mesmo que a mensagem de Natal foi o momento de “apresentar resultados, que até aqui não existiam” e não de fazer promessas.
Passos vai, de resto, querer manter a imagem de um líder mais preocupado com o país do que com as eleições. Mesmo que já não diga “que se lixem as eleições”, vai pôr a tónica na importância de não desperdiçar os sacrifícios feitos.
Com isso em mente, a campanha que se prepara terá um mote: “Não somos iguais aos outros”. O discurso assentará em três pilares: a importância da estabilidade governativa – com a Grécia a servir de exemplo pela negativa –, a prossecução do equilíbrio das contas públicas – com o fantasma do despesismo socialista – e a ideia do combate à corrupção, com a proposta de criminalizar o enriquecimento ilícito na agenda do arranque do ano.
“O que está em causa nas próximas eleições é voltar ao mesmo ou consolidar o que foi feito”, resume um deputado social-democrata, que admite que, a par do controlo da despesa pública, a corrupção poderá ser tema da campanha. Sem nunca referir o caso Sócrates, os sociais-democratas aproveitarão para debater a importância da fiscalização dos titulares de cargos públicos. Aliás, no PSD acredita-se que o impacto da detenção do ex-primeiro-ministro no resultado eleitoral “não será determinante”.