No debate quinzenal, na Assembleia da República, o presidente do Grupo Parlamentar do PS leu um conjunto de notas em que criticou o Governo pela sua actuação em temas como a Base das Lajes perante os Estados Unidos, sistema de justiça, urgências dos serviços de saúde, 'requalificação' na segurança social, caderno de encargos na privatização da TAP (e consequências em termos de liberdade sindical) e "discriminações positivas" em carreiras do Ministério das Finanças.
Nas suas intervenções, Ferro Rodrigues referiu-se ainda a alegadas contradições internas dentro do executivo em assuntos como o IRS, ou a política de descentralização.
"O senhor primeiro-ministro está isolado da administração pública e começam a sentir-se sinais de que as trapalhadas do seu Governo podem conduzir a um isolamento face às forças políticas que o sustentam. A situação política agrava-se de dia para dia", sustentou o líder da bancada socialista.
O primeiro-ministro usou então a ironia para responder a Ferro Rodrigues, dizendo que o líder parlamentar do PS "pretendeu para a comunicação social que o debate fosse sobre isolamento".
"Já percebi isso e até o ajudo nesse seu objectivo, porque o Governo não se importa de estar isolado se com isso estiver a servir o país. Eu sei que muitos outros políticos ficam preocupadíssimos, ansiosíssimos quando se sentem isolados, mas é preciso ter a coragem de não ter medo de ficar isolado para se chegar onde é preciso chegar", reagiu Passos Coelho, recebendo palmas das bancadas do PSD e do CDS.
Entre os vários pontos levantados no debate, Ferro Rodrigues criticou especificamente a actuação do Governo após os Estados Unidos terem decidido reduzir a sua presença na Base das Lajes, considerando que o executivo "não soube afirmar a defesa do interesse nacional".
"Hoje, neste debate, o primeiro-ministro procurou emendar a mão. O problema é que o senhor e o seu Governo estão a caminho do isolamento atlântico", sustentou Ferro Rodrigues – uma posição que Pedro Passos Coelho classificou como "lamentável".
"O PS está a usar esta questão, que deveria unir todos em Portugal, como uma arma de arremesso político partidário", contrapôs, assegurando que está a trabalhar com o Governo Regional dos Açores, executivo socialista, "para minimizar" os prejuízos resultantes da diminuição da presença norte-americana.
Outra questão levantada pelo líder da bancada socialista relacionou-se com a recente crise verificada nos serviços de urgência no período entre o Natal e o início do ano, atribuindo este caso às consequências da política de austeridade do Governo.
O primeiro-ministro rejeitou em absoluto essa tese, alegando que o seu executivo "pagou dívidas" na ordem dos 3,5 mil milhões de euros deixadas pelo anterior Governo socialista na saúde.
"Havia uma ameaça de cortar fornecimentos ao Sistema Nacional de Saúde, mas este Governo, além de pagar parte substancial das dívidas, procedeu à capitalização dos hospitais e realizou uma política, apesar das restrições, que não colocou em causa a qualidade e o volume dos serviços prestados", advogou.
No entanto, o primeiro-ministro reconheceu que nem tudo correu bem no final de 2014 nas urgências hospitalares.
"Tentámos que não houvesse consequências negativas no final do ano, mas isso, infelizmente, não aconteceu em toda a extensão tal como gostaríamos", disse.
Lusa/SOL