«Não devia ser assim. Passos devia estar mais resguardado», diz um membro do Governo, que admite que a exposição pode ter um efeito de desgaste que foi visível nos últimos dias com uma sucessão de casos.
Teixeira da Cruz e hepatite C deixaram PM na berlinda
Quando as afirmações de Paula Teixeira da Cruz sobre a despenalização das drogas leves fizeram estalar a polémica, foi Passos Coelho quem teve de esclarecer que a despenalização não faz parte do programa do Governo. Dias antes, para justificar o impasse na compra do medicamento para a hepatite C, o primeiro-ministro ficou também na berlinda. E há duas semanas tinha sido a vitória do Syriza na Grécia a obrigá-lo a ficar com o papel de reagir com o «conto de crianças», o que acabou por gerar uma onda de ataques.
No Executivo e no partido não há, porém, muitas esperanças de que a situação venha a mudar. Por um lado, acredita-se que não há no Governo quem possa assumir esse papel, por outro acredita-se que é difícil o primeiro-ministro escudar-se das perguntas dos jornalistas.
«Não se resolveu até agora e não se vai resolver até ao final do mandato», vaticina o mesmo membro do Governo, que admite que Poiares Maduro «não resultou» na função de ministro com a pasta da coordenação política e que o vice-primeiro-ministro não estará disponível para ficar com esse ónus. «Uma solução poderia ser Portas assumir esse papel», reconhece a mesma fonte, para concluir que o líder do CDS prefere evitar ficar no centro das polémicas.
No PSD, concorda-se com esta leitura. «Portas podia dar mais o corpo às balas, mas não se quer expor», aponta uma fonte do partido, explicando que o feitio de Passos também faz com que quase nunca deixe sem resposta as perguntas que lhe são feitas. «Está sempre muito disponível porque é esse o feitio dele, mas também porque entende que é o responsável máximo e tem de dar a cara».
A situação está, porém, longe de ser considerada ideal. «Faz estrago, claro. Tem implicações de desgaste», reconhece a mesma fonte, que preferia que o primeiro-ministro não somasse situações em que acaba por ser a cara das polémicas.
O líder da JSD, Cristóvão Simão Ribeiro, desvaloriza a «opinião pessoal» da ministra da Justiça sobre a despenalização das drogas leves e vê como natural a correcção feita por Passos para lembrar que a declaração de Paula Teixeira da Cruz «não é a posição do partido ou do Governo» sobre essa matéria.
«O primeiro-ministro tem um estilo muito próprio. Não se esconde atrás de ninguém», admite o líder da juventude social-democrata, sublinhando que o estilo de Passos é muito diferente do de José Sócrates. «Com Sócrates existiam uma ou duas figuras, como Santos Silva ou Silva Pereira, que protagonizavam o combate político. Se Passos fosse mais tacticista, faria o mesmo. Mas essa não é a sua forma de ser», defende Cristóvão Simão Ribeiro.
O problema da comunicação
A verdade é que a saída de Miguel Relvas do Governo deixou uma vaga na área da coordenação política que não foi preenchida. «Relvas cumpria essa função. Poderia ser Poiares Maduro a substituí-lo, mas isso não acontece. Às vezes Marques Guedes assume o papel no final dos Conselhos de Ministros, mas Passos acaba sempre por dar a cara», analisa uma fonte do PSD, que reconhece a falta de uma estratégia de comunicação mais afinada no Governo.
«É tal o número de situações – da Justiça à Saúde, passando pelas Finanças – que muitas vezes no Governo estão mais concentrados em tentar solucionar as questões em si do que em pensar na comunicação», justifica a mesma fonte.