“Não fechar a porta ao Bloco Central obrigou o Costa a falar e a radicalizar. Ao rejeitar esta ideia, ficou ainda mais colado à esquerda”, defende um vice-presidente do PSD, que ficou satisfeito com a pronta reacção do líder do PS que, logo no sábado, fechou a porta entreaberta por Passos, ao afirmar que o país “não está à espera nem precisa de um Bloco Central”.
Aliás, se o líder do PSD disse que “quem determina as condições de governabilidade são os eleitores” e que não vai “fechar porta nenhuma”, Costa não hesitou em matar o assunto com estrondo. “Hoje, as coisas ficam muito mais claras: ou nós ou eles [PSD e CDS-PP], esta é a opção”, resumiu o secretário-geral socialista.
A radicalização foi bem recebida não só no PSD, mas também no CDS. “A reacção de António Costa teve um efeito positivo. Assustou o eleitorado do centro, que não gosta da ideia de um PS aliado à esquerda radical”, comenta um destacado membro da direcção de Paulo Portas.
A verdade é que entre os sociais-democratas uma aliança com o PS não é de todo desejável, embora se admita que possa vir a ser uma necessidade para assegurar a governabilidade do país.
“Ninguém quer o Bloco Central. O CDS sabe que não queremos o Bloco Central. Mas pode ser preciso”, admite um membro da direcção de Passos Coelho.
“O Presidente já foi claro a dizer que não dará posse a um governo sem maioria. Isso faz com que todas as possibilidades estejam em cima da mesa”, reconhece outro destacado social-democrata, sublinhando que este será sempre, contudo, “o último dos recursos”.
No PSD, onde nem se quer ouvir falar para já de uma aliança do estilo Bloco Central, houve mesmo quem visse nas palavras do líder um “excesso de honestidade”.
CDS ignora Bloco Central
Alguns sociais-demoratas entendem que Passos, a sete meses das eleições legislativas, não feche por completo nenhuma porta, mas reconhecem que ainda é cedo para equacionar esta possibilidade. “Se calhar era melhor não ter falado já nisso. Mas a verdade é que pode ser preciso. Foi um excesso de franqueza”, analisa um deputado do PSD.
“Não é com certeza o que Passos quer, mas não pode excluir nenhuma possibilidade para o período após as eleições”, corrobora um vice-presidente social-democrata.
Esta tese tem também alguns adeptos no parceiro de coligação, que recusa ter havido melindre no Largo do Caldas com a hipótese admitida por Passos Coelho.
“Não é novo. O primeiro-ministro já tinha admitido esta hipótese antes, por uma questão de governabilidade”, comenta um membro do Governo do CDS, acrescentando que “seria desagradável ou incómodo” para os centristas se Passos “colocasse o Bloco Central como alternativa a uma aliança com o CDS”.
De resto, no CDS admite-se que “um governo minoritário PSD/CDS não aguentaria sequer seis meses no Parlamento”. Motivo suficiente para um deputado democrata-cristão entender como natural a resposta do primeiro-ministro ao Expresso.
“Não é o cenário que Passos coloca como preferencial, mas a verdade é que neste momento não pode excluir nada”, reforça um dirigente do CDS.
A reforçar a ideia de que não houve incómodo, dirigentes do CDS dizem ao SOL que as declarações do primeiro-ministro sobre a hipótese de uma aliança que abranja PSD, CDS e PS não foi sequer analisada na reunião da Comissão Política Nacional dos centristas desta segunda-feira.
“Não falamos de blocos centrais. Não faz sentido. O que temos dito e foi comunicado na Comissão Política desta semana é que não falamos de coligações”, reage um elemento da direcção centrista, explicando que Paulo Portas deu ordens para que até às eleições da Madeira não se fale em alianças eleitorais.