Apesar de muitos terem lido nas palavras de Cavaco Silva no prefácio do seu Roteiros IX um apelo dirigido ao ex-presidente da Comissão Europeia para avançar para Belém a verdade é que Durão Barroso continua fora da corrida. E, ao que o SOL apurou, Durão deixou isso muito claro junto do Presidente da República.
Uma fonte bastante próxima do ex-primeiro-ministro arrisca mesmo assegurar a «110%» que Durão Barroso já pôs de parte qualquer possibilidade de avançar para Belém. E várias fontes do círculo político mais próximo do ex-presidente da Comissão Europeia adiantam que ele está completamente concentrado nas conferências que tem dado pelo mundo fora e nas aulas que actualmente dá em três Universidades, na Católica em Lisboa, na Universidade de Genebra e em Princeton.
«Nos tempos que correm, os interesses de Portugal no plano externo só podem ser eficazmente defendidos por um Presidente da República que tenha alguma experiência no domínio da política externa e uma formação, capacidade e disponibilidade para analisar e acompanhar os dossiês relevantes para o país». Foi esta a frase de Cavaco Silva que incendiou a classe política e fez agitar os putativos candidatos à sua sucessão.
Marcelo e Santana recusam ficar de fora
Estas palavras pareciam deixar de fora Marcelo Rebelo de Sousa, Pedro Santana Lopes e Rui Rio – os candidatos de quem mais se fala à direita. Mas quer Marcelo, quer Santana Lopes foram rápidos a vir garantir que reuniam os requisitos traçados pelo Presidente da República e não se sentiam excluídos.
Santana Lopes lembrou a sua experiência enquanto chefe de Governo e secretário de Estado da Cultura para assegurar que, «passe a imodéstia», se considerava incluído no lote de candidatos presidenciáveis segundo os critérios definidos por Cavaco. E não resistiu a lançar a farpa ao comentador da TVI, afirmando que achava «curioso» que o Presidente da República tenha excluído o seu conselheiro de Estado Marcelo Rebelo de Sousa.
O comentador da TVI não deixou, porém, nem Cavaco nem Santana sem resposta. Em declarações ao Diário Económico, o ex-líder do PSD realçou ter tido a «sorte de fazer política» em momentos cruciais da política externa portuguesa, reconhecendo que «se não tivesse tido essa experiência, seria uma limitação».
E à semelhança do provedor da Santa Casa da Misericórdia também Marcelo Rebelo de Sousa discorreu sobre o seu passado para justificar a sua inclusão nas características elencadas por Cavaco Silva. O comentador da TVI recordou a «experiência» na liderança social-democrata durante o período de adesão ao euro, o que lhe permitiu «com António Guterres uma espécie de acordo de regime para viabilizar três orçamentos» que asseguraram a adesão à moeda única europeia.
O professor lembrou ainda ter ocupado a vice-presidência do Partido Popular Europeu aquando do alargamento da União Europeia a Leste. Partido este a que o PSD aderiu em 1996, durante a sua própria liderança, sublinhou. Resumindo e concluindo nas suas palavras: «Não sinto que me tenha excluído» porque aquilo que Cavaco Silva disse é que «é preciso ter experiência internacional, e eu tenho».
Vital considera ‘ridículas’ reacções de Santana e Marcelo
Entretanto, dias depois no espaço de debate que divide com António Vitorino na SICN Santana já dava como certo que Cavaco Silva prefere Durão como seu sucessor e «o resto é conversa», acrescentando ainda que este tipo de textos «são muito violentos» e não tem dúvidas de que o prefácio do Roteiros IX serviu para «excluir alguém ou para incluir alguém».
As prontas reacções de Santana e de Marcelo suscitaram, no entanto, críticas de Vital Moreira no blogue Causa Nossa. O constitucionalista considerou «simplesmente ridículo» que «vários protocandidatos da direita se tenham apressado a proclamar que cabem no referido perfil (mesmo quando é óbvio o contrário…)».