Ex-assessores de Belém na equipa de Nóvoa

A adesão do PS à candidatura de Sampaio da Nóvoa está em crescendo, mas no staff do candidato, composto por 12 pessoas, só há um socialista: o director de campanha, José Romano. “Sempre fui militante de base no PS. E aqui não represento nenhuma organização, ninguém representa”, diz ao SOL.

Na comissão executiva, o núcleo central da candidatura presidencial, avultam vários elementos com experiência em Belém, pois foram assessores de Jorge Sampaio ou de Mário Soares. Os restantes acompanharam o “percurso político e académico” de Sampaio da Nóvoa: como colegas na Universidade ou como alunos, vários envolvidos, como dirigentes associativas, nas lutas anti-propinas nos anos 90.

Ligações aos partidos, e em particular ao PS, “não há” – garante José Romano. Em sectores socialistas, o nome de Duarte Cordeiro – número dois de António Costa em Lisboa, e um dos dirigentes que melhor conhecem o partido e a ligação às bases – é dado como bem colocado para fazer a ponte para o PS. Foi, aliás, uma das presenças mais notadas no anúncio da candidatura, há uma semana, no Teatro da Trindade.

Mas fonte próxima de Cordeiro diz que, devido às suas funções na Câmara de Lisboa, “dificilmente terá condições ter um papel com a relevância” que teve na última candidatura presidencial de Manuel Alegre. Isto numa altura em que a adesão socialista aumentou exponencialmente, desde que Mário Soares, Jorge Sampaio e vários socialistas destacados apareceram junto a Nóvoa, na Trindade.

As ligações a partidos são porém refutadas com veemência por José Romano, que confirma apenas a presença de uma dirigente do Partido Livre, Marta Loja Neves, “a título individual”, na direcção da campanha. Mesmo a aparição do deputado socialista Pita Ameixa, eleito por Beja, ao lado de Nóvoa, no último sábado, é descrita como “uma adesão espontânea à agenda do candidato”. Ao SOL, o deputado do PS corrobora: “Sampaio da Nóvoa merece a nossa simpatia. Foi à minha terra e, por iniciativa própria, decidi ir cumprimentá-lo”.

De resto, o “entusiasmo” de “centenas de pessoas que todos os dias pedem para colaborar” leva José Romano a definir estes primeiros dias de caminhada para Belém como “um vórtice”.

De Jorge Sampaio para Sampaio da Nóvoa

Outro elemento preponderante na direcção da campanha é Gustavo Cardoso. Este professor do ISCTE foi assessor do Presidente Jorge Sampaio para a Juventude e colabora com o PS, apesar de não ser militante. Faz parte do grupo “que traz o know how de Belém”. Um grupo que, na comissão executiva de Nóvoa, tem ainda Pedro Reis (assessor em Belém durante as presidências de Sampaio e de Mário Soares) e João Serra (chefe de Casa Civil de Sampaio).

Numa estrutura de campanha que “tem várias camadas” e que conta com “a experiência de dezenas de pessoas”, surgem outros antigos assessores presidenciais, como Rui Simplício ou Elisabete Caramelo, a responsável pelas relações com a imprensa do último Presidente socialista, que agora aconselha Nóvoa. Mas com generosidade “para distribuir folhetos” se for preciso. A jornalista da TSF Ana Catarina Santos assegura a partir da próxima semana as relações com a comunicação social.

Na comissão executiva, além da “gente de Belém”, há outros dois núcleos: um de professores universitários (“pessoas de confiança do professor Nóvoa”, que inclui Manuel Lisboa, David Rodrigues e Lúcia Amante) e outro de ex-dirigentes académicos, que inclui João Afonso (líder em Lisboa, na década anti-propinas) e António Vigário (líder de Coimbra).

O director de campanha de Nóvoa, José Romano, também vem deste grupo das lutas anti-propinas (“faço parte da ‘geração rasca’”) e esteve depois na preparação do movimento que levou António Guterres ao Governo. Só se filiou no PS nos anos do “pântano”. Esteve com João Soares (para a Câmara de Lisboa), na organização do 1.º Congresso da Democracia (em 2004) e liderou o Observatório da Democracia.

Convite de Guterres

Recentemente, foi ele quem dirigiu o Congresso da Cidadania, organizado pela Associação 25 de Abril, que teve Sampaio da Nóvoa como protagonista. José Romano – que não aderiu ao PS quando chegou ao Governo, em 1995, “por pudor” – aceitou depois o convite de Guterres, quando este recusou o “pântano” e saiu do poder.

Este arquitecto que foi candidato à Câmara de Mafra, diz-se “low profile” e nos tempos livres dedica-se às artes marciais (é cinturão negro de taekwondo). A foto de perfil da sua página pessoal no Facebook, aliás, mostra-o em atitude de combate. Fala da campanha como “um duro exercício de resistência” e diz que Nóvoa vai para vencer, mas também para “deixar lastro na intervenção cívica”: “Queremos passar a ideia que vale a pena as pessoas organizarem-se”.

manuel.a.magalhaes@sol.pt

*com Sónia Cerdeira