Próximo passo: Virar agulhas para as questões sociais

O objectivo da próxima entrevista de Passos é claro: reforçar o discurso sobre as questões sociais. Depois de explicar o que fez durante o mandato, é preciso encontrar um discurso que mobilize os eleitores. Sem grandes cartadas de novidade no programa eleitoral, a ideia é mostrar que o PS não tem o exclusivo da preocupação…

Na SIC, o primeiro-ministro aqueceu os motores para a campanha e revelou segurança. Mas a prova de fogo pode ser na TVI, esta semana. Com um formato difícil – o entrevistado fica de pé a responder às perguntas do público -, a entrevista merece mais cuidados na preparação. Mas no gabinete do primeiro-ministro acredita-se que o perfil de Passos será um trunfo.

Como Passos se prepara

Como acontece em todas as entrevistas, Passos deve recorrer ao próprio gabinete para se preparar. Uma tarde “a bater bolas” com o staff mais próximo costuma ser suficiente para passar em revista os principais dossiês. “A preparação costuma ser muito descontraída”, revela uma fonte de São Bento. “Não precisa de treinar perguntas e respostas, porque o discurso está muito articulado. Mas tem sempre conversas com os membros do gabinete para preparar os grandes temas”, acrescenta um vice-presidente do PSD.

Na semana passada, não foi excepção. Passos e o gabinete passaram a tarde de terça-feira a rever a matéria. Portas não ficou excluído deste trabalho, até porque a preocupação com a articulação do discurso entre PSD e CDS é cada vez maior.

A diferença de personalidades entre os dois faz, contudo, com que seja bem diferente o método seguido antes das grandes entrevistas. “Portas ouve no mínimo dez pessoas sobre cada tema”, revela uma fonte próxima do líder centrista. “Passos é descontraído, não recorre a especialistas”, diz uma fonte do PSD, explicando que não há agora em São Bento conselheiros fixos como já houve nos tempos de Cavaco Silva, por exemplo. “Cavaco ouvia sempre pessoas como Dias Loureiro, Marques Mendes e Durão Barroso para se preparar”, lembra a mesma fonte.

O frente-a-frente com um painel de anónimos é sempre um momento complicado para um político, sobretudo depois de quatro anos de austeridade. Mas a história faz com que os mais próximos acreditem que Passos não vacilará.

Em 2011, a JSD organizou um evento com 400 jovens em Braga. A ideia era que respondesse a perguntas do público e estava previsto que o encontro acabasse às 23h. “Acabou por ficar até à uma da manhã”, lembra o então líder da JSD, Hugo Soares, que recorda um Passos seguro, que “não deixou ninguém sem resposta”.

Se em Braga o público era maioritariamente do partido, em 2013 Passos deu mostras de que não vira as costas, mesmo quando é alvo de ataques inesperados.

‘Eu não gosto de si!’

Durante a campanha autárquica, em Sintra, a passagem do primeiro-ministro foi interrompida pelos gritos de uma idosa que, à janela, atirava: “Eu não gosto de si!”. A comitiva queria ignorar a provocação, mas Passos Coelho interpelou a senhora para lhe perguntar por que motivo não gostava dele. “Porque me cortou a pensão”. Passos parou para lhe explicar que, por ter uma pensão mínima, não tinha sido alvo de cortes. “Mas aumentou o preço dos medicamentos”, retorquiu a pensionista. Não ficou sem réplica. O PM não desistiu enquanto não deixou a idosa sem resposta possível. “Ele é mesmo assim”, resume um dirigente social-democrata.

Na maioria, acredita-se que as entrevistas e os debates serão momentos fortes para a campanha do PSD/CDS. “É nos debates que se vai ver a diferença entre Passos e Costa”, defende um deputado do PSD. “Até hoje, não houve um debate quinzenal que o primeiro-ministro não tivesse ganho”, acrescenta outro social-democrata. “É muito explicativo, tem um registo muito pedagógico”, defende um dirigente centrista, que ficou contente com a prestação na entrevista na SIC.

Nem quando confrontado com uma sondagem na qual a maioria dos eleitores o descreve como “mentiroso”, Passos se deixou ir abaixo. “É natural que eu seja um bocadinho o rosto do que se passou”, admitiu.

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