Durão Barroso usou palhaços e andaimes para explicar a Europa

O objectivo da aula da Universidade de Verão era explicar “o que se passa na Europa”. Para responder à pergunta, Durão Barroso falou a crise do euro, da origem da troika e das culpas dos americanos, mas também daquele que é o problema que nas últimas semanas mais se tem agravado nas fronteiras do velho…

Enquanto alguns, como Donald Trump nos Estados Unidos ou Viktor Órban na Hungria – que Durão optou por não citar – vêem a solução para as migrações em muros que defendam as fronteiras, Barroso olha para a Europa e vem-lhe à cabeça outra imagem de construção bem diferente.

O ex-presidente da Comissão Europeia diz quando pensa na Europa vê “a imagem de um andaime”.

“Nós não gostamos de ver o andaime, mas por trás está a ser construído um belo edifício”, aponta, claramente optimista em relação ao futuro, apesar das dificuldades.

Para a crise dos refugiados, Durão Barroso prefere um discurso cauteloso, explicando que a solução passa por recebê-los "de portas abertas, mas não escancaradas", para "evitar dar argumentos aos nacionalistas” que cada vez mais se multiplicam não só na Europa, mas também nos Estados Unidos, onde o ex-presidente da Comissão acusa Donald Trump e o Tea Party de estarem a incitar discursos xenófobos.

“Precisamos de integrar as pessoas, não podemos criar novo guetos na Europa, temos de fazer um trabalho de formação dessas pessoas”, defendeu, depois de explicar que quem está a falhar são os governos europeus e não a União Europeia.

“A Europa tem as costas largas”, disse, admitindo que os “governos europeus não estão a ser capazes de dar uma resposta à imigração”.

Barroso lembrou mesmo, a propósito da crise do euro, que “não somos um Estado; somos uma união de Estados e numa união não pode haver uma opinião que prevaleça sobre todas as outras”.

O tema da crise serviu, de resto, a Durão Barroso para assegurar que não está em causa a moeda única.

“A crise do euro é uma expressão curiosa, sugere que o euro está no centro da crise. Mas não é verdade, o que esteve em crise não foi o euro, o euro manteve-se sempre como moeda estável e sólida”, afirmou, atirando culpas para o lado de lá do Atlântico.

As culpas dos americanos e a bola que Passos soube jogar

“A crise nasceu nos EUA, e o detonador foi a falência do Lehman Brothers, a crise do subprime, o crédito excessivo dado a quem não tinha como pagar”, afirmou perante a plateia dos alunos da Universidade de Verão do PSD, em Castelo de Vide, a quem fez perguntas em tom professoral.

“Alguém me sabe dizer qual foi o país que teve de mobilizar mais dinheiro dos contribuintes para salvar os seus bancos?”, disse para apontar o Reino Unido e a Alemanha como aqueles que mais gastaram para ajudar a banca.

“Ou seja, não foi a Grécia, nem Portugal, nem Espanha”, sublinhou, para continuar a tese de que o centro da crise não foi a Europa.

“Mais uma pergunta para o teste: Qual foi o país mais afetado pela crise, que esteve em situação de insolvência? A Islândia, que nem sequer é membro do euro ou da União Europeia”, respondeu.

“A crise financeira ultrapassou em muito o euro, não foi criada pelo euro, não é da responsabilidade da União Europeia. Resultou sim de comportamentos financeiros inaceitáveis que tiveram lugar nos Estados Unidos mas também na Europa, ou de comportamentos irresponsáveis de governos nacionais que deixaram acumular dívidas públicas”, concluiu.

O tema serviu ainda para o elogio a Passos. Durão lembrou “a saída limpa” que foi conseguida pelo Governo, “contraindo todos os pessimismos”.

“Portugal era a bola que podia cair para o lado da Irlanda ou para o lado da Grécia e o Governo evitou um cenário à grega”, atirou, com advertências para lembrar que o país “não está imune” a novos problemas financeiros, e o recado para o próximo executivo, que “terá de continuar a levar a cabo reformas"

margarida.davim@sol.pt