Lesados do BES vão perseguir PàF

É uma declaração de guerra. “Vamos estar em todas as ações de rua da campanha da coligação em que haja uma certa exposição”, avisa Ricardo Ângelo, presidente da Associação dos Lesados do BES, que garante uma marcação cerrada a Passos, Portas e Maria Luís Albuquerque.

Para o fazer, conta com “informadores” que lhe fazem chegar a agenda dos candidatos e “equipas de mobilização rápida com 20 a 30 elementos” capazes de montar uma manifestação em qualquer ponto do país em muito pouco tempo. “Há lesados do papel comercial do BES que são do PSD e do CDS e nos fazem chegar as agendas”, revela Ricardo Ângelo, assegurando que no domingo passado – até hoje a ação mais agressiva – os manifestantes organizaram-se para apanhar Portas a sair da Escola de Quadros do CDS “por iniciativa própria”, à margem da associação.

Portas sabia da manif de Ofir

É cada vez mais evidente que a tensão está a subir, como se viu no dia do debate entre Passos e Costa. Durante todo o dia os lesados do BES manifestaram-se em Lisboa, acabando um percurso que começou na sede do Novo Banco à porta do Museu da Eletricidade, onde os dois candidatos a primeiro-ministro debatiam. Ricardo Ângelo garante que a associação que dirige “não é adepta de manifestações violentas”, mas vai dizendo que “é difícil controlar as pessoas”.

Certo é que o “truque” usado noutras circunstâncias por Passos Coelho, que há uns meses em Barcelos convenceu os manifestantes a desmobilizar, convidando-os para uma conversa, não vai voltar a resultar. “O dr. Portas e os seus assessores aliciaram-nos para conversar. Mas nós já conhecemos a conversa deles. Já não nos calam”, atira o representante dos lesados do BES.

Conscientes de que as manifestações vão ser uma constante ao longo da campanha, PSD e CDS usam “canais informais” para saber onde poderão encontrar os lesados do BES. Foi o que aconteceu em Ofir. Portas sabia que ia encontrar manifestantes, mas experiências passadas com Passos Coelho em Aveiro e Barcelos fizeram-no acreditar que a situação era controlável. “Aquele nível de agressividade fugiu ao padrão”, observa uma fonte da Portugal à Frente (PàF), que não esconde o receio de que a situação se possa vir a repetir.

Na coligação o tom oficial é o de desvalorizar o incidente. “Se uma campanha eleitoral se faz com medo, está tudo perdido”, comenta um vice-presidente do CDS. Mas a preocupação é real. E o teste pode acontecer já amanhã, em Braga quando o primeiro-ministro (PM) andar pelas ruas. A PSP tem estado a avaliar as condições de segurança, mas, pelo menos por enquanto, não haverá alterações ao grau de ameaça atribuído a Passos.

O grau três que está atribuído a PM e a Maria Luís Albuquerque já garante a presença de uma equipa operacional que os acompanha mesmo nas ações de campanha. E, para já, isso é considerado suficiente.

Maria Luís diz que ‘com câmaras será diferente’

“Como as câmaras não andam atrás de mim, não tenho tido grandes problemas”, diz ao SOL Maria Luís, que reconhece que as coisas podem mudar quando Passos se lhe juntar na campanha pelo distrito de Setúbal, onde é cabeça de lista. “Acredito que quando o primeiro-ministro vier será diferente”, afirma, mostrando-se “disponível para conversar” com os manifestantes, mesmo que acredite que os lesados do BES estão mais interessados em marcar a agenda mediática do que em falar.

“As respostas que tenho para dar são as que dei sempre. As pessoas têm de pôr ações em tribunal rapidamente. É um assunto que tem de ser tratado pelos tribunais”, defende a ministra das Finanças, que se sente segura na campanha. “O grau de segurança é o mesmo que tenho sempre. Para mim, até é demais”, comenta.

Na coligação admite-se que “se as coisas piorarem muito” comece a haver baias a separar os manifestantes dos candidatos, “como se fez com Cavaco”. Mas a ordem é para manter um tom de normalidade, ainda que haja quem desconfie da presença de “agitadores infiltrados”. Uma tese que tanto uma fonte do MAI ouvida pelo SOL como Ricardo Ângelo afastam por completo. “Todos os que estavam em Ofir eu conheço”, afiança o presidente da associação dos lesados.

*com Sofia Rainho

margarida.davim@sol.pt