Campanha: 7 trunfos, 7 riscos

O sprint final faz-se na estrada nos próximos 15 dias. Coligação e PS partem quase empatados para a campanha oficial, conscientes de que qualquer falha poderá ter um custo eleitoral e de que a vitória se joga convencendo os indecisos. De um lado e do outro afinam-se estratégias e identificam-se os trunfos que se devem…

Passos: Mais agressivo sem cair em promessas

1. Chamar os bois pelos nomes: Para garantir a vitória, a estratégia passa por mudar de tom. Passos deve “perder o verniz” e passar ao ataque. É necessário expor as fraquezas do adversário num a linguagem mais assertiva e sem meias-tintas. O debate de quinta-feira nas rádios foi já um ensaio para essa mudança que se prepara.

2. Trabalho feito: Se há coisa que não vai mudar é a forma como PSD e CDS vão bater na tecla dos indicadores económicos para mostrar que têm a receita certa para o país. Dados do desemprego, índice de confiança do consumidor e números de crescimento são trunfos que a coligação não vai deixar de usar.

3. Peso do passado: Ficou provado no debate televisivo com António Costa que o excesso de Sócrates em campanha pode ser fatal. Mas na coligação acredita-se que recuar a 2011 continua a ser essencial para passar a mensagem. A PàF vai continuar a colar Costa a Sócrates, mesmo que não o nomeie.

4. Défice de futuro: Há muito quem na coligação gostasse de ouvir a Passos palavras de esperança e, claro, promessas eleitorais. Mas os mais próximos do líder garantem que ele vai resistir e manter um discurso que é pouco entusiasmante, mas que a PàF acredita ser mais realista.

5. Segurança Social: A coligação sabe que o tema das pensões é um calcanhar de Aquiles. Consciente disso, Passos Coelho tentou no debate de quinta-feira começar a virar a mesa, mostrando as fragilidades do discurso do PS sobre o tema. Mas a ausência de resposta sobre o corte de 600 milhões na Segurança Social é algo que vai ter de ser melhor explicado.

6. Dossiê BES: Com os lesados do papel comercial constantemente nas ruas e a venda do Novo Banco adiada, é ponto assente na coligação que este será um dos temas mais sensíveis da campanha eleitoral. Passos Coelho é acusado na PàF de ser “muito palavroso e explicativo” e são muitos os que acham que é preciso encontrar uma forma de demonstrar que os lesados “são uma minoria” e que o mais importante é sublinhar que este Governo “evitou um novo BPN”.

7. Terrenos difíceis: Lisboa surge à cabeça das preocupações da coligação por ser o sítio onde se jogam mais deputados e onde as sondagens internas mostram maior vantagem do PS. Porto, Aveiro, Coimbra e Braga são outros locais onde se devem pescar à linha os indecisos. Para Setúbal o objetivo é perder por pouco.

António Costa de proximidade a captar classe média

1. Campanha de proximidade: Rua, rua, rua. Os socialistas vão apostar no contacto direto com a população, numa campanha de “afetividade”. O objetivo é fazer o contraste com a campanha da coligação, que se “esconde e está reduzida ao seu núcleo duro”, defende ao SOL Manuel Pizarro, membro do Secretariado Nacional do PS.

2. Segurança Social: É o calcanhar de Aquiles do PS. No debate das rádios, Costa não soube explicar onde vai poupar mil milhões nas contribuições sociais. A redução da TSU paga pelos trabalhadores com implicações nas reformas futuras é outro dos pontos quentes. Mas a coligação também não explica como fará uma poupança de 600 milhões na Segurança Social e os socialistas não vão largar esse osso. 

3. Radicalização PCP e BE: O apelo ao voto útil vai ser uma constante no discurso do PS. E para que seja mais eficaz, os socialistas vão acenar com a agenda ‘radical’ do PCP e BE. “O programa deles não é viável. Temos que mostrar ao eleitorado que só o PS pode derrotar a direita”, afirma um destacado dirigente socialista. A saída do euro é a divergência de fundo com a esquerda que o PS vai destacar.

4. Classe média: Taco a taco nas sondagens com a coligação, os socialistas precisam de captar os indecisos. O foco será na classe média e também nos desiludidos, principalmente com o PSD (ver pág. 16). 

5.Papão das privatizações: O PS vai insistir na tecla de que os sacríficios impostos pelo Governo não valeram a pena, porque o país está com mais dívida e com um PIB inferior ao herdado. As privatizações de setores estratégicos e o ataque ao Estado Social, na Saúde e Educação, também vão ser argumentos. O PS espera ainda capitalizar a derrota do Governo com o adiamento da venda do Novo Banco.

6. Sócrates: É verdade que o PS vive a campanha a braços com um ex-primeiro-ministro em prisão domiciliária, que a qualquer momento pode desviar o foco mediático. Mas tanto a coligação e Passos Coelho acenaram com o fantasma de José Sócrates que o efeito – desde o frente-a-frente televisivo – passou a ser o contrário do desejado.

7. Apostas no terreno: Os socialistas deixam para a última semana de campanha três idas ao distrito de Lisboa e duas a Aveiro e Setúbal, os terrenos em que apostam mais. O encerramento é feito, pela primeira vez, no círculo sadino, que elege agora mais um deputado e pode fazer a diferença nos resultados eleitorais. 

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