A venda do Novo Banco foi suspensa. Qual é a solução, agora?
Deve-se escrutinar a responsabilidade política para garantir que da próxima vez os poderes públicos e o Governo garantem melhor os nossos interesses. Depois, há a dimensão jurídica dos lesados do BES: o Estado não poderá substituir-se a uma averiguação, que pode até ser de responsabilidades criminais, mas tem a obrigação de apoiar e proteger as vítimas. Aliás, é prioritário resolver a morosidade na Justiça ou possibilitar o acesso a fundos de resolução a pessoas sobre-endividadas.
Manteria a venda do Novo Banco?
Poderia ser interessante mantê-lo com um mandato vocacionado para as PME ou de apoio à inovação. Com uma presença, ainda que parcial, do Estado.
Por que não se tem visto o Livre na campanha?
Há um conservadorismo inato da nossa esfera pública, nomeadamente entre os partidos tradicionais e as televisões de canal aberto. Mas temos trabalhado, com elementos de inovação, nas redes sociais e na internet. E estamos no país todo a falar com as pessoas. Temos todo os dias coisas a acontecer.
Não foram prejudicados por uma colagem ao PS que depois vos roubou espaço político?
Não. O que dizemos é uma quase banalidade política. Percebo a novidade porque conheço a história dos últimos 40 anos da nossa democracia, mas essa abertura não é o único nem principal interesse de uma candidatura como esta. Temos um programa que tem soluções para problemas concretos, uma agenda inadiável com as 50 medidas urgentes para o país. E somos uma esquerda ecológica, libertária, progressista, que tem como objetivo a refundação do projeto europeu como um projeto democrático. Ou seja, muitas razões para despertar a atenção das pessoas.
A declaração de Catarina Martins, de abertura a um entendimento pós-eleitoral com o PS, muda alguma coisa?
Vejo-a com satisfação porque representa uma conquista na agenda política que em grande medida se fez pelo Livre/Tempo de Avançar. Um caminho, aliás, que temos feito muitas vezes sob a pressão da caricatura, porque sabíamos que o cidadão de esquerda em Portugal quer que esta área saiba trabalhar junta. Foi-se criando uma pressão nos outros partidos que foi mudando o discurso em relação à convergência. Agora queremos que essa mudança seja genuína e autêntica. Se isso não acontecer, há uma oportunidade histórica perdida porque toda a gente sabe que os partidos tradicionais voltam sempre atrás, que a dinâmica das direções partidárias é muito forte e que, depois da campanha, muitos deles vão disputar a agenda mediática no dia-a-dia, cavando as suas diferenças e não encontrando o que poderiam trabalhar juntos para o país.
Catarina Martins colocou uma série de linhas vermelhas a um entendimento. São as mesmas do Livre?
As que sempre pusemos. Nessa declaração, houve uma agregação ao nosso discurso. Mas temos mais: erradicar os falsos recibos verdes, dar mais meios à Autoridade para as Condições do Trabalho, suspender e rever as privatizações, suspender o Plano Nacional de Barragens, diversificar as fontes de ingresso para a Segurança Social, entre tantas outras…
Como vê este empate nas sondagens entre PS e coligação?
Não existe. A coligação está nos mínimos históricos, está a falar para o seu reduto ideológico. É um terço dos portugueses.
Reconhece utilidade à campanha que Joana Amaral Dias está a fazer?
Não comento campanhas de outros partidos.
O seu projeto político acrescenta alguma coisa à esquerda?
Poderia comentar o programa, mas creio que não lançaram nenhum.
Revê-se no Syriza? No atual ou no pré-acordo?
Alexis Tsipras disse uma coisa muito importante, logo depois do acordo que foi forçado a assinar: “Temos de aguentar firmes para possibilitar que outros governos mudem noutros países da Europa”. É a leitura que fazíamos desde que o Syriza foi eleito. Vejo a mudança na Europa como uma corrida de longo curso. Uma perna é o um movimento progressista de cidadãos que pensa que esta Europa assim não serve – como se viu agora com a questão dos refugiados, em que as pessoas vieram para a rua – e outra perna é conquistar Governos nacionais. Se temos 18 a defender a austeridade contra um, claro que as regras do jogo estão viciadas. Não vamos virar o jogo de um momento para o outro, mas nós vamos começar a fazê-lo a partir de 4 de outubro.