Secretário de Estado ‘special one’

É primo direito de um dos portugueses mais conhecidos do planeta. E esse facto já se lhe colou politicamente: “O nosso Mourinho” diz-se no PS.

É primo direito de um dos portugueses mais conhecidos do planeta. E esse facto já se lhe colou politicamente: “O nosso Mourinho” diz-se no PS.

O ‘special one’ dos socialistas é Ricardo Mourinho Félix, que acha “normal” que a imprensa lhe dê atenção por ser filho do irmão de Félix Mourinho, antigo guarda-redes do Vitória de Setúbal e pai do truculento e bem sucedido atual treinador do Chelsea.

Mas até há coisas mais interessantes para contar deste homem que hoje foi anunciado como o número dois do ministro das Finanças, Mário Centeno.

O novo secretário de Estado Adjunto, do Tesouro e das Finanças deve a ocupação profissional que teve até outubro a um homem que também já passou pelo Ministério do Terreiro do Paço: o antigo ministro das Finanças da coligação PSD-CDS, Vítor Gaspar.

Mourinho Félix era um jovem economista, com a melhor média da sua licenciatura e há meses saído de um estágio no Banco de Portugal, quando recebeu um telefonema de Gaspar a convidá-lo para integrar os quadros do banco central, mais precisamente no Departamento de Estudos Económicos.

Ali esteve durante 17 anos – desde 1998 – com uma interrupção de dois (2000/2001) em que foi adjunto de Fernando Pacheco, o secretário de Estado do Orçamento no Governo de António Guterres. No BdP trabalhou em previsões económicas e, desde 2004, em funções de chefia.

A saída tempestuosa de Gaspar do Executivo, com quem foi mantendo uma “boa relação”, apesar de “esporádica”, não o traumatizou em relação à política. Aliás, “foi mais uma motivação” para quem ia despertando para a necessidade de haver mais responsáveis “com perfil mais técnico” na gestão da ‘coisa pública’.

Frisa que não concorda com “muitas medidas” que o antigo chefe adotou enquanto ministro das Finanças. Aliás, tem “altas dúvidas que até Gaspar concordasse com tudo o que teve de implementar”.

Enquanto elemento do Banco de Portugal fez parte da equipa que negociou com a troika. E aqui impressionou-o a “carestia de meios técnicos” que afligia o lado nacional da negociação. A experiência com a equipa que representava a Comissão Europeia, BCE e FMI foi o impulso que faltava a este militante do PS desde os 18 anos.

O regresso à política ativa

Ricardo Mourinho Félix ultrapassou o “desencanto” que viveu com o fim do Governo Guterres e, a convite de António Costa, voltou à militância ativa. Foi eleito deputado por Setúbal nas eleições de 4 de outubro e, depois, o braço-direito de Mário Centeno na equipa técnica do PS que negociou os acordos com BE, PCP e PEV.

Ao SOL, defendeu a opção de Costa. “O arco governativo, para mim, é o Parlamento”, disse. Uma aliança com o PSD seria uma espécie de “suspensão da democracia”, considerou, onde, face a um bloco central, “à mínima dissensão se assistiria ao crescimento dos extremos”, como tem acontecido em países da Europa.

De volta a Mourinho, ao José, tem com um primo uma normal relação familiar. “Mas ele tem mais 10 anos do que eu, não brincámos juntos”, explica.

Ricardo só tem jeito para o desporto “na perspetiva do utilizador”. Vai vendo os jogos mais importantes do Chelsea e para não se esquecer deles, agenda-os no telemóvel. Não tem “devoção por futebol”. O seu campo é outro.

teresa.oliveira@sol.pt

Nota: republicação atualizada de 'Deputado ‘special one’', publicado a 23 de outubro