Cultura em 2016: o regresso dos mais desejados

2016 será marcado por regressos: no cinema, da dupla Scorsese e Tarantino; na música, de Bowie e Jeff Buckley; nas letras, de dois Nobel: Günter Grasse e Svetlana Aleksievitch. Mas também há novidades de encher o olho, como os concertos de Adele e de Kendrick Lamar, que assinou o disco do ano.

Música

Bowie, Buckley. Regressar onde já fomos felizes

No que toca a discos para 2016, a letra B está em destaque. B de Buckley, B de Bowie, B de Bom. Jeff Buckley morreu em maio de 1997 e ainda não nos conformámos, que é igual a dizer que o continuamos a escutar. Felizmente há gente que se dedica a atividades tão nobres como revirar todos os arquivos e mais alguns a fim de encontrar material que se possa ter perdido, que o pó desses lugares escuros possa ter apagado. You & I é um disco perdido – e também pedido – com edição prevista para 16 de março e que mais não é que uma compilação de inéditos e versões distintas do norte-americano. Tem como base a primeira sessão de gravação de Buckley para a Columbia Records, a que se juntam covers de gente como Sly, The Family Stone, Bob Dylan e The Smiths.

As boas notícias não ficam por aqui. Já a 8 de janeiro David Bowie edita o seu 25.º disco. E fá-lo no dia em que comemora 69 anos. Celebre-se com champanhe, que este Blackstar só pode ser caviar. Já andamos a cantarolar o single desde novembro, agora queremos saber tudo de cor. Não vamos dizer que é como o vinho do porto porque para ele a idade não conta. É, apenas Bowie. Contem-se ainda regressos de Kanye West, Frank Ocean, Gorillaz e Red Hot Chilli Peppers.

Concertos

Há vida para além dos festivais

Parece que Portugal voltou a ser um lugar ao sol no que aos concertos diz respeito. Talvez influenciados pelos rankings turísticos onde o país constou nos últimos dois anos, gente como Iron Maiden, AC/DC, Jamie XX, Florence + The Machine, Bryan Adams, Muse, Kendrick Lamar, Adele, Justin Bieber,  Kurt Vile e Mac DeMarco tenha decidido que este é um local de passagem que calha bem, com tempo  para um copo à beira-rio. Kendrick Lamar surge à cabeça, como grande concerto para 2016, a acontecer no dia 16 de julho, no Parque das Nações, inserido na programação do Super Bock Super Rock. To Pimp A Butterfly foi o disco do ano, o público português já sabe as letras, venha de lá esse concerto.

A este juntam-se outros dois obrigatórios, até porque já estão esgotados. Falamos de Adele e de Justin Bieber. Enquanto a cantora londrina carrega às costas o peso de 25, terceiro disco de originais que já leva 14 milhões de cópias vendidas em todo o mundo. E está a contar. Vem a Lisboa com data dupla, a 21 e 22 de maio.  Justin Bieber, apesar de mais novo, já vai no quarto disco. Purpose é o sucessor de Believe e merece uma digressão que passa pelo MEO Arena a 25 de novembro de 2016. Faça o que tiver que ser feito para conseguir bilhetes.

Cinema

Tarantino e Coen

Depois de um final de ano que nos brindou com o regresso de grandes clássicos (falamos obviamente de Star Wars, pela mão de J.J. Abrams mas de Rocky, em Creed), já não falta muito para podermos ver também nos cinemas o novo Tarantino, Os Oito Odiados, que esteve previsto para mais cedo mas vai estrear a 4 de fevereiro. Destaque ainda para Salvé, César!, dos irmãos Coen, a 25 de fevereiro), The Revenant, de Iñarritu, e Silêncio, de Martin Scorsese, que se encontra ainda em pós produção. Enquanto estes não chegam, podemos ver Joy o novo filme de David O. Russell (Golpada Americana), de novo com Jennifer Lawrence, nos cinemas já na próxima semana.

Séries

Ficheiros Secretos de volta

Vai ser um início de ano em cheio para quem gosta de passar os serões no sofá. Em primeiro lugar, o aguardado regresso de Ficheiros Secretos, depois das nove temporadas de 1993 a 2002, com seis novos episódios. A estreia está marcada já para 26 de janeiro em Portugal, na Fox, dois dias depois dos EUA. Mas este não é o único grande regresso previsto para o início do ano. Terence Winter (Boardwalk Empire) volta com uma nova série, Vinyl, e as estrelas de Breaking Bad Aaron Paul e Hugh Dancy reaparecem juntas em The Path, uma série de fundo religioso que arranca nos EUA em finais de março. Regressam ainda os grandes sucessos Girls, no final de fevereiro, e House of Cards, que estreia a quarta temporada já em março, ambos no TV Séries.

Teatro

Os mesmos de sempre e novos rostos

Por esta altura, a maioria das companhias ainda não divulgou a sua programação integral. Mesmo assim, há pontas soltas que conseguimos resgatar. O São Luiz começa em grande, com Ruínas, um musical de Lynn Nottage, aqui com encenação de António Pires, que valeu à norte-americana o Pulitzer em 2009. Para ver de 6 a 16 de janeiro, a peça conta a história trágica de seis mulheres congolesas vítimas de violação e de escravatura.

A eito até ao Rossio, onde o Teatro D. Maria II prossegue a revolução instaurada por Tiago Rodrigues como diretor artístico. De 21 de abril a 8 de maio, a Sala Estúdio acolhe A Constituição, criação de Mickaël de Oliveira que junta em palco Albano Jerónimo, Ágata Pinho, Miguel Moreira e Paulo Pinto. Quatro atores que tentarão redigir a nova e mais moderna Constituição de sempre. O único problema é que nenhum deles está dentro do assunto. Esperemos pelo resultado.

Por fim, Ricardo Neves-Neves está de volta aos Artistas Unidos, casa onde pelos vistos se sente bem. Desta vez, traz o seu Teatro do Eléctrico para levar a palco A Noite da Dona Luciana, texto do dramaturgo argentino-francês Copi. Custódia Gallego, José Leite, Patrícia Andrade, Rafael Gomes, Rita Cruz e Vítor Oliveira são os intérpretes de serviço.

Livros

Dois Nobel, poesia enovidades de Espanha

Depois do Nobel, e com apenas um título disponível em português, Svetlana Aleksievitch assume naturalmente destaque. A Porto Editora, antes mesmo do anúncio da Academia Sueca, teve o mérito de reconhecer a importância de O Fim do Homem Soviético, que publicou em 2015. Agora será a vez de a Elsinore – que tem feito um esforço notável para se impor e que desde logo homenageou um dos maiores vultos da literatura portuguesa contemporânea, o poeta Mário Cesariny – trazer Aleksievitch para o seu catálogo. Podíamos perguntar se planeiam ter alguma coleção de poesia, mas isso seria indelicado. Para fevereiro, podemos esperar Vozes de Chernobyl, sobre a tragédia na central nuclear de 1986, e em setembro chega A Guerra Não Tem Rosto de Mulher, registo das memórias das mulheres na Segunda Guerra Mundial. Com o livro publicado pela Porto Editora, as três obras formam o ciclo Voices of Utopia, uma espécie de enciclopédia vermelha a que a escritora e jornalista se dedicou ao longo de três décadas.

Outro Nobel da Literatura, Günter Grass também estará entre as novidades do ano, com a Dom Quixote a lançar um livro que o autor alemão deixou pronto antes de morrer, no dia 13 de abril de 2015. Um ano depois chegará às livrarias portuguesas Sobre a Finitude, uma recolha de prosas, poemas e até desenhos a lápis. Como o título indica, a morte é uma das sombras com o qual se debate, mas o escritor levou até ao fim o seu desejo de intervir, e alguns destes textos incluem críticas à chanceler alemã Angela Merkel.

Na poesia, a Assírio & Alvim aposta em Ruy Cinatti, cujo centenário do nascimento foi celebrado em 2015. O título provisório da reunião da sua obra poética é Poesia Publicada em Vida. Já a coleção de poesia dirigida por Pedro Mexia na Tinta-da-China irá trazer-nos Europa, de Rui Cóias, um autor que não publica há mais de uma década e que, em função da obra editada, nos deixa com algum entusiasmo face ao que poderá seguir-se.

Em Espanha, aguarda-se o lançamento (previsto para Maio) do novo romance de Felipe Benítez Reyes. Um dos poetas mais relevantes da língua espanhola, e que tem publicado em Portugal o romance Mercado de Ilusões (Sextante, 2010). Prémio Nadal 2007, Reyes revelou no Facebook que deu por terminada a revisão de um livro em que trabalhava há sete anos. É um autor de quem se pode esperar coisas espantosas.

Também entre os ventos que vêm de Espanha, há que ter em conta a crescente projeção internacional da obra de Rafael Sánchez Ferlosio, que em 2015 lançou Campo de Retamas. Este autor, que entre nós só teve um título publicado, e que se encontra esgotado – Andanças e Façanhas de Alfanhuí, edição da Cotovia -, recolheu no seu mais recente livro textos breves e aforismos.