Autarcas apertam Passos

Assim que acabar o Congresso, Passos Coelho terá em cima da mesa o dossiê das autárquicas para resolver. No PSD, o próximo desafio na agenda eleitoral é visto com atenção máxima e a certeza de que pode ajudar a marcar uma viragem. 

Depois do desânimo de perder o poder ganhando as legislativas, o partido precisa de vitórias para se mobilizar e mostrar força e é sobretudo por isso que estas eleições de 2017 serão determinantes para a liderança de Passos.

É fácil perceber isso, aliás, pela moção que os autarcas sociais-democratas levam ao Congresso deste fim-de-semana em Espinho. Álvaro Amaro, primeiro subscritor da moção, não poupa nas tintas para apontar a importância das eleições autárquicas e deixar claro ao líder do PSD que a fasquia está alta.

«O PSD tem de preparar o futuro, o seu e o do país. E o futuro mais próximo, na política, é, como veremos, o desafio das eleições autárquicas», lê-se na moção submetida ao Congresso, na qual os autarcas sociais-democratas afirmam que «o PSD tem de voltar a encontrar nos resultados eleitorais das autarquias locais a força para se tornar de novo o partido liderante».

Para os autarcas, a forma de dar a volta a este ciclo com a esquerda no poder passa por uma «regeneração partidária, programática e doutrinária» que se deve fazer «pela contínua reafirmação da natureza interclassista do PSD, da sua dimensão humanista e de profundo pendor social, que identifica nas classes médias e nos pequenos e médios empreendedores as forças dinâmicas da sociedade».

Para chegar a esses eleitores, os autarcas acham que vai ser preciso arregaçar as mangas e fazer campanha a sério nas autárquicas. «Regenerar para ganhar deve ser como um regresso às ‘brigadas da cola e dos cartazes’. Do dar sem esperar receber», defendem, explicando que essas eleições podem e devem ser o momento de o PSD «relançar a sua força política e uma dinâmica de maior reconciliação com os portugueses».

A prova de fogo

O apelo feito agora sob a forma de moção é, porém, já há meses debatido nas estruturas locais do PSD, sobretudo em Lisboa, onde há a noção da importância de ter um candidato forte para conquistar a Câmara ao socialista Fernando Medina.

Apesar de a última palavra sobre o rosto do PSD que vai disputar Lisboa caber a Passos, há muito que se discute na distrital e na concelhia quem será o candidato mais forte. Santana Lopes, apesar de se ter retirado da corrida, contonua a ser visto como o mais bem posicionado para vencer. Carlos Barbosa, do Automóvel Clube de Portugal, o ex-ministro do Ambiente Jorge Moreira da Silva e até o antigo autarca Carmona Rodrigues são nomes de que se tem falado, mas sem grande entusiasmo entre as hostes sociais-democratas de Lisboa.

A pressão sobre o tema das autárquicas é ainda maior depois de Assunção Cristas ter tomado a dianteira para anunciar no Congresso do CDS que terá um candidato próprio em Lisboa e que mantém o apoio ao independente Rui Moreira que, no Porto, é também apoiado pelo PS. As decisões de Cristas – que pode ela própria assumir uma candidatura à Câmara de Lisboa – vêm tirar margem ao PSD e tornar mais difícil a vitórias nas duas principais autarquias do país.

Mesmo que no PSD se continue a acreditar que uma candidatura centrista não inviabiliza uma vitória social-democrata – como Portas não inviabilizou a vitória de Santana –, a verdade é que isso faz crescer a pressão para encontrar um nome forte para a autarquia da capital. E essa pode bem ser uma prova de fogo para Passos Coelho.