A relação entre Marcelo e o partido onde é militante com a inscrição suspensa não tem sido fácil. Rebelo de Sousa passou a campanha presidencial a tentar afastar-se da colagem ao PSD, reclamando ser o candidato da «esquerda da direita». E, quando chegou a Belém, mostrou um apoio ao Governo de António Costa que, mesmo sendo compreensível pela direita, não caiu bem entre sociais-democratas e centristas. Agora, as palavras de Marcelo sobre o «otimismo irritante» serviram a Passos para se apresentar como o «realista irritante». E há mais compreensão sobre a atuação do Presidente, mas ainda há frieza entre São Caetano à Lapa e Belém.
Uma fonte próxima de Passos Coelho diz ao SOL que ainda é cedo para avaliar o papel de Marcelo como Presidente. «Quando começar a fazer vetos e promulgações é que vamos poder perceber como está a conduzir o seu mandato. E isso só no segundo semestre deste ano», afirma a fonte social-democrata, que procura rejeitar uma ligação entre a atuação do Presidente e uma eventual mudança na liderança do PSD em consequência de um mau resultado nas autárquicas.
Sabendo que essa era uma teoria que corria nos bastidores, Passos aproveitou a entrevista ao SOL para deixar claro que uma derrota nessas eleições de 2017 não porá o seu lugar em causa. Mas essa leitura está longe de ser unânime no partido, que viu como natural que o Presidente tenha colocado nessa data o prazo de validade da geringonça, mas que não gostou da forma como o fez.
«Ele fala de mais. Vai ter de começar a resguardar-se», comentava um deputado social-democrata esta semana ao SOL, enquanto outro reconhecia que Rebelo de Sousa «ainda age como comentador». A ideia de que o Presidente «fala demais» é, de resto, comum à direita e à esquerda.
No PSD há, porém, outra nota importante que ajuda a ler as declarações sobre a garantia de estabilidade só «até às autárquicas» como um deslize presidencial. É que no partido acredita-se que Marcelo não vai querer provocar eleições antes de ter a certeza de que delas resultará uma clarificação e não um resultado semelhante que obrigue a acordos à esquerda para formar Governo. É que a manterem-se as sondagens e caso haja problemas de entendimento entre PS, BE, PCP e PEV há o risco de o país se tornar ingovernável. Por isso, alguns sociais-democratas dizem agora não ter pressa de fazer cair o Governo.
«Tomáramos nós que o Governo dure até às autárquicas, porque as coisas vão começar a aquecer já na preparação do Orçamento de 2017 e só nos interessa ir a votos quando houver condições para uma clarificação e quando for claro que o caminho do Governo não serve e que as contas estão a derrapar», afirma uma fonte social-demcrata.