CES azeda relações entre PS e PSD

Resta saber se o nome indicado pelo PS em setembro, quando forem retomados os trabalhos parlamentares, será ainda o de Correia de Campos

O acordo para indicar Correia de Campos para presidente do Conselho Económico e Social (CES) ficou fechado na semana passada, depois de meses de negociações difíceis entre PS e PSD. Os sociais-democratas acabaram por aceitar que fossem os socialistas a escolher o nome para o CES e, como moeda de troca, ficou decidido que poderiam para o ano indicar o provedor de Justiça. Hoje, as contas da votação secreta baralharam tudo.

Para o presidente do grupo parlamentar do PS está em causa uma "falha grave de ética" do PSD que faz com que deixe de valer o acordado.

Carlos César não quis dizê-lo preto no branco, mas afirmou que no início da próxima sessão legislativa os socialistas anunciarão a sua posição sobre esta "e outras eleições". Ou seja, no que toca ao PS volta tudo à estaca zero e os sociais-democratas podem deixar de dar como garantido que indicarão o nome do provedor de Justiça, uma vez que não cumpriram o acordo com os socialistas.

Apesar de o voto ser secreto, o raciocínio de Carlos César para atirar as culpas para a bancada do PSD por o nome de Correia de Campos não ter obtido a maioria de dois terços necessária para a sua eleição faz-se com os números. Dos 221 deputados que votaram, só 105 votaram em Correia de Campos, tendo havido 93 votos em branco e 23 nulos. Com tantos brancos e nulos, fica claro que uma grande parte terá vindo da bancada do PSD.

E isso faz César ser duro com os sociais-democratas, acusando-os de faltar à palavra dada. "Há partidos que dão valor aos seus compromissos, há pessoas que honram a sua palavra. Não foi o caso. Nem é o caso do PSD", reagia aos jornalistas no final daquele que foi o último plenário desta sessão legislativa.

Luís Montenegro lembra que o voto é secreto e que foi um "exercício individual", mas a força dos números não lhe permite contradizer em absoluto a tese de que muitos dos que impediram a eleição do ex-ministro da Saúde de Guterres e Sócrates foram sociais-democratas.

Montenegro limitou-se, por isso, a reafirmar que pela sua parte continua a valer o acordo firmado com Carlos César e a prometer que o PSD "redobrará esforços" no sentido de convencer os deputados sociais-democratas a honrar esse compromisso viabilizando a eleição do nome proposto pelo PS. "Mantemos os termos do que acordámos", assegurou.

Resta saber se o nome indicado pelo PS em setembro, quando forem retomados os trabalhos parlamentares, será ainda o de Correia de Campos. É que depois de uma votação tão expressiva contra a sua nomeação, é possível que o socialista se retire da corrida.