O governo tem estado a reunir–se com o PCP para tentar conciliar posições para o Orçamento de 2017, depois das dúvidas manifestadas pelos comunistas sobre as novas recomendações vindas de Bruxelas. Segundo fonte governamental relatou ao i, a possibilidade da continuação do acordo à esquerda está praticamente garantida. E apesar dos medos identificados pelo PCP na carta que acompanhava a declaração sobre a inexistência de sanções – a exigência de mais cortes ou aumentos de impostos -, o governo afirma-se em condições de descansar o PCP. Haverá margem em Bruxelas para acomodar as exigências dos comunistas para que possam vir a dar o sim ao orçamento.
Como o i noticiou ontem, os comunistas ficaram muito preocupados com as notícias vindas de Bruxelas. “Não estão a perceber que as recomendações da Comissão Europeia são todas no sentido de condicionar o Orçamento de 2017 e de pedir coisas que são incompatíveis com os acordos à esquerda, como os aumentos do IVA dos produtos que têm uma taxa reduzida”, afirmou fonte comunista ao i na edição de quinta-feira. “Vai depender das opções de António Costa. Se se submeter ao que Bruxelas quer, rebenta os acordos à esquerda”, disse a mesma fonte.
Mas António Costa não tenciona rebentar os acordos à esquerda – e, no fundo, os comunistas também não têm interesse nenhum nisso – e está a estudar fórmulas de confortar os comunistas, os mais duros críticos da decisão vinda de Bruxelas. Já foi publicamente garantido que o IVA não irá aumentar. Para Mário Centeno, “não está prevista qualquer alteração na taxa” do IVA nem “a implementação de medidas que não estejam inscritas no Orçamento do Estado e no Programa de Estabilidade”. Tudo será feito para não acabar com a geringonça, mesmo que isso implique negociações mais difíceis com Bruxelas que, na nota que acompanhava a decisão de não aplicar sanções, marcou uma data para reavaliar a situação da economia portuguesa: 15 de outubro, precisamente a data em que, por lei, o Orçamento do Estado para 2017 tem de ser entregue na Assembleia da República – já com a garantia do sim dos partidos que compõem a geringonça.
Mas o PCP deu sinais de mal-estar. Enquanto o Bloco de Esquerda mostrava a sua euforia, o PCP, pela voz de João Oliveira, o líder parlamentar, afirmou: “Não se pode considerar, de forma alguma, uma vitória a inexistência de uma expressão financeira desta sanção porque, na prática, o que confirma é uma decisão de punição sobre o país e condicionamento de soberania que não podemos aceitar.” Mais tarde, o Bloco matizou o entusiasmo inicial.
"A Crise evaporou-se” Ontem foi a vez de o Presidente da República voltar ao modo otimista, depois de no início da semana ter chamado os partidos e os parceiros sociais com o objetivo de avaliar a possibilidade de aprovação do Orçamento do Estado para 2017.
“A crise política evaporou-se do panorama político português tal como tinha aparecido. Basta ter ouvido o que disseram os partidos e parceiros à saída das audiências para terem percebido que não há crise política e não vai haver crise política”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa.
Relativamente à aprovação do Orçamento para 2017, o Presidente da República afirmou-se “muito tranquilo”. Marcelo não espera agora que a “tensão” sentida nos últimos dias – simbolizada pela frase de Passos Coelho “em setembro vem aí o diabo” – vá regressar.