O PSD está magoado com Marcelo Rebelo de Sousa, mas Pedro Passos Coelho quer evitar a ideia de uma guerra com o Presidente da República. Por isso, a forma como Marcelo destaca o papel de António Costa na saída do procedimento por défices excessivos – que já se vislumbra – não merece comentários oficiais.
Ontem, as palavras de Rebelo de Sousa sobre a paternidade da redução do défice fizeram títulos de jornais que puxavam pelo elogio ao governo, mas no PSD entende-se que, pelo menos neste caso, o Presidente até destacou o trabalho de Passos.
“Isso é obra, há que reconhecer, do governo anterior, mas é em larga medida obra deste Governo”, dizia ontem o Presidente para lembrar a forma como já ninguém põe em causa que o défice de 2016 ficará abaixo dos 3%.
“Estamos muito tranquilos. O Presidente escolhe bem as palavras e não nos parece que esteja nessa frase a valorizar mais o trabalho do atual governo do que do anterior”, aponta uma fonte da direção da bancada social-democrata, que vê “spinning” na forma comos títulos destacaram o pretenso elogio a Costa.
Uma fonte próxima de Passos Coelho também não quer dar demasiada importância ao caso, mas insiste numa ideia que Marcelo deixou de fora do seu discurso, a de que “o défice não seria esse sem um plano b”.
Sem que ninguém queira comentar as palavras presidenciais, não falta quem no círculo mais próximo de Passos veja na declaração de Marcelo “uma provocação”. Os sociais-democratas não entendem que o Presidente ponha no mesmo patamar um governo que baixou o défice de 11% para 3% em quatro anos e o executivo de Costa que operou uma redução muito menos significativa.
“É óbvio que isto chateia”, aponta outra fonte próxima de Passos Coelho, que acha que o partido tem de ter alguma calma em relação ao seu antigo líder. “O Cavaco também andou com o Sócrates ao colo e depois foi o que se viu. É preciso saber esperar”, defende, explicando que Passos Coelho desencoraja os dirigentes sociais-democratas a cair na tentação de atacar o Presidente.
“Não é por nós que vai haver uma guerra”, assegura a mesma fonte, que considerou “caricata” a forma como Marcelo Rebelo de Sousa veio antecipar o rating da agência de notação financeira Fitch como se estivesse a dar uma boa notícia. “Afinal, ficou no lixo e quando nós saímos do governo tínhamos a indicação de que havia a intenção de mudar o outlook para positivo”, assegura a mesma fonte.
“É preciso lembrar que os números que foram agora conhecidos e que apontam para os 2,3% são contabilidade nacional e em 2015 essa mesma contabilidade nacional apontava para os 2,6%. Estamos a falar de uma redução de poucas décimas”, aponta um destacado social-democrata.
A sensação geral entre as hostes sociais-democratas é a de “injustiça” pela forma como o Presidente da República escolhe destacar os feitos positivos do governo. A forma como Marcelo se colou à defesa de Costa na entrevista à SIC, a antecipação da notação da Fitch e as declarações de ontem são episódios de um filme a que o PSD se vai habituando, mas com o qual convive mal.
As críticas, essas, é que são apenas ditas em surdina, apesar de em alguns casos até virem de sociais-democratas que foram grandes entusiastas da candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa. Calma é a palavra de ordem, porque os sociais-democratas sabem que o namoro com Costa não vai durar para sempre.