Gritos, insultos e pateadas: baixou o nível no debate quinzenal

O debate quinzenal com o primeiro-ministro voltou a subir de tom. Pedro Passos Coelho sentiu-se ofendido, voltou a acusar António Costa de fazer insinuações sobre o seu Governo e lançou um contra-ataque em torno do caso dos offshores.

Costa ainda tentou dizer que não há "crispação", mas já os ânimos estavam ao rubro e foi difícil seguir a sucessão de pedidos de defesa da honra pelo meio de apartes aos gritos, pateadas e aplausos.

"Não há nenhuma crispação no país, nem sequer uma crispação na Assembleia da República. O que há é uma bancada ressabiada", respondeu Costa à defesa da honra feita por Pedro Passos Coelho, gerando um novo pedido de defesa da honra da bancada social-democrata, desta vez pela voz de Luís Montenegro.

"A bancada do PSD não está ressabiada com nada. A bancada do PSD que tem 89 deputados, que a juntar com os deputados do CDS, venceram as últimas legislativas, que suportou aqui o Governo anterior, que recebeu como ponto de partida um país em pré-bancarrota e deixou o país a crescer", afirmou Montenegro, no meio de reações efusivas das várias bancadas que mal deixavam ouvir o debate.

Inflamado, Luís Montenegro subiu o tom e acusou António Costa de falta de educação.

"O primeiro-ministro é mal-educado com aquelas que aqui representam o povo", acusou o líder da bancada do PSD.

"Ainda bem que estes debates são transmitidos para todo o país e todo o país pôde ouvir

manifesto enervamento a forma como se me referiu", respondeu Costa, com um ataque.

"Do líder de uma bancada que se me referiu ainda há quinze dias como sendo 'vil, ordinário, reles e soez', eu não recebo lições de boa educação", reagiu o primeiro-ministro, lembrando a forma como Passos o acusou de "baixo nível" no último debate quinzenal e depois o acusou de ser "reles e ordinário" na reunião à porta fechada da bancada social-democrata que foi relatada em vários órgãos de comunicação social.

Foi o mote para mais uma defesa da honra, desta vez pedida por Carlos César.

"Há quem se sinta e quem não se sinta ofendido em circunstâncias como a presente. O PS sente-se ofendido quando se transforma esta assembleia naquilo que ela não é ou pelo menos não devia ser, um espaço de insulto, um espaço de intolerância e um espaço de guerrilha mediática", acusou o líder da bancada do PS, que acha que "esta assembleia está confrontada com o comportamento do PSD que é insultoso para o Governo e desrespeituoso pelo trabalho parlamentar".

César lamentou mesmo que Montenegro não seja "capaz de pedir de desculpa quando insulta um primeiro-ministro".

Por esta altura, o ruído no plenário era já ensurdecedor e o momento não deixou se merecer o comentário de Catarina Martins no início da sua intervenção.

"Não fica bem a ninguém nesta Assembleia da República e ninguém percebe", afirmou a coordenadora do BE, que acha que à medida que a atual maioria se mostra mais sólida "mais sem argumentos, mais desesperada, eventualmente mais ressabiada – desculpe-me, mas tenho de o dizer – fica a bancada do PSD".

"Não estão a fazer um bom trabalho ao país", lançou a bloquista à bancada social-democrata.

"Nós no BE sempre soubemos fazer oposição com energia, não somos de paninhos quentes", começou por dizer, repudiando um debate que "ninguém percebe" e que está bem longe das preocupações concretas dos portugueses.

"Falemos Português, falemos de coisas concretas para começar", pediu Catarina Martins, depois de mais um momento de grande crispação parlamentar.