“O assunto BES nunca foi discutido em Conselho de Ministros com profundidade”, assume Assunção Cristas ao Público, revelando que o tema foi “referido apenas” em Conselho de Ministros.
“ Recordo-me de uma vez ter sido referido a propósito dos doze mil milhões para a banca. Lembram-se, na altura o líder do PS, [António José] Seguro, sugeriu que se utilizasse uma parte desse dinheiro para injetar na economia. Lembro-me de, uma vez no Conselho de Ministros, o primeiro-ministro ter dito: não faz sentido fazermos isso porque não sabemos se não pode vir a aparecer algum problema”, afirma a líder do CDS, que acredita ter sido essa a única referência de Passos Coelho ao que se poderia vir a passar no BES.
“Lembro-me vagamente de [Passos] ter referido que o BES poderia ser um problema. Acho que foi por aqui. Não posso garantir tudo porque, de vez em quando, havia um ou outro Conselho de Ministros em que eu não estava, por razões de representação do ministério. Mas discussão em profundidade do problema do BES, das soluções, das alternativas, das hipóteses, isso nunca aconteceu”, declara ao Público Cristas, que não vê motivo de estranheza nesta atitude do então primeiro-ministro.
“Fazia parte da visão do primeiro-ministro. O primeiro-ministro sempre teve uma visão que é esta: a banca e o pilar financeiro do resgate eram tratados pelo Banco de Portugal (BdP), que tinha as funções de supervisor independente, e o Governo não deveria meter-se nessas questões. Esta foi sempre a visão do primeiro-ministro. Portanto, o Conselho de Ministros nunca foi envolvido nas questões da banca”, defende Assunção, que diz que esse princípio afastou das reuniões do Governo temas como o BES, o Banif ou a capitalização da CGD.
Cristas diz que aprovou resolução do BES sem informação
Apesar de entender os motivos do líder do PSD, a centrista critica “um bocadinho” a opção de afastar os problemas da banca da discussão no Conselho de Ministros. Mas garante que Paulo Portas também não falou nunca no assunto no CDS.
“A resolução do BES foi tomada pelo Banco de Portugal e depois teve de ter um diploma aprovado pelo Conselho de Ministros. É aí que critico um bocadinho esta coisa de não termos nada que ver, o Conselho de Ministros não tem nada que ver, mas no fim da história é ele que tem de aprovar o decreto-lei”, aponta Assunção, que conta como foi apanhada de surpresa com um facto consumado e teve de dar luz verde a um assunto que não dominava apenas dando como bom o que a então ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque lhe disse ao telefone.
“Eu estava no início de férias e recebi um telefonema da ministra das Finanças a dizer: ‘Assunção, por favor vai ao teu email e dá o OK, porque isto é muito urgente, o Banco de Portugal tomou esta decisão e temos de aprovar um decreto-lei.’ Como pode imaginar, de férias e à distância e sem conhecer os dossiers, a única coisa que podemos fazer é confiar e dizer: ‘Sim senhora, somos solidários, isso é para fazer, damos o OK.’ Mas não houve discussão nem pensámos em alternativas possíveis — isto é o melhor ou não —, houve confiança no Banco de Portugal, que tomou uma determinada decisão”, conta a líder do CDS.
CDS estava contra recondução de Carlos Costa, mas não o quer afastar agora
Hoje, Cristas frisa que o CDS estava contra a recondução de Carlos Costa no Banco de Portugal, até pelo que tinham “observado a ação do governador”.
“A nossa inclinação era a de que [Carlos Costa] não fosse reconduzido. Creio que na altura ficou bastante claro”, afirma Assunção Cristas, lembrando que essa “divergência” com o PSD foi alvo de várias notícias.
Apesar das críticas, a líder do CDS acha que agora o momento é para dar tranquilidade ao Banco de Portugal para que a instituição possa fazer o seu trabalho e evitar “ruído”.
“Há um ambiente ruidoso que não é favorável e que não reforça a instituição Banco de Portugal. Como acho que o país vive e deve viver com instituições fortes, o nosso caminho deve ser o de procurar encontrar ideias e propostas que melhorem a ação dos reguladores, nomeadamente reforçando o Conselho Nacional de Supervisores Bancários, dando-lhe uma estrutura rotativa, um orçamento participado pelas várias entidades que fazem parte do sistema, com um secretariado, com um secretário-geral, para garantir uma melhor articulação entre todas as entidades. Mas discordo em absoluto de uma tentativa, que me parece bastante evidente, de partidarização dos nomes no Banco de Portugal. Acho que isso é negativo para as instituições e, certamente, não contará com o CDS nessa matéria”, diz Cristas.