O líder da concelhia do PSD de Ovar Pedro Coelho, que é vereador de Salvador Malheiro na autarquia, vai renunciar ao cargo. A saída ainda não foi oficializada, mas deverá acontecer nos próximos dias. Na carta entregue há dias ao presidente da Câmara, Pedro Coelho invocou razões «pessoais, profissionais e partidárias» para não continuar na vereação – sendo que, no último ano, apenas ocupava o cargo a meio tempo.
O vereador, a quem Salvador Malheiro (que, além de autarca em Ovar é também vice-presidente do PSD e braço-direito de Rui Rio) entregou o Pelouro das Obras Municipais é dono da Safina, a empresa que está a ser investigada pelo Ministério Público num inquérito que também envolve Salvador Malheiro, por suspeitas de favorecimento.
De acordo com a denúncia que levou à investigação, Malheiro entregou 2,2 milhões de euros a clubes e associações desportivas de Ovar para a instalação de relvados sintéticos em campos de futebol. Esses mesmos clubes terão, depois, adjudicado as obras à Safina de Pedro Coelho, que na altura já era líder da concelhia do PSD de Ovar. Os contratos em causa remontam ao primeiro mandato de Salvador Malheiro, entre 2013 e 2017, e terão envolvido oito clubes e associações do concelho.
Segundo adiantou ontem a Procuradoria-Geral da República (PGR) ao SOL, o inquérito ainda não está encerrado: continua «em investigação e não tem arguidos constituídos». Mas tanto Pedro Coelho como Salvador Malheiro negam que a renúncia à vereação esteja relacionada com o caso que corre na justiça. «A minha repartição de tempo estava a revelar-se muito complicada entre a minha atividade profissional, as funções na câmara e as tarefas na concelhia do PSD», explica Pedro Coelho, que acrescenta: «Vereador, muito bem, mas vereador não é presidente e a minha responsabilidade para com o partido vai aumentar: em 2019 há eleições europeias e legislativas».
Também Salvador Malheiro rejeita a ideia de que o vereador saia por causa da polémica com os relvados sintéticos. «É uma decisão pessoal dele, depois de exercer a meio tempo na Câmara de Ovar, e há uma preocupação muito grande em mobilizar o partido», justifica o autarca e vice-presidente do PSD, que garante ter entretanto já «obtido a informação» de que o inquérito às adjudicações dos relvados sintéticos, que está em segredo de justiça. «vai ser arquivado».
Desde que a investigação começou, no Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Aveiro no início deste ano, Salvador Malheiro rejeitou sempre que a Câmara tenha tido intervenção nas adjudicações das obras à empresa do vereador Pedro Coelho. «O nosso único interlocutor foram os clubes desportivos, e tudo o que sejam regras de contratação pública aconteceu entre os clubes e as empresas contratadas», garantiu. Ontem, ao SOL, o vice-presidente de Rui Rio sublinhou ainda que a Safina é «a única empresa portuguesa produtora de relva sintética».
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