Ferro Rodrigues, o presidente da Assembleia da República, tentou ‘abafar’ o impacto do relatório do Tribunal de Contas (TdC) sobre as irregularidades na Assembleia da República.
O plano era simples.
Ferro tinha uma reunião extraordinária de líderes parlamentares para discutir o problema das faltas dos deputados (na sequência de vários casos, como o de José Silvano) e aproveitaria essa reunião para ‘responder por antecipação’ às objeções do TdC. Assim, quando o relatório fosse divulgado, o Parlamento minimizaria o assunto dizendo que os problemas levantados pelo documento já estavam resolvidos.
{relacionados}
Esta estratégia foi, porém, ‘furada’ pela notícia do jornal i, publicada na quarta-feira, sob o título Parlamento fora de controlo, em que o relatório do Tribunal de Contas era divulgado. Ferro Rodrigues ficou, pois, «irritadíssimo» com a fuga de informação, até porque a notícia teve um impacto imediato nas redes sociais e na opinião pública, desencadeando um pequeno terramoto na AR, com acusações cruzadas.
Líderes parlamentares ‘agridem-se’
O líder da bancada parlamentar do PS, Carlos César, disse que, caso ocorressem no seu partido casos como o da deputada Mercês Borges, que admitiu ter assinado a folha de presenças por Feliciano Barreiras Duarte, os deputados seriam expulsos da bancada. E a tirada de César provocaria uma imediata reação do PSD, pela boca de Fernando Negrão, que duas horas depois afirmou que, se o PS seguisse a ‘receita’ do seu líder parlamentar, ele próprio já não estaria no Parlamento, dadas as irregularidades verificadas nos pagamentos das viagens a deputados dos Açores e da Madeira.
A trajetória do documento do TdC
O ‘trajeto’ do relatório final do TdC sobre os gastos da Assembleia da República começou com uma auditoria do Tribunal ao Parlamento, a que se seguiu um parecer do Ministério Público sobre as conclusões dessa auditoria. A Assembleia da República respondeu, fazendo o contraditório dos problemas detetados, tendo finalmente o Tribunal de Contas elaborado o relatório final.
Foi este relatório final que Ferro Rodrigues tentou ‘abafar’, como foi dito, antecipando medidas que respondessem às objeções do TdC antes de estas serem tornadas públicas. Mas a notícia do i estragou os planos.