Freitas e a ‘zanga’ com a direita

O fundador do CDS publicou o terceiro livro de memórias, no qual fala sobre o Governo de Sócrates, a candidatura a Belém e o final da carreira como «homem público».

Mais 35 Anos de Democracia – Um Percurso Singular é o título do terceiro livro de memórias de Freitas do Amaral. Numa retrospetiva do que foi a sua vida política, o ex-líder do CDS não deixa de falar sobre alguns temas mais sensíveis, designadamente sobre a sua aproximação dos socialistas.

O professor de Direito admite que a viragem do PSD e do CDS à direita tornou inevitável  a sua afinidade com o PS, que se «mantinha moderado». Contudo, Freitas do Amaral assume que o convite de José Sócrates para ministro dos Negócios Estrangeiros representou «um preço demasiado alto». Para Freitas do Amaral, a maioria das pessoas que o apoiou nas eleições presidenciais de 1986 contra Mário Soares «não percebeu, não gostou e, sobretudo, não perdoou» o relacionamento com os socialistas.

«Foi com a direita zangada comigo, e com Sócrates desiludido por eu ter saído do seu Governo pelo meu pé, que terminou, no Verão de 2006, a minha carreira de homem público», recorda o político, acrescentando que nunca mais foi «convidado para qualquer cargo público ou privado» desde esse dia.

Ainda sobre o assunto, o antigo líder centrista desabafou: «Apesar de múltiplos serviços prestados ao país durante mais de três décadas, fiquei sozinho».

 

A relação com o PS

Freitas do Amaral foi ministro dos Negócios Estrangeiros durante 15 meses, tendo-se demitido por questões de saúde. No entanto, a relação com a família socialista podia não ter ficado pelo Governo de Sócrates. O fundador do CDS conta que foi convidado a concorrer mais do que uma vez a Belém com o apoio do PS. Apesar de ter rejeitado a proposta de concorrer contra Cavaco Silva, Freitas do Amaral revela que Sócrates lhe tinha dito que o achava o «candidato ideal». Em 2001, foi a vez de Durão Barroso o desafiar para defrontar Jorge Sampaio nas presidenciais. O ex-dirigente voltou a recusar a proposta e recorda que, em casa de Durão Barroso, explicou que «não queria arriscar uma segunda derrota».

Ainda em relação ao Governo de Sócrates, Freitas do Amaral considera que houve duas fases: a primeira, entre 2005 e 2008, marcada por «uma série de inovações muito acertadas em matéria de justiça social», e uma segunda, em que o antigo primeiro-ministro desfez tudo aquilo que tinha conseguido construir, ao negar a existência de uma «séria crise económica e financeira» em Portugal.