Hobby preferido? “Dar uma volta num carro clássico”. Guilty pleasure? “Açúcar. Sei que faz mal e, mesmo assim, cometo alguns pequenos pecados”. Coca-Cola ou Pepsi? “Isso é o pior veneno que anda aí. O melhor que há é água com o pH acima de sete. A seguir, vinho do bom, depois cerveja e para aí”. Prato preferido? “Lampreia à bordalesa”.
Durante cerca de duas horas, Rui Rio respondeu a 45 perguntas sobre os seus gostos, opiniões, vida pessoal e profissional. Ao estilo das entrevistas de Daniel Oliveira no Alta Definição, como foi denotado com humor por vários participantes, o dirigente deu-se a conhecer melhor aos portugueses, sem tabus e sem recusar perguntas, num evento organizado pela JSD, em Lisboa.
Ao lado de Margarida Balseiro Lopes, líder da juventude partidária do PSD, Rio confessou que o dia mais feliz da sua vida foi quando acabou o curso e “saiu a última nota”. No entanto, o dirigente deu um passo atrás e explicou porque não era o dia em que tinha nascido a sua única filha, respondendo à expetativa da audiência. “Esse dia, por um lado, traz uma grande alegria mas, por outro, grandes dúvidas. Será que ela vai conseguir ser feliz? São mixed feelings”, justificou. Mas, se sobre os dias felizes Rio tem memória, sobre o maior arrependimento, nem por isso. “Não sei. Já me arrependi de muita coisa, mas de pequena monta. (…) Não tenho, para ser sincero”, admitiu. A busca pelo lado mais íntimo do líder do PSD terminou não com a pergunta “o que dizem os teus olhos”, mas com a revelação de um sonho: “Ganhar o Euromilhões”.
Ainda assim, sobre o partido e as suas ideias políticas houve ainda muito tempo de conversa e Rio não perdeu a oportunidade de tocar nalguns temas que lhe são queridos.
A reforma do regime e, por consequência, da justiça foi um dos tópicos tratados. “Como tenho dito ao longo dos anos, muito antes de ser líder, considero que o regime está profundamente desgastado, não está capaz de responder às exigências da sociedade”, começou por referir. Como solução, o antigo presidente da Câmara do Porto apontou a necessidade de “mais transparência e escrutínio democrático da própria justiça”, tal como uma “maior eficácia do seu funcionamento”. Rio defendeu novamente a proposta chumbada na Assembleia da República sobre a alteração da composição do conselho superior do Ministério Público. “Mesmo sendo pouco popular” o líder argumentou que “não pode ser uma corporação, fechada, a fiscalizar-se a si mesma”.
Aproveitando uma pergunta sobre o combate à abstenção, o dirigente também voltou a falar sobre a controversa questão de transformar os votos em branco em cadeiras vazias. Referindo que foi tratado “como se fosse um tonto” quando expôs inicialmente esta ideia, Rio garantiu que já refletiu muito sobre o assunto. Mais concretamente, o dirigente propõe que o número de votos em branco determine o cálculo do número de deputados por cada círculo eleitoral. “Se um círculo tiver um máximo de 12 deputados e se os votos em branco forem superiores a 5%, então esse círculo só elege 11 deputados, e se os brancos forem mais de 10% só elege nove, e assim sucessivamente”, exemplificou. O objetivo máximo é que o “voto de protesto” se transforme no voto em branco, e não em abstenção.
Mas o social-democrata não se dedicou apenas a falar de temas já tratados. Confrontado com a possibilidade de primárias no partido, Rio admitiu que seria interessante realizar primárias de “x em x anos” para “abrir e fazer respirar” o partido. “Se, por um lado, quem deve escolher são os militantes, por outro também tenho a consciência do enquistamento que o aparelho partidário sofre”, afirmou, sublinhando contudo que “primárias sistemáticas” estavam fora da mesa.
No meio da discussão de ideias, apesar de pouco, ainda houve tempo para tecer algumas críticas ao Governo. Qual é a área na qual o Governo mais tem falhado? “É a área dos serviços públicos. (…) O SNS é aquilo de que mais se fala, mas há uma degradação acentuada na área dos transportes públicos e na Segurança Social, designadamente na parte administrativa”, respondeu.
Nunca perdeu eleições. Qual o segredo? “Cada eleição é diferente. Eu diria que o fundamental é a componente da credibilidade, considerando que a credibilidade é o somatório entre a seriedade intelectual, a competência e a coragem. Se as pessoas nos reconhecerem e se dermos um passo em frente, podemos ganhar eleições. Depois há todo um contexto e a credibilidade pode chegar ou não para ultrapassar as circunstâncias envolventes. A equipa também é muito importante”
O que o motiva a levantar da cama? “O procurar ser útil à sociedade do ponto de vista do serviço público”
Algo que nunca contou publicamente sobre si? “Eu sou um livro aberto. Talvez nunca tenha falado de quantas namoradas tive ao longo da vida. Assim a sério… umas três ou quatro”
Maior qualidade e pior defeito? “O meu maior defeito é a minha maior qualidade também: o rigor. Por um lado, é a minha maior virtude mas, por outro, acaba por ser defeito porque me prende demais. Se calhar perco alguma criatividade por isso”
Quando é mais produtivo? “Sou menos produtivo de manhã, começo a acelerar por volta das 16h e atinjo o pico às 21h. Depois começo a desacelerar e à meia-noite já não dá. Sempre fui assim. Quando tinha exames e tinha de ir estudar de manhã ia para o café porque, se ficasse em casa, adormecia”
O presente com mais significado? “O presente que a minha mãe me deu quando acabei o curso. Não pelo presente em si, mas porque a minha mãe não tinha facilidades financeiras e eu percebi que teve de fazer um grande esforço. Ainda hoje o tenho. São uns binóculos”
Plano de férias para este ano? “É igual ao dos outros anos, mas durante muito menos tempo. E espero que me deixem em paz”. Rui Rio passa férias na sua casa em Ponte de Lima. O líder brincou com as críticas que lhe fizeram recentemente, quando foi ao Brasil passar o 10 de Junho. “Por me ter ausentado do país durante três dias úteis foi uma confusão, chegaram a dizer que estava desaparecido”, comentou entre risos.
Jornais online ou em papel? “Claramente, jornais em papel. O problema é que eu há muito tempo que não tenho vida para ler jornais em papel. É preciso uma certa tranquilidade para ler um jornal em papel”
Retrospetiva política Entre quase metade de uma centena de perguntas, Rui Rio confessou ainda que, em 1986, quando apoiou Mário Soares nas eleições presidenciais contra Freitas do Amaral, na realidade nem apoiava um candidato nem era contra o outro. “A sociedade portuguesa vivia uma clivagem muito grande entre esquerda e direita. Para ser sincero, naquela altura preferia estar do lado da esquerda moderada do que da direita moderada”, desvendou. Desafiado a escolher o antigo líder do partido “com quem mais se identifica”, sem hesitar, expressou uma enorme admiração por Sá Carneiro. A seguir disse que era “inegável” o trabalho desenvolvido pelo país por Cavaco Silva. “Com os dez anos de primeiro-ministro, deu um grande contributo a Portugal. Isso é indiscutível.”, assinalou.