No segundo dia de debate do Programa do Governo, esta quinta-feira, na Assembleia da República (AR), Rui Rio garantiu que o PSD não seguirá uma polícia de “bota-abaixo”. Num discurso onde elegeu “as nódoas mais escuros da governação socialista”, o social-democrata alertou ainda para as exigências que serão feitas pelos partidos à esquerda para um futuro "casamento orçamental". Santos Silva respondeu e acusou Rio de alimentar “a lógica populista”.
"Se olharmos para a anterior legislatura e para o texto do presente programa, dificilmente poderemos esperar coisa muito melhor … até porque o que os Orçamentos terão de ter que este programa não precisa de consagrar, são as exigências que a anunciada noiva fará para aceitar o casamento orçamental. Seja num simples namoro ocasional de apenas um ou dois anos, numa união de facto mais ou menos assumida ou num casamento sólido e duradoiro, em qualquer das circunstâncias o enxoval por que o Governo tanto anseia, terá necessariamente de ter como contrapartida a felicidade desta exigente noiva", começou por provocar o líder do PSD, na intervenção de encerramento no debate do Programa do XXII Governo Constitucional.
“Uma nubente cara que, seguramente, exigirá do seu companheiro socialista alguma ginástica financeira com o magro rendimento de que dispõe, agora que já não viveremos tempos de grande euforia económica”, criticou.
Rio não deixou de mandar um recado, não só para os adversários, como também para dentro do próprio partido.
"Não estaremos aqui para destruir, nem para criticar tudo o que os outros possam fazer. A política do ‘bota-abaixo’ carece de inteligência e é própria de quem não se move pelo interesse público, mas sim pelo seu interesse individual ou partidário. O PSD move-se pelo interesse nacional. Por isso, obedeceremos sempre à razão e enfrentaremos sempre a realidade com coragem e verdade. São elas que nos devem nortear na ação política", assegurou.
O líder do PSD elegeu ainda quatro grandes falhas do programa do Governo: a inexistência de uma estratégia para as pequenas e médias empresas (PME), a falta de aposta na agricultura, a ausência de uma reforma para a Justiça e a continuação do desinvestimento na Saúde.
“Os serviços públicos em geral, e a saúde em particular, são as nódoas mais escuras da governação socialista. As palavras doces que este programa contém chocam com a realidade de 4 negros anos de degradação dos nossos serviços públicos”, rematou Rio, sem nunca esquecer as críticas à dimensão do atual Executivo de Costa, que, segundo a sua opinião, "forma seis equipas de futebol e ainda sobram quatro suplentes".
Santos Silva não deixou de responder ao social-democrata. O ministro de Estado considerou que Rio “alimenta a lógica populista”.
O também ministro dos Negócios Estrangeiros garantiu que neste Governo não haverá austeridade cega , nem “irresponsabilidade financeira, como os que prometem baixas de impostos”.
“O silêncio absoluto do líder da oposição sobre os principais desafios estratégicos ao mesmo tempo que dizia arrojado o objetivo dos 750 euros do salário mínimo. A confissão sobre o arrojo sintetiza a indiferença com os problemas de fundo. Em resumo, olhar para trás, na ilusão que os casamentos de constroem com enxovais”, criticou, deixando depois uma resposta direta a Rio.
“Haverá domínios essenciais em que todo o Parlamento se unirá: um país em que o nacional-populismo e xenofobia não têm expressão política relevante. Convém é que o centro-direita não se deixe arrastar pelos julgamentos de tabacaria, pelos casos e casinhos, pela obsessão em diminuir regras e instituições editoriais, e desrespeito pela independência. Na prática, o que faz é alimentar a lógica populista”. A frase foi direitinha para Rui Rio, que usou o caso do Lítio – de uma notícia da RTP – para apontar o dedo ao Governo”, considerou.