O que poderia ser apenas uma micro-remodelação, de acerto de secretários de Estado, com saídas voluntárias, tornou-se um caso com efeitos no PS. Jamila Madeira, antiga líder da JS, dirigente, eurodeputada (e até quinta-feira passada) secretária de Estado Adjunta e da Saúde, foi exonerada a pedido da ministra da Saúde, Marta Temido. Na hora da saída, a secretária de Estado demissionária assumiu, com todas as letras, que não saiu a pedido. Bem pelo contrário. Foi surpreendida. Ao SOL declarou: «Não pedi para sair e naturalmente fiquei muito surpreendida com a opção da senhora ministra da Saúde! Mas saio de consciência tranquila de missão cumprida com a certeza de que fiz tudo o que estava ao meu alcance num ano particularmente inédito! Faço votos que para o XXII governo, liderado por António Costa, com quem tive muito orgulho em trabalhar e para o país tudo continue a correr pelo melhor! A bem de todos! ».
A frase não terá sido pensada ao acaso. Jamila Madeira recebeu mensagens de solidariedade de várias figuras socialistas pela forma como saiu do Governo. Um incentivo suficiente para demonstrar, em público, o seu desagrado pela gestão deste caso.
Ao mesmo tempo, Marta Temido, cuja ligação ao PS surgiu apenas nos Governos de António Costa, ganhou mais alguns anticorpos entre socialistas. Ao ponto de a sua atitude ter sido considerada «miserável» por alguns socialistas ouvidos pelo SOL. De realçar que Jamila Madeira chegou a ter previsto o tradicional briefing das quartas-feiras, pelas 13h30, sobre os dados diários da evolução da pandemia da covid-19. Que acabou por ser adiado para as 17 horas, já sem Jamila Madeira. Quem falou foi a ministra, num sinal de que a sua número dois estava de saída. Apesar de ter sido surpreendida pela decisão, Jamila Madeira já faria parte de uma lista de secretários de Estado que estariam de saída do Governo. Tratava-se de especulações, na altura, mas o processo veio a confirmar-se. Curiosamente, Marta Temido escolheu para seu número dois António Lacerda Sales. Que, tal como Jamila Madeira, foi deputado do PS, coordenou as áreas da Saúde do grupo parlamentar na anterior legislatura e tem empatia junto dos socialistas. Mais, há quem lhe aponte um ganhar de peso político interno face aos anticorpos crescentes da ministra no PS. Há quem, por outro lado, não tenha gostado que Jamila Madeira tenha vindo a público manifestar o seu descontentamento, porque pode dar ênfase a um maior desgaste do Governo nesta fase crítica de combate à pandemia e à crise social e económica.
Contudo, vários elementos do PS admitiram ao SOL que este caso não tem, para já, dimensão nacional, nem atinge diretamente António Costa. O primeiro-ministro apenas pretendia fazer alguns ajustes, porque sabia que tinha vários pedidos de secretários de Estado para abandonarem o Governo. Apesar desta análise, há quem admita que este caso é «mais uma pedra na engrenagem» para o chefe do Executivo, numa semana particularmente difícil para António Costa, com a polémica sobre a sua integração na comissão de honra do recandidato à presidência do Benfica, Luís Filipe Vieira, e o aumento sucessivo de casos de covid-19.
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