Suspende-se a campanha, espera-se, os candidatos multiplicam-se em posições nas redes sociais sobre cancelamento de agendas, riscos de contactos, explicações sobre a comunicação com as autoridades de saúde e, esperam mais um pouco para saber o que fazer às suas iniciativas.
Ontem foi este o filme da corrida presidencial, praticamente parada, após um teste positivo à covid-19 do recandidato presidencial Marcelo Rebelo de Sousa. Foram 24 horas de incerteza e, afinal, hoje serão retomadas as várias ações de campanha que já estavam prevista, após avaliações de risco entre Marcelo e alguns candidatos. Que tiveram contacto com recandidato presidencial na última semana.
Marcelo esteve em quarentena no Palácio de Belém durante 24 horas, depois de um teste positivo PCR feito na Fundação Champalimaud, tendo feito mais dois testes no Instituto Ricardo Jorge. Ambos deram negativos. Pelo caminho, o debate com todos os candidatos na RTP confirmou-se ao final da tarde, chegou a aventar-se que todos estariam presentes, mas a Direção-Geral de Saúde aconselhou Marcelo a entrar em direto via videoconferência, a partir de casa. Esta referência era decisiva porque o presidente recandidato não desejaria fazer o debate por via remota a partir de Belém. E se ficasse em isolamento profilático, (em Belém) não poderia participar para não misturar papéis.
Toda esta avaliação ocorreu em menos de doze horas. Mas há, um diagnóstico já feito por uma das candidatas perante o evoluir da pandemia da covid-19.“A campanha está a ser afetada e o próprio dia da votação vai ser afetado”, afirmou a candidata presidencial Ana Gomes num vídeo de dois minutos, divulgado no Twitter, após a reunião com os epidemiologistas em que quase todos os candidatos participaram, mas só por videoconferência.
Ana Gomes ouviu a reunião e manifestou-se preocupada com o aumento exponencial de infetados e mortos estimados pelos especialistas. À preocupação com a pandemia juntou-se a dimensão política.
“Cabe ao Presidente e à Assembleia democraticamente tirar consequências politicas desta situação imagino que devam ponderar o adiamento do ato eleitoral”, declarou Ana Gomes. A candidata não deseja o adiamento, mas não se oporá.
“Preocupa-me valorizar o ato eleitoral, garantindo que todos que o queiram, possam ir votar em condições de segurança”, advertiu Ana Gomes, apontando para os sinais de alarme do elevado nível de abstenção.
André Ventura, por exemplo, fez um teste à covid-19 num laboratório privado, deu negativo, e as autoridades de saúde não o consideraram como um contacto de alto risco com Marcelo Rebelo de Sousa. Isto depois de ter estado num duelo televisivo com o recandidato presidencial no passado dia 6 de janeiro na SIC. Hoje estará no debate no Parlamento, que servirá para aprovar novo estado de emergência e segue à tarde para os distrito de Santarém e de Portalegre. Pelo caminho ficou a agenda toda em Évora.
Ao i, questionado se não teria sido útil adiar as eleições, Ventura diz que “há várias questões que são problemáticas”. E explica quais são: “uma é que era preciso uma revisão constitucional e em estado de emergência não é possível. A segunda questão é a dos prazos da revisão constitucional. Aí teria de haver uma solução de consenso para que os partidos abdicassem dos prazos (são precisos 30 dias para entregar para propostas de alteração). Ou seja, para o candidato presidencial uma revisão constitucional para alterar datas ou prazos para as presidenciais “deveria ter sido feita era no verão” ou a atual situação poderia ter sido acautelada e pensada.
Agora, com a campanha definida, Ventura está preocupado com um ponto: a abstenção.
“Temo muito abstenção. Num cenário de abstenção massiva, em que só vote 20 por cento do eleitorado, ou até podemos falar de menos, tendencialmente os candidatos com maior projeção nas sondagens tendem a ser os mais prejudicados”, leia-se Marcelo, Ana Gomes e o próprio André Ventura. Mais, “o risco é sairmos das eleições com um resultado, enfim, pouco representativo da vontade dos portugueses. Cabe-nos a nós fazer este esforço agora nos últimos dias”. afirmou Ventura.
Na véspera, Vitorino Silva tinha admitido em entrevista à Lusa que “se não houvesse 50% dos votantes na eleição, não devia ser vinculativa. O Presidente da República não devia sequer tomar posse. O candidato foi um dos que entrou em contacto com a linha SNS24 para avaliar o risco de contacto com Marcelo no passado dia 7. Assim, prosseguiu a campanha na Amadora. Foi, aliás, um dos poucos que não cancelou tudo ontem. E foi lá que defendeu que “se fecharem [o país] na quinta-feira e se não houver eleições, concorda”. Contudo, adverte:” Agora, se houver eleições dia 24, não concordo que fechem as pessoas nestes dez dias e as soltem depois”.
João Ferreira, candidato do PCP, cancelou ontem a participação em ações de campanha em Almada (a iniciativa decorreu sem o candidato por precaução por causa do contacto com Marcelo), mas o também eurodeputado retoma hoje a agenda. Isabel Moreira, deputada do PS, vai estar com João Ferreira na Praça das Flores, em Lisboa. Mais tarde, o candidato terá um encontro com ecologistas e uma conferência online com micro e pequenos empresários.
A candidata Marisa Matias, apoiada pelo BE, também fez o teste à covid-19. Mas já estava previsto porque iria fazer campanha nos arquipélagos dos Açores e Madeira. Hoje começa o dia no Funchal, Madeira, depois de ter cancelado ontem todas as iniciativas, à exceção do debate na RTP.
Tiago Mayan Gonçalves, da Iniciativa Liberal, não fez grandes ajustamentos. Já só tinha previsto participar por videoconferência na reunião do Infarmed e no debate na RTP. E aguarda pelas medidas restritivas a aprovar em conselho de ministros para adaptar a campanha. Se for preciso passará a campanha toda para a versão online e digital.