PSD e CDS fecharam ontem à noite o acordo para as listas de candidatos a Lisboa, mas a semana não foi fácil para Carlos Moedas. A primeira fase das negociações, só ontem concluída, passou por definir as posições de cada partido nas listas para a Câmara, para Assembleia Municipal e para as Juntas de Freguesia, ainda sem nomes em cima da mesa. Mas os dois partidos estão a ser confrontados com fortes pressões das estruturas e dos caciques locais.
A missão não foi e não será fácil. PSD e CDS tiveram de acertar os lugares nas diferentes listas. Mas não só. Carlos Moedas não dispensa incluir nomes da sociedade civil nas listas. E é preciso ainda cumprir a lei da paridade.
O puzzle não é fácil de montar e os dois partidos estão a ser altamente pressionados pelas estruturas locais para não cederem. «Foi uma semana em que Carlos Moedas esteve debaixo de pressão dos caciques de Lisboa», confessa ao Nascer do SOL um social-democrata envolvido nas negociações.
As divergências começaram logo com a equipa escolhida para as negociações: Paulo Ribeiro, que foi derrotado há menos de um ano na disputa para a concelhia de Lisboa por Luís Newton, e João Montenegro, secretário-geral adjunto do PSD. A estruturas locais acusam Rui Rio de escolher homens da sua confiança para afastar a concelhia e a distrital deste processo. As negociações para as juntas de freguesia também podem ser complexas, já que o CDS exige liderar as listas nas zonas em que conseguiu vencer nas últimas autárquicas.
A candidatura de Moedas garante, porém, que a concelhia está a ser envolvida nas negociações, nomeadamente para as juntas de freguesia. Os apoiantes de Moedas responsabilizam o «clã Gonçalves» pelo ruído criado à volta deste processo: «Só querem fazer chantagem e pressão».
Rodrigues Gonçalves, ex-autarca em Lisboa, ainda trabalhou com Rui Rio na área da comunicação, mas demitiu-se depois de o Diário Notícias ter revelado que estava envolvido numa equipa que criava perfis falsos nas redes sociais para espalhar mentiras sobre os adversários políticos. E nas últimas eleições internas, Gonçalves apoiou Luís Montenegro.
A confusão à volta das listas acabou por acelerar o processo. Moedas pediu urgência nas negociações para acabar com o ruído.
Do lado do CDS, as divergências internas também estão a afetar as negociações. O último Conselho Nacional do partido acabou por ser dominado pela candidatura à Câmara de Lisboa. Adolfo Mesquita Nunes considerou «preocupante haver notícias que dão conta de purgas de nomes do CDS em Lisboa». Em causa está a entrada ou não de João Gonçalves Pereira, crítico da atual direção, na lista liderada por Carlos Moedas. Gonçalves Pereira é vereador do CDS na Câmara de Lisboa há oito anos e presidente da distrital.
Francisco Rodrigues dos Santos prefere não abrir ainda o jogo. «Aquele tempo em que as pessoas eram discutidas em primeiro lugar, antes das ideias e projetos, acabou comigo enquanto líder do CDS-PP». Filipe Anacoreta Correia, presidente do Conselho Nacional do CDS, e Francisco Tavares, secretário-geral centrista, são os responsáveis pelas negociações com a candidatura de Carlos Moedas.
As apostas de Rui Rio para ‘roubar’ câmaras ao PS
Já são conhecidos os candidatos do PSD à maioria das maiores câmaras do país. Rui Rio apresentou esta semana mais 50 candidatos com caras conhecidas para disputar concelhos governados pelos socialistas.
Ricardo Batista Leite, deputado do PSD e médico, é o candidato à Câmara de Sintra. Batista Leite tornou-se conhecido durante a pandemia e já está a recolher «ideias e propostas» para apresentar o programa. «Escutarei e reunirei com todos os que quiserem falar comigo e apresentarei em breve a nossa visão», escreveu nas redes sociais.
A tarefa do deputado social-democrata, que ganhou visibilidade com Rui Rio, não é fácil, com a provável recandidatura de Basílio Horta a um terceiro mandato. O PS conquistou a Câmara ao PSD em 2013 e tudo aponta para que volte a apostar no fundador do CDS, que pode ainda cumprir mais um mandato.
António Oliveira, ex-selecionador nacional, é candidato à autarquia de Gaia contra o socialista Eduardo Vítor Rodrigues. O PS venceu as últimas eleições com maioria absoluta e o atual presidente da Câmara recandidata-se a um terceiro e último mandato.
A escolha do antigo jogador obrigou Rui Rio a dar explicações. O líder do PSD é conhecido por condenar misturas entre o futebol e a política, mas justificou a escolha por António Oliveira já não estar ligado ao futebol há cerca de 15 anos. Em Gondomar, outra Câmara em que o atual presidente socialista Marco Martins se recandidata a um terceiro mandato, o PSD aposta em Jorge Ascenção, presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (CONFAP). Sintra, Gaia e Gondomar já foram do PSD e Rui Rio aposta em nomes fortes para a difícil missão de ‘roubar’ câmaras ao PS.
Coimbra é outra das apostas dos sociais-democratas: o ex-bastonário da Ordem dos Médicos José Manuel Silva, que se candidatou em 2017 pelo movimento independente Somos Coimbra, concorre agora pelo PSD contra o socialista Manuel Machado.
‘Sem obrigação de ganhar’
Ainda mais complicado é vencer a Câmara do Porto com a quase certa recandidatura de Rui Moreira. Rui Rio apostou num homem da sua confiança. Vladimiro Feliz foi vereador e vice-presidente durante os tempos em que o agora líder do PS liderou a autarquia. Rui Rio assumiu que tem «uma responsabilidade maior» nesta escolha.
Rui Rio garantiu que o PSD vai disputar as autárquicas com a expectativa de vencer o maior número de câmaras, mas admitiu que, no caso do Porto, o PSD «não tem obrigação de ganhar, mas tem a obrigação de apresentar um excelente candidato». Se Vladimiro Feliz conseguir mais de 10,39%, dos votos já poderá dizer que melhorou o resultado do PSD em relação às últimas autárquicas.