O segredo é a alma do negócio – a frase pode ser batida mas, neste caso, aplica-se na perfeição: a divulgação nos últimos dias pela comunicação social das recentes reuniões que juntaram Alfredo Casimiro, acionista privado da Groundforce, e os espanhóis da Atitlan colocaram travão a fundo nas negociações para a venda da parte que pertence à Pasogal de Alfredo Casimiro na empresa de handling do Grupo TAP, apurou o i. E, neste momento, todos os cenários se mantêm ainda em aberto.
Fonte próxima do processo explicou ao nosso jornal que, nas últimas semanas, Alfredo Casimiro, presidente da Groundforce e líder da Pasogal, terá finalmente recuado no braço-de-ferro com o Governo e aceitado vender a parte de 50,1% que lhe pertence na empresa de gestão de bagagens (os restantes 49,9% estão na posse da TAP).
A Atitlan, fundo de capital de risco com sede em Valência, Espanha – e que é em Portugal está presente através de diversos investimentos nos setores do imobiliário e agroalimentar – ganhou a dianteira pela mão do Governo e da TAP.
Para que as negociações chegassem a bom porto, Alfredo Casimiro exigiu, porém, uma condição: “confidencialidade total” a todos os intervenientes até que o acordo ficasse fechado e fosse oficialmente anunciado.
Apesar das primeiras boas indicações, as notícias vindas a público voltaram a esfriar relações. O presidente da Groundforce sentiu-se traído pelos membros membros do Governo e da TAP, interrompeu as conversas, deu novo passo atrás e, agora, volta a refletir numa solução alternativa, colocando em cima da mesa vários cenários.
Contactado pelo i, a Groundforce não quis confirmar esta versão. “Com base na confidencialidade que este tipo de assuntos merece e exige, não faz qualquer comentário”, respondeu.
Tarefa hercúlea Este cenário deixa novamente em aberto o futuro da empresa. O i sabe que a Groundforce tem dinheiro para pagar os ordenados referentes a abril, mas se a situação não se alterar, no final do mês, as coisas podem vir a complicar-se.
Para ultrapassar a ‘tempestade’ – que Alfredo Casimiro enfrenta desde que, no final de fevereiro, anunciou publicamente a rutura de tesouraria da empresa que controla desde 2012 – , a Groundforce tem de conseguir levantar os penhores bancários que o Montepio executou, pagar o aluguer mensal de 461 mil euros à TAP pelos equipamentos que a companhia lhe comprou, recomprá-los até final de maio por cerca de sete milhões de euros e, por fim, ter liquidez para fazer frente aos custos com os seus cerca de 2400 trabalhadores e impostos nos próximos meses, altura em que se estima que o setor da aviação continue a atravessar uma fase no mínimo frágil – tudo somado, a tarefa não parece nada fácil.
CGD rejeita empréstimo Para complicar (ainda) mais a situação, a Caixa Geral de Depósitos (CGD) terá recusado conceder a Alfredo Casimiro o empréstimo na ordem dos 30 milhões de euros pelo qual o acionista maioritário da Groundforce esperava (e desesperava) há quase… nove meses.
O financiamento, pedido em finais de julho, seria feito através do Banco do Fomento – e pressuponha, por isso, um aval do Estado através dos gabinetes dos ministros da Economia e Finanças que acabou por nunca chegar –, mas a CGD terá esclarecido, segundo informações passadas por membros do Governo à comissão de trabalhadores da empresa de handling, “não ter confiança no acionista maioritário e o mesmo não ter capital, não estando reunidas as garantias necessárias para avançar com o processo”. Por sua vez, a Groundforce revelou ao i “alguma estranheza” perante estas informações, uma vez que “não tem conhecimento, formal ou informal, de que o empréstimo tenha sido colocado de parte”.
Mesmo na falta de confirmação, o ministro Pedro Nuno Santos não tardou a reagir. “Compreendo bem a posição da Caixa Geral de Depósitos. Espero que a breve prazo tenhamos notícias boas sobre a Groundforce“, disse o governante.