Por Alexandre Faria, escritor, advogado e presidente do Estoril Praia
De todos os atos eleitorais, as eleições autárquicas talvez sejam aquelas que mais evidenciam e se focam na figura dos cabeças-de-lista, candidatos a presidentes de câmara. O conhecimento pessoal do candidato e da sua vida profissional ou associativa no município constituem mais-valias consideráveis, sendo até capazes de entusiasmar a participação através do voto, permitindo uma escolha expressa nas pessoas com quem nos identificamos e simpatizamos por serem da nossa terra, assim como pela experiência e perceção que detêm do concelho respetivo.
Esta característica muito própria das autárquicas, porém, tende a esconder de um modo injusto três fatores decisivos: os candidatos que integram as listas, o programa eleitoral onde constam as principais ideias e as reais causas que lhe estão subjacentes.
Estes tempos de pandemia, onde a mensagem política terá de privilegiar a via digital, vão exigir ao eleitor que esteja atento à informação divulgada com maior cuidado do que costuma ser habitual, resistindo à saturação da internet e separando o essencial do acessório numa comunidade virtual onde os meios ao dispor das candidaturas são desiguais, até pela frequência com que as vias institucionais se confundem com as mensagens de propaganda.
Como não podemos deixar de admitir a relevância das eleições autárquicas para cada eleitor, porque, afinal, estamos a escolher o nosso eleito, aquele que será o representante direto mais próximo para a resolução das questões da comunidade onde nos inserimos dentro de uma vertente mais despolitizada, também não se deve negligenciar o impacto global das medidas locais, desejavelmente viradas para um futuro solidário e sustentável para o mundo onde vivemos.
Esta decisiva escolha, por isso, não pode esquecer a equipa de governação municipal proposta, sendo fundamental que o eleitor analise com ponderação os futuros responsáveis por cada pelouro, porque são as equipas que desenvolvem ao longo do mandato o programa eleitoral colocado a sufrágio. Do mesmo modo, para que a fórmula garanta o sucesso, nunca se devem descurar as causas inerentes a uma candidatura, por constituírem a sua verdadeira base de sustentabilidade.
No caso concreto de Cascais, existe pela primeira vez em eleições autárquicas uma opção política que se uniu em torno de causas comuns, não apenas dos partidos que integram essa coligação, mas sobretudo do concelho para o qual se candidatam. Mais forte do que os campos ideológicos de PS, PAN e LIVRE, esta coligação Todos por Cascais, reforçada por independentes, privilegiou as principais áreas comuns pelas quais irá governar, deixando claros os motivos que os movem em prol do concelho.
Se a coligação em si é inédita, as medidas já apresentadas também são. Ao garantir que o pelouro municipal do Ambiente terá de emitir pareceres prévios vinculativos sobre os projetos urbanísticos, ao assegurar a promoção da Cultura, na defesa do associativismo e da identidade de Cascais, e ao assumir que o interior do concelho passará a ter um desenvolvimento semelhante ao litoral, as causas desta candidatura estão bem vincadas: após estas eleições, Cascais será a maior referência no que respeita à defesa do Ambiente e no combate às alterações climáticas, tornando-se numa verdadeira vila das artes que conseguirá reter talentos, dentro de um só concelho, sem discriminações, diferenças ou assimetrias entre o interior e o litoral.