Sem restrições de horários mas com regras até mais de 85% da população estar vacinada. A proposta dos peritos e os apelos de Ferro e Marcelo

Peritos admitem abertura de bares mas não de discotecas. Conheça a proposta apresentada e o que pode mudar. Numa reunião marcada por consenso de que é preciso manter medidas, Presidente da República assume-se “irritantemente otimista” e pede que pais tenham tempo para decidir sobre vacinação de crianças. 

Há consenso entre os especialistas ouvidos no Infarmed que de ainda é preciso manter restrições para controlo da epidemia enquanto decorre o processo de vacinação, mas também que o levantamento já esteve mais longe: com mais população mais vacinada, o virus está a perder e o país a ganhar, resumiu o vice-almirante Gouveia e Melo, coordenador da task-force de vacinação, o último a falar. Na 22ª reunião no Infarmed, foram feitas propostas para os próximos meses, que passam por levantar restrições subindo a atual linha vermelha que determina que concelhos avançam ou recuam no levantamento das restrições dos 240 para os 480 casos por 100 mil habitantes e um desconfinamento em quatro etapas, mantendo medidas gerais, e que só será completo quando o país atingir uma cobertura vacinal superior a 85%. Não foram propostas restrições de horários, como já não tinham sido na última reunião há dois meses, mas os certificados são, segundo os especialistas, para manter no acesso a espaços públicos, assim como o uso de máscaras em espaços fechados e eventos públicos pelo menos até 85% da população estar vacinada.

Além das propostas, que o Governo agora irá avaliar, ficaram outros avisos. Henrique Barros, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, defendeu que se pode esperar um inverno mais perto do normal, com uma "pequena onda" de casos de covid-19 que terá pouco relevo nos internamentos e na mortalidade. O epidemiologista, que falou sobre as perspectivas para o inverno, defendeu no entanto como condição para evitar um pico maior a vacinação de crianças, que considerou "fundamental" – foi o único orador a pronunciar-se sobre o tema que tem dividido investigadores e pediatras, que aconselham prudência e sobre o qual se aguarda o parecer da DGS.

No final, Marcelo Rebelo de Sousa resumiu as apresentações, saudou o regresso das reuniões do Infarmed que classificou de experiência única a nivel internacional e considerou que, em sumário, há motivo de esperança, assumindo-se agora como "irritantemente otimista", uma referência à expressão conhecida de António Costa, com quem diz ter trocado de papel, com o primeiro-ministro agora um "otimismista mais moderado".Como apelo, defendeu a necessidade de os pais poderem decidir com tempo sobre a vacinação dos filhos, que está previsto arrancar a 14 de agosto mas aguarda ainda parecer da DGS. Pediu também clareza na apresentação das medidas, para que as pessoas saibam com o que contar.

Já o Presidente da Assembleia da República pediu que seja abundantemente transmitida informação sobre quantas pessoas internadas e que vieram a falecer estavam vacinadas e, no caso de idosos, se tinham outras doenças, no sentido de mostrar o papel da vacinação e contribuir para a adesão dos mais jovens. Na reunião foram fornecidos pela primeira vez em semanas dados, que mostram que apenas 2% dos internados em enfermaria tinham a vacinação completa, mas são dados que reportam a pessoas que tiveram alta na última semana de junho – na reunião André Peralta Santos falou de semana 26 – e portanto não refletem o último mês em que os diagnósticos e internamentos mais aumentaram. 

Um dos dados apresentados na reunião pela Escola Nacional de Saúde Pública foi que, nos barómetros que realizam regularmente, 25% das pessoas dos 26 aos 65 anos são resistentes à toma da vacina. Espera Ferro Rodrigues que, com mais informação, mudem de atitude.

Linha vermelha sobe para 480 casos por 100 mil habitantes

Andreia Leite, da Escola Nacional de Saúde Pública, apresentou as recomendações do grupo de trabalho que analisa a chamada matriz de risco que deverá sofrer uma mudança a partir da próxima semana. Propõem que incidência a 14 dias e RT se mantenham como indicadores centrais, mas com patamares atualizados no caso da incidência. A proposta é que a linha vermelha suba dos atuais 240 casos por 100 mil habitantes para 480 casos por 100 mil habitantes.

A análise deixaria de ser apresentada no "famoso" quadrado com quatro cores, que se tornou conhecido nos últimos meses nos boletins da DGS e nos briefings de conselho de ministros, mas com tabelas que resumiriam o ponto de situação de diferentes indicadores, dos centrais aos de severidade clínica, com um sistema de cor que traduz o grau de confiança nos dados. Um sistema idêntico ao que é usado nas avaliações do Centro Europeu de Prevenção e Doenças e Public Health England mas um pouco menos imediato para a população em geral que o quadrado atual e que o Governo terá de decidir se adopta ou não.

Três etapas até ao levantamento de todas as restrições, mantendo-se o uso de máscara em espaços fechados

Raquel Duarte, médica do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho, apresentou a proposta de continuidade do desconfinamento feita pela equipa ligada à resposta à epidemia na região Norte, que tem feito as bases dos planos de desconfinamento do Governo. E vão três. 

Assenta em quatro etapas, a última de levantamento total de restrições só quando mais de 85% da população estiver vacinada. 

Segundo a responsável, a ideia é serem desbloqueadas à medida que se avança na vacinação e se o país/concelhos estiverem dentro da matriz que vier a ser adoptada. Em nenhuma das novas etapas se prevê restrições de horários seja de restauração, de supermercados ou circulação na via pública, como já não faziam anteriormente, mas mantêm-se restrições nas lotações, progressivamente menores. A proposta não prevê a reabertura de discotecas mas inclui bares na restauração com lugares sentados, como já faziam também na proposta apresentada em maio, o que na altura não foi adotado.

Nas quatro etapas, propõem três medidas gerais:

– Ventilação e climatização adequadas dos espaços fechados:

– Utilização do certificado digital "por rotina nos espaços públicos"

– Auto-avaliação de rico: a população ser informada de que ter vacinação incompleta, contacto regular com crianças e/ou pessoas não vacinadas, frequentar espaços com aglomeração de pessoas e ter fatores de risco para formas graves de doença por covid-19 aumentam o risco individual.

Nas primeiras três etapas, até se atingir 85% de vacinação na população, os peritos recomendam que se mantenha o uso de máscara em ambientes fechados e eventos p´blicos, promoção de atividades no exterior e lotações reduzidas para maner a distância. Sempre que possível, manter desfasamento de horários e teletrabalho. 

Vamos então ao que pode mudar:

Restauração (bares incluídos)

Na primeira etapa, a atual, poderiam funcionar sem restrições de horários mantendo máximo de seis pessoas à mesa no interior e 10 na esplanada. Quando 60% a 70% da vacinação, o que está previsto para agosto, passariam a ser no máximo 15 pessoas à mesa na explada. Entre 70% e 85%, o que deverá acontecer no final do verão, deixava de haver limites no exterior e mantinha-se um limite de oito pessoas à mesa no interior, que só seria levantado na última etapa.

Hóteis

Mantém-se apenas certificado e exigência de ventilação adequadas.

Eventos de grande dimensão 

Possíveis em qualquer fase, desde que com circuitos bem definitos de circulação e locais onde as pessoas podem ficar de forma a cumprir o distanciamento.

Estádios e salas de espectáculos (eventos de grande dimensão em interior)

Na primeira etapa, 50% da capacidae; na segunda etapa, 75% de capacidade e na terceira etapa sem restrições, mantendo-se medidas gerais e máscara.

Parques e recintos ao ar livre

Uso de máscara apenas nesta primeira etapa, até mais de 60% da população estar vacinada. A partir daí, circulação com manutenção de distância.

Reveja o acompanhamento em direto da reunião, onde foram apresentados novos dados sobre a covid-19 em Portugal.