O resultado “ficou aquém dos objetivos colocados”. Foi desta forma que o líder comunista reagiu ao tombo desta noite eleitoral, mas, ainda assim, afastou para já um cenário de saída, ao garantir que essa questão não está colocada, nem por si, nem pelos camaradas do PCP. No entanto, não descarou o cenário dessa discussão ser aprofundada, “aprendendo sempre e procurando melhorar o nosso trabalho coletivo”. E deixou uma garantia: “Para vosso descanso, um dia deixarei de ser secretário-geral”.
É certo que o líder do PCP falou de “um conjunto de fatores adversos” que limitaram a campanha das autárquicas, entre elas a pandemia e as restrições “aos contactos e às iniciativas de massas”, garantindo que “talvez alguns só saibam ganhar, mas os reveses são lições para fazer melhor”, disse, sublinhando como “a vida política tem destas coisas” e os comunistas não ficam “chorosos e tristes por um resultado eleitoral”, nem tão pouco “temos de bater com a mão no peito e ficar arrependidos”.
Depois de 2017 ter apresentado os piores resultados de sempre – ao ter ficado pelas 24 câmaras – este ano não conseguiu recuperar Almada – que continua nas mãos de Inês Medeiros – perdeu Mora também para os socialistas, uma autarquia que sempre foi liderada pelo PCP desde 1976. O mesmo aconteceu em Alvito, com o PS a chegar ao poder 20 anos depois. O “desastre” repetiu-se em Alpiarça, Montemor-o-Novo e Loures.
No entanto, conseguiu segurar Setúbal – com André Martins a mostrar-se “disponível para dialogar com as outras forças políticas”, depois de reclamar o triunfo “difícil” no município sadino.
O PCP também obteve 37,36% dos votos em Viana do Alentejo, recuperando o concelho 16 anos depois. O mesmo cenário repetiu-se em Barrancos, conquistando a autarquia ao PS, com 46,5% dos votos. Voltou a vencer a autarquia do Seixal – um bastião comunista desde o 25 de Abril, que a CDU venceu com 37,74% elegendo cinco vereadores. Joaquim Santos conseguiu manter-se à frente da autarquia – esta era uma das câmaras importantes para os planos do Governo, uma vez que foi uma das duas autarquias que manteve o veto ao aeroporto do Montijo. Caso virasse para o PS era um alívio para os socialistas do Governo, assim, a autarquia seixalense continua a ser uma pedra no sapato durante mais quatro anos. E o PCP manteve ainda a liderança da Câmara de Évora, apesar da diferença de cerca de 200 votos – ainda assim, Carlos Pinto garantiu: “A CDU não é uma força política que vive apenas para as eleições. Estamos no terreno no dia a dia com as pessoas, com os trabalhadores”.
No entanto, os resultados levaram Jerónimo de Sousa a admitir que “naturalmente existem perdas” nas autarquias, mas reiterou a “disponibilidade” para servir as populações “seja em maioria ou minoria”.
“Grande força do poder local” Apesar do confessado fracasso, o líder comunista garantiu que a CDU continua a ser “uma grande força do poder local”, lembrando que os dois anos de pandemia “expuseram” os problemas nacionais e locais e critica a “exibição de recursos que o Governo propagandeia”, exigindo uma “tradução nos investimentos”. E deixou uma garantia: “Passado o tempo da resposta emergente, é preciso olhar para o futuro e dar as respostas que podem e devem dar-se”, sem as limitar a “leituras” restritas do Orçamento do Estado.
“Não se pode, em nome das opções de classe do PS, adiar soluções para agravar os problemas do país” e quando questionado se estes resultados terão “eco” na política nacional, o secretário-geral do PCP garante que “não são determinantes” e que a política “não se esgota no Orçamento do Estado para 2022”. Para o líder comunista não há dúvidas: “Coloca-se com maior premência a necessidade de dar resposta aos problemas do país”, referindo que “não há razões que justifiquem o adiamento das opções e respostas para os problemas imediatos e urgentes que persistem sem resposta”. E deu vários exemplos: aumento dos salários, a contratação coletiva, os horários dignos e os vínculos permanentes ou a revogação das “normas gravosas” da legislação laboral. Também o aumento das pensões para todos os reformados e a criação de uma rede de creches públicas para todas as crianças são outras reivindicações.
“São estas opções que é preciso assumir. Não se pode, em nome das opções de classe do PS, adiar soluções para os problemas do país. Portugal precisa de uma política alternativa”, referiu o secretário-geral comunista.
Resultados em Lisboa e Porto alegram Ainda antes de serem conhecidos os resultados finais, Jorge Pires, membro da comissão política do PCP, revelou que os resultados do Porto e de Lisboa deixaram satisfeitos os dirigentes do PCP, com João Ferreira e Ilda Figueiredo a consolidarem os resultados obtidos há quatro anos, referindo que se tratam dos “dois maiores concelhos do país e com grande importância política e eleitoral”.
Um resultado que levou o candidato a Lisboa a garantir que é “indissociável do reconhecimento do trabalho feito pelos eleitos da CDU nos últimos anos e de uma identificação crescente do projeto para a cidade”.
“A força que recebemos nestas eleições é a força que vai contar para as próximas lutas que vamos travar nos próximos anos em Lisboa”, afirmou, lembrando as bandeiras comunistas para a cidade: o direito à habitação, o direito a serviços públicos de qualidade, o direito à mobilidade, a um ambiente de qualidade, à cultura, ao desporto e ao lazer”.
João Ferreira agradeceu a todos os que confiaram o seu voto à CDU em Lisboa, sublinhando que “muitas pessoas o fizeram pela primeira vez”. “A todos deixamos a certeza que vamos honrar a confiança que depositaram na CDU. Este é um voto vai valer a pena”, prometeu.
Também Ilda Figueiredo, que foi pela quarta vez candidata da CDU à presidência da Câmara do Porto, deixou uma promessa: ““A nossa luta é essa, dar condições dignas da habitabilidade e de vida aos moradores da cidade, ter uma cidade mais solidária e criar as condições para que os que foram escorraçados possam voltar”.