por Gonçalo Morais
“Sentimento de falha” – é este o sentimento dos professores portugueses nos dias que correm, na visão de Vítor Godinho, membro do secretariado nacional da Federação Nacional dos Professores (Fenprof) e dirigente do Sindicato de Professores da Região Centro (SPRC). Quase um mês depois do início do novo ano letivo de 2021-22 (as escolas abriram entre os dias 14 e 17 de setembro), ainda existem, em estimativa, cerca de 30 mil alunos por todo o país sem terem aulas devido à falta de professores – número esse que pode mesmo chegar aos 40 mil. As disciplinas mais afetadas com a falta de docentes são Informática, Físico-Química, Matemática, Biologia e Inglês.
“O que vejo neste momento, pelas intervenções do Ministério da Educação, é insensibilidade para com os professores”, diz Vítor Godinho ao i. Quando o Governo fala sobre a recuperação das aprendizagens, “na verdade o que existe é falta de professores”, explica. Mas, além disso, não há “atração nenhuma” dos jovens pela profissão e, se o atual panorama não sofrer modificações, as coisas não irão melhorar porque essas gerações veem um conjunto de constrangimentos já característicos da profissão que a distancia de ser realmente uma opção profissional”, explica.
Perante o “grave problema” que o setor atravessa, a Fenprof apresenta uma travessa cheia de propostas para a atual situação dos professores, dividindo-as em duas fases. Em primeiro lugar, as propostas de curto prazo, onde Vítor Godinho considera ser necessário uma ideia “que promova a profissionalização e serviço dos professores”. Por outras palavras, um programa de profissionalização para os licenciados, independentemente da área que escolheram. Uma outra alternativa, explica, passa por resolver o problema dos “horários que manifestam mais resistência em ser preenchidos. Como por exemplo completá-los ou, no mínimo, alargá-los para 16 horas, que são horários pequenos”.
Numa perspetiva mais abrangente, as medidas a longo prazo passam por refletir o atual estado da profissão e como será o seu futuro. Posto isso, adianta Vítor Godinho, chega-se rapidamente à conclusão que é necessário investir na sua “atratividade”. Isto porque mesmo com um programa de profissionalização e serviço para os recém-diplomados, também é necessário convencer os jovens de que os “cursos de formação inicial de professores” são uma opção e não algo que deva ser imediatamente descartado. Este fator joga ainda com uma outra questão a ter em conta: a atratividade da profissão é importante até “para num futuro relativamente próximo – daqui a cinco ou seis anos — haver um número de docentes que consiga substituir os atuais 58% de professores que se aposentarão”.
Para que isso acontença, é crucial haver melhores condições de trabalho: o que inclui não apenas uma melhor renumeração, como também “melhores horários e melhores condições para o desenvolvimento da carreira, sem que haja os constrangimentos que ela hoje evidencia”, defende.
Isto significa que é necessário combater a “precaridade da profissão” – ou seja, “que levem as pessoas a perceber que faz sentido investir nesta área de trabalho aqui em Portugal, porque não vão estar 15 ou 16 anos com contratos um pouco por todo o país até que haja a desejada estabilização do emprego”, o que se traduz na passagem aos quadros.
Dia Mundial do Professor marcado por manifestação
O dia mundial dos professores, que se comemora no dia 5 de outubro, foi pretexto para que sindicatos e trabalhadores da área se manifestassem contra a tual situação.
O protesto partiu do largo de Santos com destino ao Ministério da Educação, em Lisboa. Os manifestantes exibiram várias bandeiras dos sindicatos, mas também traziam consigo cartazes com palavras-chave, com prioridade para as carreiras, a aposentação e os salários.
Greve deixa milhares de alunos sem aulas
Entretanto, dezenas de escolas encerraram e milhares de alunos ficaram sem aulas no dia 4 de outubro, dia anterior ao Dia Mundial do Professor, devido à greve de professores, cuja adesão rondou os 50%, segundo o SIPE – Sindicato Independente de Professores e Educadores.
*Texto editado por Sónia Peres Pinto