Inês Sousa Real
“Temos um projeto entregue na Assembleia da República relativamente à questão da instalação de estufas e às produções intensivas e super intensivas para que não sejam instaladas e para haver uma suspensão até que haja um instrumento de ordenamento do território com regras adequadas”, nomeadamente na zona de Odemira. A garantia foi dada ao i por Inês Sousa Real, numa entrevista publicada a 19 de setembro.
Na mesma entrevista, a líder do PAN, que foi uma das principais críticas à situação que se vivia na zona de Odemira, lembrou que “há muito tempo [tinha alertado para essa situação] e nunca foi ouvida, nem levada a sério” sobre este problema. E acusou ainda a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) de levar a cabo uma “grande tentativa de descrédito não só do PAN, mas também dos movimentos associativos que procuram defender e proteger os animais”.
E foi mais longe, ao considerar que “essas críticas não são de forma nenhuma justas”, acrescentando que “não se trata de uma realidade urbana, conhecemos muito bem o mundo rural e temos a consciência que o mundo rural não se esgota nas atividades com animais, muito pelo contrário”.
De acordo com a responsável, há um número muito expressivo de agricultores e que o mundo rural não se esgota na pecuária e sobretudo na pecuária intensiva e super intensiva. “Ter esta visão tão estreita do mundo rural demonstra claramente que o desconhecimento não é do PAN mas de quem está, curiosamente, em Lisboa a fazer lobby pelos interesses da atividade pecuária”.
E acrescentou: “Não temos furtado de ouvir quem quer que seja inclusivamente os influentes pecuários e os suinicultores. Estivemos reunidos com eles a propor medidas de bem-estar animal para ver o que podíamos fazer para avançar a nossa legislação”, disse na mesma entrevista, acrescentando que “o PAN não só ouve os diferentes setores, como também deixa bem claro que conhecemos a realidade e é precisamente por a conhecermos que sabemos que há um país, cujas assimetrias sociais e regionais têm de ser fortemente combatidas”
Sousa Real foi mais longe ao garantir que o partido não aceita o lobby que é feito próximo do Parlamento, em detrimento dos pequenos agricultores, da agricultura familiar e da agricultura biológica que estão a passar por tantas dificuldades. “Basta pensarmos no que aconteceu, por exemplo, com a rega do Mira e com a escassez de água dos pequenos agricultores que não estavam a ter acesso para as suas produções para percebermos que temos um país claramente desequilibrado entre aquelas que são as grandes explorações e a atividade intensiva e super intensiva e os pequenos produtores que procuram até ter boas práticas, mas que depois não são valorizados, quer pelos incentivos financeiros quer pela própria legislação”, salientou.
Na mesma entrevista, Inês Sousa Real aproveitou ainda para tecer duras críticas ao olival intensivo, nomeadamente junto à fronteira de Espanha. “Temos hectares a perder de vista de olival intensivo, que nem sequer está a reverter para a criação de riqueza para o nosso país. Está a destruir não só o nosso património natural, como está a explorar os nossos solos e a dar cabo da nossa biodiversidade. Foram retiradas oliveiras centenárias, que foram vendidas para o exterior, e o que temos são espanhóis a virem esgotar os nossos solos”.
E acrescentou: “Temos de olhar para o território como um todo, perceber quais são os interesses que estão em jogo e como é que vamos apoiar os nossos produtores e fazer crescer o país de uma forma mais resiliente face àquilo que vai ser um dos grandes desafios que são as alterações climáticas”, lembrando que “Portugal vai ser um dos países que mais vai sofrer com a seca extrema e também com a escassez da água. Vamos ter períodos de grande ausência de chuva, nomeadamente no Alentejo e no Algarve, e estamos a falhar redondamente nesta matéria. Além das reduções das emissões de carbono temos que ter planos de adaptação do território às alterações climáticas e isso não está a ser efeito”.
Inês Sousa Real aproveitou ainda para apontar o dedo a atividades como a tauromaquia e a caça, lembrando que, neste último caso é permitido no Parque Nacional Peneda Gerês a caça ao corso, quando este é o símbolo do parque.
Luís Mira
“A questão da cultura intensiva é igual à do chef e do cozinheiro. Ninguém quer ser cozinheiro, quer ser chef. É uma questão linguística. O PAN – e não é só o PAN – não tem conhecimentos científicos para fazer essas críticas. Os partidos políticos que atacam esse tipo de culturas não têm qualquer conhecimento técnico e científico sobre o que estão a falar”. A garantia foi dada ao i pelo secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), numa entrevista publicada a 9 de outubro.
E foi mais longe: “O ataque ideológico que se faz às culturas do Alqueva – que apelidam de monoculturas ou de culturas super intensivas – são questões ideológicas. Não há culturas mais adaptadas àquelas regiões do que as culturas mediterrânicas: olival, vinhas, frutas, hortícolas”.
O responsável também teceu duras críticas em relação às acusações do PAN sobre a exploração das estufas em Odemira. “Quais questões polémicas? As pessoas do PAN também comem tomate cherry e acham que o tomate cherry vem de aonde? Vem das hortas de Lisboa ou vem das estufas de Odemira? Não posso defender uma coisa e não saber o que estou a defender. Então eles que são vegans pensam que o tomate, os pepinos, as beringelas vêm de onde? Há aqui coisas em que é preciso sermos coerentes”, referiu.
Luís Mira disse, na mesma altura, que as estufas são talvez do sistema produtivo mais eficiente em termos de gestão de água, de recursos que pode existir, porque aquilo é fechado. “Dentro de uma estufa praticamente não ponho agroquímico nenhum, porque controlo a temperatura, a humidade, o solo. A água que lá ponho utilizo-a toda e a que não utilizo reciclo. Há alguma coisa mais eficiente ambientalmente do que isto? Então digam-me onde é que é para ir ver, porque não conheço”.
E não deixou margens para dúvidas nessa matéria: “Há aqui uma questão ideológica. A esquerda é contra tudo o que sejam empresas e negócios estruturados. Em Odemira, a grande base são empresas, algumas multinacionais que se instalaram ali há 15 ou 20 anos e que têm o seu negócio estruturado e que rendem à economia nacional 200 milhões de euros por ano em exportações”.
Também em relação aos olivais no Alqueva admite que nem todos os projetos podem ter corrido bem. Mas deixou um recado: “Há correntes ideológicas, não estou a dizer que tudo aquilo que existe nos olivais no Alqueva foi feito a cumprir a lei, acho que há coisas que não foram corretas. Mas isso cumpre ao Estado fiscalizar, o Estado é que não cumpre a sua função. O problema não são mais leis, o problema é aplicar as que existem”.
Na mesma entrevista quando questionado sobre a acusação do PAN em fazer lobby no Parlamento, disse apenas: “A CAP representa o lobby da agricultura com muita honra, tanto aqui como em Bruxelas. Não conheço nenhuma outra confederação que tenha em Bruxelas uma estrutura como a CAP tem e também é verdade que grande parte da legislação comunitária é agrícola. Em relação ao Parlamento, é normal que haja alguns contactos, tentamos chamar a atenção para as situações que estão erradas. Se fazer lobby é defender o melhor para o país, então somos lobistas na primeira linha”.
Luís Mira também deixou ainda uma palavra em relação aos ataques que estão a ser feitos em relação às touradas. “Essa é uma questão cultural, quer se queira, quer não. As pessoas foram crescendo com esse tipo de procedimentos, habituados a ver e a participar em touradas. É muito difícil para uma pessoa que participou em touradas, a emoção que aquilo traz, ver o seu fim. E só existem touros porque há touradas. Um dia que acabem as touradas acabam-se os touros todos, ficam ali quatro ou cinco no jardim zoológico para verem como são, porque não têm interesse para mais nada. Um touro de lide não é um gato, nem serve para comer porque demoram muito tempo a crescer”. E acrescentou: “É uma coisa que temos quase única no mundo e nem nisso somos capazes de saber valorizar, nem de criar uma situação em que há zonas do interior do país com menos capacidade de criar riqueza que podem explorar essas atividades, como a caça, as touradas, onde podem ir buscar grande parte do seu rendimento”.