“Hoje não sou engenheiro, hoje apoio o exército”, escreveu Dmytro de manhã dos arredores de Kiev. A Ucrânia acordou com a praça central de Kharkiv, a segunda maior cidade do país, a ser destruída por bombardeamento russo e uma escalada de alertas para Kiev. Pedidos para civis nas imediações de instalações militares fugirem e a meio da tarde um ataque a uma infraestrutura crítica: a torre de transmissão televisiva, derrubada numa série de bombardeamentos.
Faz esta quarta-feira à noite uma semana desde o início da invasão russa, numa escalada de destruição, medo e resistência na Ucrânia, com Moscovo mais isolada.
A China, cuja posição até aqui no conflito tinha sido considerada ambígua, mandou retirar a comunidade chinesa do país e mostrou-se esta terça-feira disponível para mediar um cessar fogo. No comentário considerado o mais forte até ao momento, Pequim mantém respeitar a integridade territorial, mas deplorou a guerra que se vive na região, considerando como prioridade principal pará-la. “À medida que a guerra continua a expandir-se, a principal prioridade é aliviar a situação para evitar que o conflito aumente ou mesmo que fique fora de controle, especialmente para evitar danos a civis e garantir o acesso seguro e oportuno da ajuda humanitária”, afirmou o ministro chinês dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, citado pela imprensa internacional.
Ponto de situação De acordo com o Instituto de Estudos da Guerra (ISW), think-tank norte-americano, a ofensiva russa entra numa nova fase que deverá desenrolar-se pelas próximas 48 a 72 horas, com a zona leste do país e Kiev na linha de invasão.
A sudeste, a cidade portuária de Mariupol terá ficado ontem sem eletricidade, com relatos de uma cidade cercada a multiplicarem-se ao final do dia nas redes sociais e pedidos para que se não se esqueça Mariupol. Um pouco a norte, mantinha-se ontem a tensão junto a Enerhodar, onde fica a central nuclear de Zaporozhzhia, a maior central nuclear europeia.
Mas depois do ataque em Kharkiv, os olhos viram-se para Kiev, depois de relatos de uma coluna militar russa com dezenas de quilómetros a caminho. O ataque à torre de difusão televisiva fez cinco mortes.
Em declarações num bunker em Kiev, o Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky disse que a Ucrânia lutará “com mais força do que qualquer um” mas não pode fazê-lo sozinha. Insiste também na restrição do espaço aéreo. Em declarações à Reuters e CNN, Zelensky rejeitou que seja um ícone e disse que o que se está a passar na Ucrânia é real, “não é um filme”.
Crimes de guerra Já durante o dia, Zelensky tinha considerado que em Kharkiv, onde os bombardeamentos a edifícios camarários fizeram pelo menos uma dezena de mortes, foram cometidos crimes de guerra.
E ainda antes deste ataque o procurador Karim Khan já tinha anunciado a abertura de uma investigação por parte do Tribunal Penal Internacional. Salientando que a Ucrânia não é um estado-membro do estatuto de Roma, o tratado que estabeleceu o Tribunal Penal Internacional em 1998, Karim Khan disse ter já havido dois precedentes no território e que revistas as informações preliminares acredita que há bases razoáveis para acreditar que foram cometidos crimes de guerra e contra a humanidade.
“Vamos responsabilizar a Rússia e as nossas sanções já estão a ter um impacto devastador”, disse por sua vez o Presidente norte-americano Joe Biden, após falar ao telefone com Zelensky.
O anúncio de sanções continua. Ao final do dia, o Reino Unido anunciou sanções à Bielorrússia por apoiar o conflito. Com o cair da noite, anteviam-se novas movimentações, com as noites e madrugadas mais difíceis de levar na Ucrânia de onde fugiram mais de meio milhão de pessoas nos últimos sete dias, com muitas em trânsito e outras a armarem-se e a construir barreiras para demover o avanço das tropas russas. Segundo o serviço de controlo de fronteiras ucranianos, citado pelo Kyiv Independent, nos últimos dias regressaram ao país 80 mil ucranianos para proteger o país, a maioria homens para se juntarem ao exército.