Siza Vieira. O último a saber

Pedro Siza Vieira, n. 2 do Executivo ainda em funções, só soube que António Costa já não contaria com ele na última reunião do Conselho de Ministros. ‘Não percebeu os sinais’, diz fonte do PS. Deixou de falar ao PM, mas a relação entre ambos já era má ‘há algum tempo’. Alexandra Leitão também só…

Por Joana Mourão Carvalho e José Miguel Pires

Pedro Siza Vieira, ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital, na lei orgânica do XXII_Governo Constitucional aparecia como número dois do Executivo, imediatamente a seguir ao primeiro-ministro, António Costa. E acreditou até à última hora que continuaria a ser o titular da pasta da Economia no Governo que se segue, de maioria absoluta do PS_. Por isso, a três dias do anúncio formal do novo elenco governativo, ainda falava à imprensa e dava entrevistas a órgãos de comunicação social (por exemplo, o Dinheiro Vivo) falando sobre os preços dos combustíveis e as políticas do Governo. E manteve até ao último dia uma intensa agenda com agentes do setor.

Isto porque Pedro Siza Vieira só soube mesmo que não continuaria no Governo, nem na pasta da Economia nem noutra qualquer, quando ouviu António Costa elencar os nomes dos futuros governantes na última reunião do Conselho de Ministros, nesta quarta-feira.

Aliás, a surpresa estendeu-se a todos os membros do seu gabinete, tanto assim que as caixas para arrumação e preparação da abalada só começaram a chegar ao Ministério da Rua da Horta Seca já na quinta-feira de manhã.

Na reunião do Conselho de Ministros, e depois de saber que não ficava, Siza Vieira fez uma intervenção serena de despedida dos seus colegas. Mas não voltou a dirigir a palavra ao primeiro-ministro e seu amigo pessoal de há décadas.

«A verdade é que a relação entre ambos já era má há meses. Já não se falavam bem há algum tempo», disse ao Nascer do SOL uma fonte do PS, acrescentando que Siza Vieira cometeu um «erro» fatal em política: «Não soube ler e interpretar os sinais», comentou ao Nascer do SOL uma fonte do PS.

Outra fonte bem colocada no partido corrobora a degradação das relações entre Costa e Siza ao longo dos últimos tempos, «para não dizer desde as escutas que acabaram por envolver o líder» num processo em investigação em que foram intercetados telefonemas dos ministros Matos Fernandes e Siza Vieira e do secretário de Estado João Galamba – sendo que os dois primeiros abandonam o Governo, mas o terceiro continuará, como secretário de Estado do Ambiente e da Energia, no Ministério que será tutelado por Duarte Cordeiro.

Os casos da refinaria em Matosinhos, Sines e os negócios do Lítio foram alguns dossiês que contribuíram para o afastamento do primeiro-ministro e do seu número dois.

Aliás, bem exemplificativo desse distanciamento foi o que aconteceu no passado verão: António Costa foi sucessivamente adiando as suas férias por forma a fazê-las coincidir com as de Siza Vieira e com as de Augusto Santos Silva (ministro de Estado, dos Negócios Estrangeiros e número 3 da hierarquia governamental – que tinha dito pouco tempo antes que queria sair do Governo e regressar à Universidade) por forma a deixar interinamente na chefia do Executivo a sua número 4, e agora confirmada como n. 2, Mariana Vieira da Silva.

 

Alexandra Leitão também ‘apanhada de surpresa’

O Nascer do SOL apurou que António Costa esperou pelos últimos dias para informar os ministros que não foram reconduzidos – excluindo os que se auto afastaram (como Francisca Van Dunem, Graça Fonseca, João Pedro Matos Fernandes) –, como foi o caso do ministro do Mar. Ricardo Serrão Santos esteve nos últimos dias fora de Portugal e soube por um telefonema de António Costa na terça-feira que não faria parte do próximo Governo.

Mas não foi só Siza Vieira quem ficou a saber só mesmo à última e já em pleno Conselho de Ministros que não fazia parte dos planos futuros do primeiro-ministro.

Também Alexandra Leitão recebeu com surpresa a sua não continuidade no Governo, sobretudo depois de ter sido apontada à pasta da Justiça – o que não veio a verificar-se.

Alexandra Leitão terá sido apanhada no meio da medição de forças entre Belém e S. Bento que estes processos sempre desencadeiam, e que culminaram na passagem de João Gomes Cravinho da pasta da Defesa para a dos Negócios Estrangeiros, numa deferência de António Costa para com Marcelo Rebelo de Sousa.

 Alexandra Leitão também ficou desiludida com o afastamento e expressou a sua insatisfação na recusa da liderança parlamentar que António Costa quis oferecer-lhe imediatamente a seguir. Nas palavras de um histórico socialista, Leitão não podia aceitar o lugar que acabou por ser entregue a Eurico Brilhante Dias: «Quer dizer, ele metia-a na rua e ela ainda ficava a dever-lhe um favor?».

Na reunião com o grupo parlamentar confirmou-se igualmente o que o jornal i avançou em primeira mão há mais de mês e meio: Augusto Santos Silva será o próximo presidente da Assembleia da República, sendo o candidato do partido maioritário ao lugar de segunda figura do Estado português. Santos Silva deixa assim funções no Executivo, sendo que é o ministro com mais tempo de ministro dos governos de Portugal desde o 25 de Abril.

Na reunião com o Grupo Parlamentar, António Costa deixou igualmente claro que Ana Catarina Mendes, futura ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, terá a coordenação política entre o Governo, a bancada e o partido.

Nessa reunião, ficaram ainda a conhecer-se as principais alterações no Largo do Rato, fruto da separação clara que António Costa quer manter entre Executivo e partido. O antigo líder da JS_João Torres  será, assim, o sucessor de José Luís Carneiro enquanto secretário-geral adjunto do PS.

Tal como o Nascer do SOL foi noticiando em primeira mão nas últimas semanas, José Luís Carneiro será um dos seis ‘ases’ do PS  no novo Governo, ficando com a pasta da Administração Interna. Confirmou-se também, como aqui escrevemos, que Mariana Vieira da Silva será a número dois de António Costa, ficando com a pasta da Presidência do Conselho de Ministros, Fernando Medina com a das Finanças, Pedro Nuno Santos com a das Infraestruturas, Duarte Cordeiro com o Ambiente (além de Ana Catarina Mendes como Adjunta e dos Assuntos Parlamentares).

Além disso, confirmaram-se as saídas anunciadas por nós, a passagem de Cravinho da Defesa para as Necessidades por deferência a Marcelo, a entrada de António Costa Silva para a Economia, de João Costa para a Educação e continuidade de Marta Temido na Saúde e de Ana Mendes Godinho na Segurança Social e Trabalho.