Depois de o Presidente da República discursar, foi a vez do empossado António Costa falar para o país como primeiro-ministro, ao seguir o terceiro mandato na liderança do Governo socialista. Para Costa, findo um período de austeridade, "Portugal tem hoje as condições de que nunca dispôs para virar a página para um novo ciclo de desenvolvimento sustentável e inclusivo", estando, por isso, em condições de ultrapassar questões relacionadas com a pandemia, e ainda com a guerra.
No início do discurso, Costa começou por manifestar a sua "profunda gratidão" aos ministros e secretários que cessam funções, ao destacar todos os sucessos que foram alcançados perante "a tormenta" da pandemia, entre os quais a "capacidade de resposta do SNS e sucesso da vacinação" e também as medidas adotadas para apoiar as empresas.
“A tormenta não nos impediu de cumprir com distinção a presidência portuguesa do Conselho da UE”, sublinhou Costa, ao mencionar ainda mais outros “objetivos estratégicos” concretizados, como a redução do abandono escolar, o encerramento das centrais de carvão e também o combate à pobreza: “Temos hoje menos 354 mil pessoas em risco de pobreza do que tínhamos em 2015”.
No entanto, para Costa, os anos em que os socialistas governaram o país não foram apenas "anos de combate às crises, foram também anos de reformas profundas que mudaram estruturalmente a nossa sociedade e a nossa economia”.
Mas quanto aos desafios da guerra na Ucrânia que a Europa está e irá atravessar, Costa disse que "desta vez a tormenta não nos dá sequer dois meses de estado de graça”, ao notar que o conflito militar "acrescenta um enormíssimo fator de incerteza às nossas vidas, à nossa economia familiar, à saúde das nossas empresas e os nossos empregos”,
Porém, Costa deixou uma garantia: “Se conseguimos em 2015 recuperar da austeridade e em 2020 responder à pandemia, agora, em 2022, vamos saber enfrentar os impactos da guerra e prosseguir a nossa trajetória de crescimento e desenvolvimento”.
“Podíamos olhar para a tormenta e ficar em terra, mas não é isso que os portugueses esperam de nós”, frisou o líder do Executivo, que disse ainda que os portugueses reconhecem este Governo como um que “resolve problemas e cria oportunidades”, querendo “que trabalhe afincadamente, já a partir de hoje”.
“Os portugueses exigem que recuperemos o tempo perdido com uma crise política que não desejavam”, assinalou o primeiro-ministro, que começou imediatamente a enumerar as prioridades do novo Governo socialista: responder à emergência climática; assegurar a transição digital; contrariar o inverno demográfico, e combater as desigualdades.
“As circunstâncias mudaram, a conjuntura é adversa, mas não desistimos dos objetivos a que nos propusemos”, vincou Costa, ao anunciar que amanhã será já aprovado em Conselho de Ministros o programa do Governo.
Quanto ao Orçamento do Estado para este ano, António Costa disse que já há uma proposta pronta, que assume com objetivo o "aumento extraordinário de pensões com efeitos retroativos, a redução do IRS para a classe média ou o início da gratuitidade das creches”.
O primeiro-ministro disse que a "marca" de Portugal é a "modernização com solidariedade social”, frisando que hoje o país "tem hoje as condições de que nunca dispôs para virar a página para um novo ciclo de desenvolvimento sustentável e inclusivo”, uma vez que vai beneficiar de “condições únicas” nos anos que aí vêm para “romper definitivamente com um modelo de desenvolvimento assente em baixos salários”.
Depois de Marcelo, no seu discurso, reiterar que a maioria absoluta não é um sinónimo de poder absoluto, Costa sublinhou que a vitória esmagadora do PS "não significa poder absoluto. Pelo contrário, a maioria absoluta corresponde a uma responsabilidade absoluta para quem governa”, vincou, ao prometer "uma maioria de diálogo parlamentar, político e social", visto que “as eleições alteraram a composição da Assembleia da República, mas não alteraram a Constituição”.
“Virámos a página da austeridade. Estamos a virar a página da pandemia. Vamos virar a página da guerra”, afirmou o primeiro-ministro no fim da sua intervenção, indicando que esta "nova etapa" vem com uma “renovada energia, determinação e entusiasmo”.