O Chega vai apresentar uma moção de rejeição do programa do Governo, mas o objetivo do partido é fazer um teste ao nível de oposição que os sociais-democratas e os liberais estão dispostos a fazer aos socialistas. Numa conferência de imprensa na terça-feira à tarde, André Ventura adiantou que o documento procura mostrar aos portugueses que o partido “não pactua” com o programa do Executivo, tendo também em vista “clarificar as posições que a Iniciativa Liberal e o PSD vão ter ao longo da próxima legislatura”.
A iniciativa do Chega será votada na sexta-feira à tarde, depois de o programa do Governo ser discutido na Assembleia da República, mas tendo em conta a atual maioria absoluta do PS, qualquer moção de rejeição terá apenas uma leitura política, sem fazer mossa na atual gestão do país.
É precisamente isso que o Chega pretende: chegar a uma “noção perfeita e clara de quem está na oposição ao PS e quem está disposto a apoiar este Governo do PS”. Considerando que o documento do Executivo é “propaganda eleitoral” e o “mais vago dos últimos 25 anos”, o líder do partido realçou que o programa “é o oposto daquilo que o PSD e a IL, de formas diferenciadas, propuseram nos seus programas ” pelo que espera que os dois partidos “não cedam à tentação, que é sempre grande, de se encostarem ao poder”.
André Ventura frisou que a moção de rejeição da sua bancada parlamentar terá sobretudo um “caráter simbólico”, para “reposicionar a direita e a oposição” e, nesse sentido, “será importante perceber como é que poderão votar PSD e Iniciativa Liberal” face à iniciativa apresentada pelo Chega.
“Se o PSD votar contra a nossa moção se rejeição, não pode daqui a três ou quatro meses vir criticar a governação socialista dizendo que não sabia o que esperava. Sabia exatamente o que era e, aliás, viabilizou”, avisou, dirigindo-se diretamente aos sociais-democratas.
Ventura considerou haver uma “gritante inadaptação” do programa do Governo ao cenário de guerra na Ucrânia e acusou o Executivo de se refugiar em conceitos abstratos.
“É o programa mais vago dos últimos 25 anos, em que é difícil escrutinar uma medida concreta. Digitalização, modernização, abertura, recuperação pós-covid: conceitos vagos e indeterminados que não permitem o escrutínio por parte deste parlamento do programa do Governo”, criticou.
Qualificando o documento do executivo como “propaganda eleitoral”, o deputado do Chega referiu ainda que “quer o programa de Governo, quer a orgânica de Governo que foi apresentado ao senhor Presidente da República, esquecem a economia, a produção e esquecem o turismo, áreas que são fundamentais para a recuperação económica e desenvolvimento, sobretudo num contexto pós-covid”.
“Este programa de Governo tudo ignora, sem sequer recentrar as prioridades na recuperação de setores estratégicos, afetados precisamente por uma guerra na Europa que o próprio primeiro-ministro e Presidente da República dizem que pode ser longa. (…) Parece incrível que um programa não se redirecione precisamente para onde se situam esses problemas”, disse, destacando que o Governo vai concentrar-se no Estado em vez de promover a iniciativa privada.
É esta “ gritante inadaptação, altivez, e arrogância do Governo” que levam o Chega a apresentar a moção de rejeição, justificou ainda André Ventura.
Voto de pesar por mortes em Bucha O Chega anunciou também ter submetido, nos serviços da Assembleia da República, um voto de pesar “pelas mortes de civis ocorridas na cidade de Bucha”.
Transmitindo “sentidas condolências a todo o povo ucraniano”, após as imagens que foram divulgadas no passado domingo “mostrando dezenas de cadáveres nas ruas ou enterrados em valas comuns”, o partido considera que esses testemunhos são “prova inequívoca de tortura e de execuções sumárias de civis inocentes”.
“Tais mortes – que são de um grau de violência e barbárie – foram causadas em retaliação pela retomada das localidades à volta de Kiev pelas forças ucranianas, muito embora a Rússia tenha negado que as suas tropas tenham matado civis”, condenam no documento.
Os deputados do Chega que subscrevem o voto de pesar, defendem que “a dimensão desta fatalidade torna evidente que estão em causa crimes de guerra, tendo os seus responsáveis de ser levados à justiça e devidamente punidos pela lei internacional”.