Ainda decorria a conferência de líderes e o PAN já dava como certa uma unanimidade parlamentar para aprovar a realização de uma sessão solene com o Presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, por videoconferência. Mas no fim da sessão Maria da Luz Rosinha viria a desmentir a informação.
Na verdade, a aprovação do requerimento – apresentado ainda na anterior legislatura por iniciativa do PAN – , “não foi consensual, foi por maioria”, confirmou a porta-voz da conferência de líderes. O PAN alegou que “não ficou clara a posição inicial do PCP” e lamentou o erro.
A videochamada com Zelensky, que deverá acontecer entre os dias 18 e 22 de abril, mediante a disponibilidade do chefe de Estado ucraniano, recebeu luz verde, mas não sem a oposição do PCP.
Perante os jornalistas, a líder parlamentar comunista justificou que “a Assembleia da República, enquanto órgão de soberania, deve ter um papel de não contribuir para a escalada da guerra, a confrontação, conflito e corrida ao armamento”, acrescentando que o Parlamento deve assumir um “papel em defesa da paz”. Segundo Paula Santos, no entender do PCP, a proposta feita pelo PAN “não promove a paz”, daí o partido não ter acompanhado a proposta.
Mais uma vez, os comunistas destoaram dos restantes parlamentares sobre a invasão russa da Ucrânia, já depois de não a reconhecerem como tal e terem até acusado o Governo e a União Europeia de estarem a alimentar a “confrontação” com a Rússia, através do reforço da presença na NATO.
Gregos ausentes Os comunistas portugueses não foram, no entanto, os únicos a boicotar a tournée virtual do presidente ucraniano pelos parlamentos europeus (e não só, Zelensky também compareceu no parlamento canadiano, israelita e no Congresso norte-americano).
Na Grécia, o chefe de Estado ucraniano vai falar no Parlamento helénico, a convite do primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis. Todos os 300 parlamentares desse país foram convidados a assistir ao discurso de Zelensky, mas nem todos vão comparecer. O Partido Comunista Grego (KKE, na sigla em grego) avisou já que não estará presente durante a ligação com o presidente ucraniano, acusando-o de representar um “Governo reacionário, apoiado pelo campo EUA-NATO-UE”, que, diz, “ser responsável, tal como a Rússia, pelo drama do povo ucraniano”.
De acordo com o KEE, “durante anos, este Governo apoiou e integrou organizações nazis, perseguiu e prendeu comunistas e baniu o Partido Comunista da Ucrânia”, garantindo ainda: “A nossa postura é óbvia e faríamos o mesmo se convidassem Putin ou Biden”.
Mas as ‘negas’ dadas a Zelensky não vêm só dos partidos da esquerda europeia. À direita, há quem também se negue a ouvir o líder ucraniano nos seus parlamentos. A Solução Grega, partido de extrema-direita, também expressou objeções ao discurso de Zelensky no parlamento, acusando o primeiro-ministro de o ter convidado “sem informar os líderes políticos, como de costume”.
“O Parlamento, que é pouco visitado tanto pelo primeiro-ministro como pelos seus ministros e alguns líderes políticos, aguarda ansiosamente as explicações de Zelensky para o forte acordo de defesa que assinou com a Turquia muito antes da guerra, que é dirigido contra os interesses gregos e contra a nossa segurança nacional”, disse. A Solução Grega pôs em causa as posições do parlamento grego quanto ao comportamento do Estado ucraniano em relação à minoria nacional grega que vive principalmente na região de Donetsk, sobretudo em Mariupol, e que alegadamente foi proibida de usar a língua grega, considerada “uma língua inimiga”.
Da esquerda à direita Em Itália, os partidos à esquerda e à direita opuseram-se ao convite a Zelensky, que culminou numa videochamada transmitida no Parlamento italiano a 22 de março. Pelo menos 20 políticos, no entanto, decidiram não participar na sessão. Um deles foi Gianluigi Paragone, dissidente do Movimento 5 Estrelas (M5S, na sigla em italiano) e líder do partido nacionalista eurocético Italexit, que argumentou: “Já ouvimos a missa de Zelensky e se fizéssemos o que queria, isso levar-nos-ia diretamente para a guerra na Europa.”
No boicote alinharam também alguns membros do partido Alternativa, muitos deles dissidentes do M5S, por acreditarem que se trata de uma “mera operação de marketing que não ajudará a travar as hostilidades”. Pelo contrário, os deputados pediram a Roma que faça mais por promover diálogos da paz, criticando o parlamento italiano por ter aprovado o envio de armas para a Ucrânia.
A estes juntaram-se Veronica Ginnanoe, do Forza Italia, e Vito Comencini, da Liga Norte, partido político da extrema-direita. Já o líder desse mesmo partido, Matteo Salvini, que foi abordado na fronteira polaco-ucraniana por um autarca que trazia uma t-shirt pró-Putin, semelhante àquela que Salvini vestiu, uma vez, na Praça Vermelha, marcou presença.
Ainda à direita, mas em França, Marine Le Pen, cujo partido tem alegadas ligações com o regime de Vladimir Putin, disse inicialmente não achar que seria necessário mostrar o seu apoio a Zelensky. Na altura, justificou que tinha “compromissos” para faltar ao discurso do presidente ucraniano no parlamento francês. Confrontada com a pressão dos media e da sua oposição, no entanto, Le Pen acabou por assistir à sessão.